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DIA A DIA

Bovespa tem dia histórico com ganho de 9,57% e dólar despenca
19/09/2008 - Epaminondas Neto - Folha Online

O pacote do governo americano para enfrentar a crise de crédito salvou o que prometia ser uma semana ¨maldita¨ para o mercado financeiro mundial. Acompanhando o entusiasmo nas Bolsas internacionais, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) teve sua maior valorização num só dia desde janeiro de 1999, quase anulando as perdas do mês. O câmbio despencou mais de 5%.

¨Não acredito que foi uma reação exacerbada [do mercado]. Quando os grandes players internacionais saíram da Bolsa, algumas ações líderes ficaram muito baratas. E quando a Bolsa de Londres sobe 8,8%, a de Paris, 9,3%, é até natural a gente subir quase 10%¨, avalia Romeu Vidali, gerente de renda variável da corretora Concórdia, no Rio. ¨E hoje, os EUA mostraram uma atitude concreta para resolver uma crise que estava travando mercado no mundo todo.¨

O termômetro dos negócios da Bolsa, o Ibovespa, avançou 9,57% no fechamento e atingiu os 53.055 pontos. O giro financeiro foi alto, de R$ 7,67 bilhões, ante uma média de R$ 5 bilhões/dia deste ano. No entanto, mesmo com ganhos de hoje, a Bolsa ainda amarga perdas de 4,7% no mês. No ano, a baixa é de 16,95%.


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Os investidores voltaram às compras focando principalmente nas chamadas ¨blue-chips¨, as ações líderes do mercado acionário: a ação preferencial da Petrobras disparou 8,63%, girando sozinha R$ 1,2 bilhão. A ordinária valorizou 9,10%. A ação preferencial da Vale do Rio Doce, outro papel influente da Bolsa, teve alta de 6,47%.

O dólar comercial foi cotado a R$ 1,831 na venda, em declínio de 5,12%. A taxa de risco-país recuou quase 15%, para os 278 pontos.

¨Foi uma somatória de boas notícias. Ontem, aquela iniciativa dos seis bancos centrais trouxe bastante otimismo para o mercado. Hoje, teve o leilão do Banco Central¨, comenta Cristiano Zanuzo, diretor de câmbio da corretora Renova.

Segundo operadores, os leilões de venda de dólares realizados hoje também foram importantes para acalmar o mercado de câmbio num dia bastante turbulento, em que o preço da moeda teve um tombo histórico.

A Bolsa de Nova York, referência global do mercado de ações, teve ganho de 3,35%, enquanto a Bolsa eletrônica Nasdaq ascendeu 3,40%.

Na Europa, a expectativa do setor financeiro impulsionou as principais Bolsas de Valores do continente. Em Londres, o índice de referência FTSE encerrou o pregão 9,32% mais alto; em Paris, o Cac subiu 9,27%, enquanto o índice do mercado alemão Dax teve acréscimo de 5,56%.

Calmante

O mercado recebeu com euforia a confirmação do Tesouro dos EUA de que vai usar, se necessário, ¨centenas de bilhões de dólares¨ para deter desdobramentos ainda piores da crise dos créditos ¨subprime¨. Uma das medidas mais prováveis é a criação de um fundo para absorver os créditos mais problemáticos gerados ao longo da crise.

Mesmo sem maiores detalhes, analistas aprovaram a intenção do governo americano, qualificada de ¨atitude prática¨ para enfrentar a crise que ameaçava os sistemas financeiros das economias centrais, com repercussões sobre as economias emergentes.

¨É difícil saber como o mercado vai abrir na segunda-feira. Vai depender do que for divulgado neste final de semana sobre o pacote dos EUA¨, avalia Romeu Vidali, da Concórdia.

As promessas de Paulson

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, disse hoje que o governo americano gastará ¨centenas de bilhões de dólares¨ para responder à crise financeira. Paulson disse que o governo aumentará a intervenção no mercado imobiliário, que considera a raiz dos problemas financeiros dos Estados Unidos, além de outras medidas.

A medida foi bem vista por analistas do setor financeiro, que já contavam com algumas medidas mais drásticas das autoridades americanas para fazer frente à crise. Quando o Federal Reserve (o banco central americano) não impediu que o banco Lehman Brothers quebrasse, muitos disseram que o Fed tinha ¨jogado a toalha¨.

O anúncio de ontem foi na direção contrária desse sentimento e bateu de frente com a corrente dos ¨pessimistas¨, que não acreditam na capacidade dos bancos centrais, e demais órgãos das economias centrais, para enfrentar os problemas gerados pelos ¨subprimes¨.

Semana de turbulências

A tensão acerca da crise nos EUA voltou ao foco no início deste mês, foi anunciado um pacote de US$ 200 bilhões em ajuda à Fannie Mae e à Freddie Mac, que corriam o risco de quebrar.

Nesta semana, em mais um capítulo, o banco de investimentos Lehman Brothers pediu concordata, devido à falta de crédito junto a outras instituições bancárias e à recusa do governo em destinar recursos para reforçar seu caixa. Além disso, o Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America e a seguradora AIG recebeu ajuda de US$ 85 bilhões do Fed. Tal seqüência de eventos deixou os investidores assustados durante toda a semana.

Já as situações do banco de poupança e investimentos (´savings & loans´) Washington Mutual e do banco de investimentos Morgan Stanley são acompanhadas com atenção. O primeiro teria sido objeto de consultas da parte do governo a outras instituições financeiras sobre uma eventual aquisição; o segundo estaria buscando um comprador, e o Wachovia já teria manifestado algum interesse, além do Citigroup e do HSBC.

Assim, o temor de falta de dinheiro para cobrir buracos afetou ainda mais a liquidez do mercado, que se viu sem crédito disponível. Por conta disso, os seis principais bancos centrais do mundo anunciaram nesta semana uma ação coordenada para enfrentar, além das ações pontuais já realizadas. O BoJ (Banco Central do Japão), o Fed (EUA), o BCE (Banco Central Europeu), o BoE (Reino Unido), o SNB (Suíça) e o Banco do Canadá injetaram na economia mais de US$ 200 bilhões.

  

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