Amorim nega venda de posição em Doha para beneficiar etanol 26/09/2008
- Nalu Fernandes e Tânia Monteiro - Agência Estado
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que o governo brasileiro não tem nada a flexibilizar em relação à Rodada Doha, e mostrou-se otimista em relação à possibilidade de as negociações prosseguirem e serem concluídas, embora não possa prever quando.
Amorim, que continua em Nova Iorque participando de diversas reuniões bilaterais e almoçou com os representantes dos BRICs (Russia, Índia e China, além de Brasil), rechaçou informações publicadas de que o governo da Índia remeteu ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, uma carta na qual insinua que o Brasil estaria vendendo sua posição nas negociações da Rodada Doha em troca de acesso aos mercados americanos e europeus para o etanol, produto que é o carro chefe da política comercial do País.
¨Não há o que o Brasil possa flexibilizar, isso é uma visão incorreta. O que o Brasil pode fazer neste momento é ajudar a encontrar uma solução¨, desabafou o ministro. E explicou: ¨o problema que ocorreu foi entre certos países, de um lado, entre eles a Índia, que talvez seja o mais militante deles, e também a China, e os Estados Unidos do outro¨.
PUBLICIDADE
Segundo Amorim, o que o Brasil quer é que se chegue a um acordo. ¨O que o Brasil tinha de flexibilizar já flexibilizou. Havia uma demanda em relação a produtos industriais e o Brasil negociou, dentro do que era possível e aceitável, pela indústria brasileira. Agora, não há o que o Brasil possa flexibilizar. O que o Brasil pode fazer neste momento é ajudar a encontrar uma solução¨.
Amorim acrescentou que ¨não é o Brasil que tem de flexibilizar¨. Para ele, a questão das salvaguardas especiais para produtos agrícolas em países em desenvolvimento é um ponto sobre o qual o G-20 nunca chegou a um acordo preciso. E insistiu: ¨então não há o que flexibilizar¨.
Questionado sobre a possibilidade de flexibilizar em relação aos subsídios, em troca de mercado para os biocombustíveis nos Estados Unidos e Europa, o ministro respondeu: ¨não tem o que flexibilizar. Nós vamos discutir e, ao discutir as coisas são reabertas e esta questão que está mencionada ainda não foi discutida¨. O ministro Amorim disse ainda que no encontro que teria com os integrantes dos BRICs, que inclui a Índia, não iria tratar deste assunto, nem apresentar nenhuma queixa.
¨Rodada não morreu¨
O ministro demonstrou otimismo em relação à retomada das negociações para a rodada Doha, de livre comércio. ¨Em sempre disse que Doha nunca morreu. A questão toda é saber o tempo que vamos levar¨, afirmou.
Segundo ele, ¨se a negociação avançar ainda este ano, com um acordo de modalidade, a próxima administração americana, qualquer que seja, já vai ter algum modelo pronto com apoio de muitos países que será difícil ser alterado¨.
Amorim lamentou que, se não for fechado um acordo logo, e demorar mais dois ou três anos, as pessoas vão continuar morrendo enquanto as negociações não caminham. ¨Enquanto isso, pessoas morrem de fome na África, produtores de algodão continuarão a enfrentando grandes subsídios norte-americanos, e a Índia não vai dispor do mecanismo que ela quer criar, que hoje não existe¨, disse.