Juro de ACC para exportador de commodities sobe e afeta negócios 01/10/2008
- Roberto Samora - Reuters
Os exportadores de commodities agrícolas do Brasil viram os juros das operações de crédito atreladas ao fechamento de câmbio (ACC) darem um salto desde que a crise financeira global se acentuou, e isso tem atrapalhado os negócios e diminuído o apetite exportador, disseram executivos de tradings.
¨Os juros que antes pagávamos para fazer ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio)... eram de 4,5 por cento. Na semana passada, teve um banco que falou... ´vocês têm que pagar 14,5 por cento ao ano´...¨, disse nesta terça-feira um exportador de café, que pediu para não ser identificado.
Além disso, afirmou a fonte, antes o prazo de pagamento do ACC era de seis meses, e agora os bancos estão querendo um prazo maior, de 360 dias, o que torna menos interessante a operação.
PUBLICIDADE
¨Com isso, mandamos o banco procurar outro cliente mais desesperado, que não é o nosso caso¨, acrescentou o trader.
A fonte observou que, com a ¨torneira financeira fechando¨, os bancos ¨estão com a faca e o queijo na mão¨.
¨Em incerteza financeira, os bancos sabem que a gente precisa do dinheiro para comprar o café, para honrar compromissos. Então eles apertam os juros demasiadamente para aumentar o lucro deles...¨, concluiu.
Procurada, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) informou que iria encaminhar o teor das reclamações para análise por um diretor e eventualmente se pronunciaria.
Um segundo exportador de commodities agrícolas, que também quis ficar no anonimato, destacou que na medida em que essas linhas de captação ficam mais caras, diminui ¨muito o apetite em ter mais ACC¨ e o interesse de exportar também cai.
¨Se você coloca na conta lá que exporta a 7 por cento (juros da operação), e agora tem que pagar 14 por cento... duplica o seu custo. Se a operação já era pouco rentável, agora está ainda mais difícil fazer isso¨, declarou.
Para um setor de commodities cujos preços não estiveram tão atraentes ao longo do ano, como o de açúcar, a falta de crédito para a exportação é um ingrediente negativo adicional.
¨A oferta de crédito está ruim, difícil. Os bancos estão muito reticentes desde o início desta safra, e a situação de crédito vem piorando...¨, apontou Júlio Maria Borges, diretor da consultoria Job Economia.
Ele notou ainda que as tradings, para operações de pré-pagamento, também ficaram sem recursos.
¨O crédito secou para tudo. Não tem linha de crédito há uma semana. O que tem é em reais, mas num custo bem mais alto que um e dois meses atrás¨, acrescentou um dono de usina de cana, que também preferiu ficar anônimo.
Embora ainda não tenha definido, o governo anunciou na segunda-feira que vem trabalhando em um plano para melhorar a oferta de crédito ao exportador.
As exportações do agronegócio respondem pela maior parte do superávit comercial do Brasil.
IMPORTADOR TAMBÉM SOFRE
A segunda fonte observou ainda que, em meio à turbulência global, também os importadores --americanos e europeus com linhas de crédito nos EUA ou na Europa-- também sofrem, o que afeta o negócio do lado da demanda.
¨Os únicos do mercado que estão mais alheios à crise são aqueles que têm capital direto asiático, grupos dessa parte do mundo que estão segurando bem... O japonês ele não precisa tomar dinheiro na Europa, ele toma no Japão.¨
O nervosismo financeiro também afeta a precificação das commodities, o que eleva a cautela na realização dos negócios.
Para minimizar o impacto do crédito mais caro, disse a primeira fonte, o jeito é ser mais ¨seletivo¨ nas negociações. Além disso, o operador tem que ser muito preciso quanto ao momento de fechar uma operação, em um ambiente de elevada volatilidade, o que torna o trabalho mais estressante.