Lula diz que Mantega deve explicar melhor a crise à população 07/10/2008
- Tânia Monteiro e Leonencio Nossa - Agência Estado
Pelo menos duas vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em situação delicada, durante a reunião do Conselho Político, no final da tarde de ontem.
Primeiro, depois de ouvir a sua detalhada e didática exposição sobre a crise financeira para os parlamentares, perguntou por que ele não fez a mesma palestra para a imprensa, para que ela pudesse repassar o quadro para a população. Segundo o presidente, ¨a gravidade da crise tem de ser mostrada para a população¨.
Em seguida, Lula chamou a atenção de Mantega, na frente dos parlamentares, quando ele teria insistido em incluir na medida provisória que dá mais poderes ao Banco Central para agir na crise medidas pontuais como prorrogação de financiamento de pequenas dívidas, da ordem de 10 mil reais.
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¨Isso não é possível. A sociedade não pode ter dúvida da gravidade da crise e não podemos deixar margem a dúvidas, mostrando que estamos tomando as medidas que têm de ser tomadas. Não podemos misturar a coisa maior (MP para socorrer os pequenos bancos) com medidas domésticas. Não podemos brincar com o povo¨, disse o presidente, conforme relato do deputado Uldorico Pinto, líder do PMN.
Lula declarou ainda que ¨não haverá pacote¨. E emendou: ¨podemos assegurar isso. Não faremos nenhum pacote. Tomaremos medidas pontuais, como estamos anunciando, à medida que elas forem necessárias¨. O presidente disse que os parlamentares precisavam saber do tamanho da crise para ajudar o governo na aprovação de medidas que dependem da Câmara e do Senado.
Lula comentou que a oposição pode tentar obstruir as votações, mas advertiu que ¨o governo tem maioria no Congresso e a obstrução só surte efeito quando a maioria não insiste em votar¨. Segundo o deputado Uldorico Pinto, Lula manifestou preocupação com a quebra de bancos no exterior.
¨Quebrou um banco ali, outro banco lá, mais outro ali¨, comentou o presidente, explicando que precisou convocar a reunião para ontem porque não poderia esperar para alertar os parlamentares para a necessidade de apoiar as medidas que estão sendo adotadas pelo governo.
¨A crise é muito grande¨ e ¨vai pegar todo mundo, em maior ou menor extensão¨, disse Lula.
O presidente disse ainda, segundo relato do deputado, que é importante resolver o problema dos pequenos bancos que estão sofrendo na mão dos grandes. A avaliação é de que existem pequenos bancos com dificuldades e falta de liquidez e é preciso tomar medidas para evitar a propagação do problema. O deputado contou ainda que o presidente do BC, Henrique Meirelles, reforçou, na reunião, que medidas como a liberação de parte dos ativos dos bancos precisavam ser tomadas porque os pequenos bancos podem ter problemas.
Na sua exposição, Meirelles disse que a crise envolve credibilidade e criticou o fato de os norte-americanos e os europeus terem demorado a reagir à crise. PAC. O presidente determinou a Mantega e Meirelles que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) devem ser preservadas. Dirigindo-se a ambos, Lula afirmou de forma enfática: ¨Se virem, porque os investimentos (do PAC) não vão parar¨, segundo relato da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti(SC).
A líder do PT relatou que o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, que participou da reunião como presidente do PP, mostrou preocupação com o setor agrícola. Segundo Maggi, há o risco de o agronegócio ficar emperrado com a crise porque boa parte dos créditos é de empréstimos internacionais.
Durante a reunião, Lula não poupou críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo relato de três líderes que participaram do encontro, o presidente disse que o FMI só serviu para fiscalizar os países emergentes e nada fez para regular as nações ricas. Lula recomendou ao presidente do BC que aproveite a reunião do FMI para provocar os bancos centrais dos países europeus a tomar medidas para enfrentar a crise. Meirelles e Mantega, embarcam amanhã para Washington para participar da assembléia anual do FMI.
O presidente pediu ainda aos líderes dos partidos que integram o Conselho Político a aprovação rápida de pelo menos duas propostas que estão em tramitação na Câmara: o projeto que cria o Fundo Soberano do Brasil e a proposta de emenda constitucional da reforma tributária. O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), disse que a aprovação dessas propostas fortaleceria a economia brasileira ¨aos olhos do mundo¨ e ampliaria as condições do Brasil de enfrentar a crise. ¨Vamos fazer tudo ao nosso alcance para garantir o crescimento da economia¨, afirmou.