Crise financeira dificulta crédito ao exportador 01/10/2008
- Fernando Nakagawa - Agência Estado
A crise financeira internacional está secando a fonte do crédito para os exportadores brasileiros. Dados do Banco Central mostram que os empréstimos para as empresas que vendem ao exterior estão mais difíceis, com juros maiores e prazos menores. A combinação faz com que bancos emprestem cada vez menos.
Conforme números de agosto, o volume de empréstimos concedido às empresas que precisam financiar a exportação diminuiu 6,6% na comparação com julho. Em 12 meses, o valor tem tombo maior, de 19,6%. Segundo o BC, exportadores tomaram emprestados US$ 6,7 bilhões para o financiamento das vendas a outros países.
O valor é 32,5% menor que o visto no auge recente na concessão dessa linha de crédito, em abril de 2007. Naquele mês - pouco antes de a crise imobiliária estourar nos Estados Unidos - foram tomados US$ 10,058 bilhões. Não existem dados consolidados para setembro, mas as informações do mercado são de que a situação piorou, com o agravamento da crise.
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Todos esses dados se referem ao chamado Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). Essa linha de crédito é usada para financiar a produção de boa parte das empresas que vendem ao exterior. Quando uma companhia fecha uma exportação, vai ao banco, toma os recursos emprestados e, com esse dinheiro, compra a matéria-prima e paga a produção. O financiamento é quitado quando a empresa recebe o pagamento do cliente estrangeiro e repassa o dinheiro à instituição financeira.
Os contratos são vinculados à cotação do dólar e boa parte dos recursos para essas linhas são obtidos pelos bancos brasileiros junto a instituições estrangeiras. Com a crise, que disseminou a desconfiança pelo sistema financeiro mundial, essas linhas externas se reduziram drasticamente: os recursos que eram emprestados para os bancos brasileiros migram para opções consideradas mais seguras, como os papéis do governo dos Estados Unidos.
Além de reduzir o volume de novos empréstimos, a crise também encareceu as operações.
Segundo o BC, o juro médio desses contratos subiu de 17,1% ao ano, em julho, para 17,4%, no mês passado. A taxa praticada em agosto é 6,3 pontos porcentuais maior que a vista há 12 meses, quando estava em 11,1%.
O ex-secretário de Política Econômica e diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, Júlio Gomes de Almeida, diz que a situação tem obrigado o exportador a procurar alternativas. ¨O quadro vai aumentar o custo dos empréstimos. Isso deverá ser repassado às exportações ou pode deixar algumas empresas sem o crédito. No limite, vai prejudicar a competitividade das nossas exportações¨, diz.
Além de mais difícil e caro, o prazo das operações de ACC caiu. Em agosto, o estoque dos empréstimos para exportação tinha, na média, 130 dias, número que tem oscilado pouco nas últimas semanas. Há poucos meses, em abril, o prazo era maior: estava em 141 dias.