Os mercados não resistiram à combinação de temor pela economia dos EUA com a espera pela votação do pacote anticrise na Câmara dos Representantes (deputados). Em outro dia dramático, as Bolsas de Valores caíram da Ásia à Europa. No epicentro da crise, a Bolsa de Nova York despencou, arrastando a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). O câmbio superou os R$ 2, em sua maior cotação dos últimos 13 meses.

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No pior momento do dia, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) chegou a despencar mais de 9%, sem compradores à vista no pregão. Próximo ao horário de fechamento, no entanto, o mercado tomou um pouco de fôlego e recuperou parte das perdas.

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No fechamento, o índice Ibovespa atingiu os 46.145 pontos, em um decréscimo de 7,34%. O giro financeiro foi de R$ 5,55 bilhões, ainda considerado fraco. E nos EUA, a Bolsa de Nova York, que tem repercussão global, sofreu retração de 3,22%.

¨O mercado está muito pessimista e vendo dificuldades para a aprovação desse pacote na Câmara. O comentário geral é de que os deputados querem fazer mudanças no projeto, o que atrasaria ainda mais a aprovação¨, comenta Ivanor Torres, analista da corretora Geral. ¨Como a expectativa é de que o projeto seja votado no mesmo horário [do Senado], amanhã vai ser um dia de espera também, bastante nervoso¨, acrescenta.

As ações líderes da Bolsa brasileira, Vale e Petrobras, amargam perdas quase inimagináveis há um mês: a ação preferencial da petrolífera, com volume de R$ 831 milhões, teve queda de 8,16%, enquanto o papel da mineradora, com giro de R$ 746 milhões, cedeu 10,09%.

Em meio à forte especulação, o dólar comercial atingiu R$ 2,023 na venda, numa disparada de 5,09% sobre a cotação de ontem. A taxa de risco-país marca 342 pontos, número 4,26% mais alto que a pontuação anterior.

Operadores estão pessimistas com as perspectivas do mercado para o restante do ano. ¨Essa volatilidade não deve terminar tão cedo. Provavelmente, o mercado não deve melhorar até 2009, depois que o presidente dos EUA mudar¨, avalia Mauro Araújo, diretor da corretora de câmbio Vision. Para o corretor, a cotação subiu rápido demais e pode voltar abaixo de R$ 1,90, assim que o mercado estiver mais calmo.

Analistas e operadores afirmam ainda que o ambiente no câmbio está altamente especulativo, num momento de dificuldades no acesso a crédito externo. O Banco Central, por enquanto, tem se mantido fora do mercado, sem retomar os habituais leilões de moeda.

Hoje, o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) negou que haja falta de crédito para o comércio externo e afirmou que o governo deve tomar medidas para evitar o problema, se considerar necessário. ¨Até agora não recebi nenhum telefonema pedindo que fosse feito um ACC [contratos de financiamento de exportações] especial de qualquer empresa¨, disse ele. ¨Não haverá nenhum problema de crédito para os ACCs¨.

Turbulências

Pela manhã, as Bolsas asiáticas já sinalizavam o desânimo dos investidores com as perspectivas da economia americana. A aprovação do pacote anticrise no Senado, na noite de ontem, praticamente não teve efeito sobre os mercados do outro lado do planeta, que fecharam em sua maioria com desvalorização. Na Europa, as principais Bolsas também não concluíram o expediente com desempenho melhor. Em Londres, as ações retraíram 1,80% (pelo índice FTSE), enquanto em Frankfurt, a Bolsa local recuou 2,51%.

A Câmara dos Representantes deve votar amanhã o projeto de lei baseado no pacote anticrise de US$ 700 bilhões proposto pela Casa Branca. Sobre isso, a presidente da Casa, a democrata Nancy Pelosi, porém, disse que não irá marcar a votação do projeto se não tiver certeza haver votos suficientes para garantir a aprovação.

A demora alimenta o mau humor dos investidores, que ainda digerem novas más notícias da ¨economia real¨ (setor produtivo e consumo) nos EUA: a queda na demanda por bens industriais e a deterioração do mercado de trabalho.

Hoje, o Departamento de Trabalho dos EUA revelou que a demanda pelos benefícios do auxílio-desemprego atingiu seu maior patamar desde 2001. Foram 497 mil pedidos registrados na semana encerrada no dia 27 de setembro, um acréscimo de mil solicitações sobre o período imediatamente anterior.

Já o Departamento de Comércio comunicou que as encomendas às indústrias registraram a pior queda nos últimos dois anos: um declínio de 4% em agosto ante um incremento de 0,7% em julho.

Também em relatório divulgado hoje, o FMI (Fundo Monetário Internacional) reconheceu que a turbulência financeira do ano passado derivou para um ¨crise intensa¨, envolvendo outros segmentos do mercado e os sistemas bancários de outros países. Segundo o Fundo, a ¨reviravolta da conjuntura dos EUA pode ser mais violenta e pode evoluir para uma recessão¨.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou hoje que o financiamento para os pequenos negócios no país está praticamente congelado e que é necessário que a Câmara de Representantes (deputados) aprove o pacote de resgate econômico.

Na noite desta quarta-feira o Senado aprovou, por 74 votos a 25, uma nova versão do plano de ajuda de US$ 700 bilhões, ampliando o custo do projeto para US$ 850 bilhões ao incluir um corte de impostos de US$ 150 bilhões para os contribuintes.

O projeto rejeitado na Câmara na última segunda-feira recebeu várias emendas. Além dos US$ 150 bilhões, foi incluída a ampliação das garantias do governo a depósitos bancários dos cidadãos, dos atuais US$ 100 mil para US$ 250 mil.

O teor geral do plano contempla tanto as principais exigências do secretário do Tesouro, Henry Paulson, quanto as principais críticas dos legisladores americanos ao teor do pacote, críticas essas que fizeram as negociações se arrastarem.

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