Com preços em queda, impacto na balança pode chegar a 21% 08/10/2008
- BBC
Se a tendência de queda nos preços das commodities for mantida e alcançar os patamares de 2004, o Brasil poderá perder até US$ 8,4 bilhões no superávit de sua balança comercial, segundo um estudo do BNDES. O número representa 21% do superávit registrado em 2007, quando o saldo foi de US$ 40 bilhões.
Depois de alguns anos de forte valorização, itens importantes da pauta de exportação brasileira vêm sofrendo com a queda nos preços, em função da crise nos mercados. Entre esses produtos destacam-se o minério de ferro, a soja, o açúcar e o café.
Gilberto Borça e Marcelo Nascimento, autores do estudo, consideraram como referência o ano de 2007. O objetivo foi evitar duas distorções verificadas em 2008: a forte valorização das commodities e o crescimento expressivo das importações.
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Considerando as projeções do saldo comercial para esse ano, de US$ 30 bilhões, o impacto seria ainda maior: o equivalente a 28%.
O caso da soja é o mais significativo, tendo em vista o peso do produto nas exportações. Na segunda-feira, os contratos para dezembro foram negociados a US$ 9,4 a saca (27,2 quilos). No início do ano, esse valor chegou a US$ 17.
O preço não é a única preocupação dos exportadores. ¨O problema passará a ser grave se a crise prejudicar o volume consumido pela China¨, diz o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Bueno. Os chineses consomem 50% da soja exportada pelo Brasil.
O mercado também avalia qual será o futuro do minério de ferro, outro item de peso na balança comercial brasileira. O preço do produto é definido anualmente, entre grandes produtores de minério e siderúrgicas mundiais.
Os analistas estimam que, para 2009, os fornecedores da matéria-prima - entre eles a Vale do Rio Doce - consigam um aumento de 10% no preço do produto. Em 2008, o reajuste foi de 65%.
O economista da LCA, Francisco Pessoa, diz que a influência das commodities na balança comercial não depende apenas dos preços internacionais. ¨O volume também será um fator preponderante¨, diz.
Apesar da queda acentuada dos preços e de seu impacto nas exportações brasileiras, o estudo do BNDES diz que, para o Brasil, ¨a perda está longe de ser alarmante¨.
Uma das razões está no fato de que o país também se beneficia da redução dos preços internacionais, pois é grande comprador de algumas commodities, sobretudo petróleo, gás natural, cobre e trigo. Em 2007, esses quatro produtos responderam por 13,4% das importações brasileiras.
A balança comercial exerce um papel importante nas contas externas do país, por representar uma das principais portas de entrada da moeda americana. Durante os últimos anos, esse superávit contribuiu para alimentar as reservas internacionais brasileiras, que hoje chegam a pouco mais de US$ 200 bilhões.
A tendência, porém, é de redução do saldo da balança, em função principalmente do crescimento das importações - que por sua vez é influenciado pela alta do consumo interno e pela valorização do real. Para 2009, o mercado prevê um superávit de US$ 13 bilhões.