BB poderá ofertar mais crédito agrícola se necessário 02/10/2008
- Roberto Samora - Reuters
O Banco do Brasil, que responde por mais de 50 por cento do crédito agrícola concedido pelas instituições financeiras do país, avalia que até o momento tem conseguido atender à demanda de seus tradicionais tomadores, mesmo diante da maior procura em um ambiente de crise internacional e de financiamentos escassos para o setor.
Mas o vice-presidente de Agronegócios do BB, o ex-ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto, admitiu em entrevista à Reuters a possibilidade de buscar mais dinheiro junto ao governo se for necessário.
¨Se por acaso vier a faltar recurso, é claro que o Banco do Brasil vai negociar com as autoridades do Ministério da Fazenda a viabilidade de recursos adicionais. Mas, por enquanto, eu diria que até o final do ano vamos operar normalmente¨, destacou Guedes.
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E se for necessário, a Fazenda deverá atender tal pedido do BB, pelo menos levando em conta afirmação do ministro Guido Mantega, que disse a jornalistas nesta quarta-feira que o governo garantirá crédito para a economia.
Guedes afirmou ainda que, embora o BB esteja atendendo os produtores que se enquadram nas regras do banco, a falta de crédito é sentida no mercado especialmente pela restrição por parte das tradings, que costumam financiar entre 20 e 30 por cento do custo da safra nacional --alguns grandes produtores costumam depender mais do financiamento privado do que do BB.
¨O que está acontecendo é que outras fontes secaram¨, salientou, observando que o sistema financeiro normalmente responde por cerca de 40 por cento do financiamento dos custos do setor, enquanto os produtores arcam com o restante.
O BB prevê ampliar em 30 por cento a oferta de crédito na safra 2008/09, para 30 bilhões de reais --tudo isso a juros controlados de 6,75 por cento ao ano. Até meados de setembro, o banco já emprestou 6,7 bilhões de reais aos agricultores, alta de 34 por cento ante 2007/08.
¨As tradings tinham uma presença muito importante, então há a sensação de falta de crédito. De fato há uma redução global, mas o Banco do Brasil ampliou o seu financiamento¨, salientou.
O ex-ministro explicou ainda que a crise se dá em um momento em que houve um aumento de custo de produção, que resulta numa maior necessidade de recursos, e também de preços atrativos, o que também eleva a demanda de financiamento, pois muitos produtores queram colher mais para tirar proveito dos preços das commodities historicamente elevados.
De outro lado, observou o vice-presidente do BB, há, além da baixa oferta de recursos pelas tradings, uma redução dos depósitos à vista (uma das fontes de financiamento da agricultura para os bancos) com o fim da CPMF e o efeito da renegociação das antigas dívidas, que chegou a 75 bilhões de reais no pacote governamental anunciado em maio.
¨Com as renegociações, muito dinheiro que deveria voltar para o sistema financeiro não voltou. Toda vez que tem uma renegociação e se prorroga um pagamento, você agrava o risco da operação¨, acrescentou ele, lembrando que as instituições, assim, são obrigadas a reter mais dinheiro como provisão para crédito de liquidação duvidosa, o que acaba tendo um efeito na oferta de financiamentos.
¨Prorrogar a operação é ruim para todo mundo, inclusive para o produtor¨, destacou ele, ponderando que o governo tinha consciência dessa situação, quando determinou que o BB elevasse a oferta de crédito para 08/09.
SAFRA BOA
Questionado sobre afirmações de parlamentares que reclamam da falta de crédito e do impacto na safra, o vice-presidente do BB afirmou que isso ¨é normal¨ e ¨faz parte do jogo das lideranças ligadas ao setor agrícola¨.
¨O que muitos produtores estão reclamando é que, com a renegociação, se foi em crédito em investimento, ele não pode tomar novo crédito, mas isso faz parte da norma.¨
Segundo Guedes, mesmo em meio às dificuldades, com base nas informações obtidas nas agências da instituição, ¨a nossa avaliação é que a safra está correndo bem¨.
¨Os plantios estão ocorrendo dentro da expectativa, porque tem gente alardeando que vai reduzir a área plantada, que vai cair a safra...¨, completou o ex-ministro, com cerca de 40 anos de experiência no setor, duvidando até de uma eventual queda na produtividade por eventual redução nos investimentos.
¨Eu acho que não, a nossa avaliação é de que, em algumas culturas, por exemplo, algodão, os preços estão menos atrativos... mas em compensação deve aumentar a área de soja, na Bahia, em Mato Grosso.¨