Governo estuda mais crédito para a agricultura 06/10/2008
- Adriana Fernandes e Fabiola Salvador - Agência Estado
Mesmo com a liberação dos compulsórios dos bancos e a antecipação de R$ 5 bilhões para o crédito agrícola, o governo não quer ser se surpreendido no ano que vem com a falta de recursos para o setor de agronegócios. Depois de conversas com representantes dos bancos privados, federais e das grandes empresas de ¨trading¨ do setor, a equipe técnica do Ministério da Fazenda preparou uma série de medidas que poderão ser adotadas ao longo dos próximos meses para facilitar a irrigação de recursos para os produtores e exportadores de commodities agrícolas e evitar que a próxima safra seja menor por conta da crise de liquidez internacional.
O governo não quer antecipar um quadro de crise no País, mas a avaliação é que as medidas já tomadas não serão suficientes para manter o crédito irrigado e outras terão que ser adotadas até o próximo ano. São ações pontuais que serão implementadas aos poucos, à medida que for identificada a necessidade, informou uma fonte do governo.
Com a diminuição da oferta de financiamento dos bancos estrangeiros (muitos deles atuavam em nichos de negócios) e das tradings, tem sido prioridade da equipe econômica encontrar novas ¨janelas¨ de crédito porque o temor é com o risco de prejuízos de uma redução da safra para a balança comercial.
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Uma produção menor do que a esperada de alimentos também poderá ter efeitos perversos para o controle da inflação. Mas uma preocupação também com medidas açodadas. ¨Não podemos tomar medidas imediatistas sem uma avaliação precisa do quadro¨, disse uma do Ministério da Fazenda. ¨Estamos monitorando de forma efetiva para evitar que faltem recursos para os produtores. Está tudo sob controle¨, acrescentou.
Medidas em estudo
Na quinta-feira passada, algumas das maiores tradings - empresas multinacionais que financiam a safra por meio de compras antecipadas - foram chamadas para reuniões no Ministério da Fazenda. Representantes do Banco Central e o dos Ministérios da Fazenda e da Agricultura também se reuniram, em São Paulo, com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para avaliar o quadro do crédito e ações emergenciais.
Nas conversas, as tradings lembraram ao governo que a crise internacional dificulta a captação de recursos no exterior. Mesmo assim, elas garantiram que aumentaram o volume de recursos para a safra que está sendo plantada. O problema, segundo os representantes das empresas, é que os custos de produção subiram de forma expressiva neste ano, o que impede que 100% da demanda dos agricultores, principalmente dos grandes, seja atendida.
Entre as medidas que estão em estudo, uma em especial pode dar fôlego aos grandes agricultores. O governo pretende remanejar um total de R$ 350 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para a agricultura familiar, troca que diminuirá a pressão dos pequenos agricultores pelos financiamentos.
Na lista de opções que está sendo avaliada pelo ministro Mantega também há pelo menos uma medida que tem o objetivo de manter a competitividade das exportações agrícolas. O governo avalia a proposta de redução para 4,75% do recolhimento de PIS e Cofins para a carne exportada. Para estimular o consumo de carnes no mercado interno, a idéia é isentar o setor da cobrança de PIS e Cofins, hoje em 9,25%.
Uma fonte do Ministério da Agricultura não descarta a possibilidade da redução tributária ser ampliada para outros produtos do agronegócio como medida compensatória devido ao aumento dos custos para captação de financiamentos externos.