Crise contamina Brasil, mas abre chance do juro cair mais rápido, dizem analistas 09/10/2008
- Epaminondas Neto - Folha Online
Economistas vêem o Brasil sofrendo os impactos da crise externa, seja pelos abalos do câmbio mais alto quanto pelo encurtamento das fontes de crédito. A perspectiva de crescimento do PIB para 2009 já está em processo de revisão, para menos. No entanto, os especialistas também vêem chances de que o Banco Central do país comece a rebaixar os juros básicos da economia mais cedo que o esperado.
¨A alta da taxa de juros neste momento é totalmente incompatível com o cenário atual¨, comenta Lucy Souza, presidente da Apimec-SP (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais-São Paulo).
¨Se o governo cortar os juros, diminui os encargos com a dívida pública e sobre mais dinheiro para gastar com a economia¨, coloca avalia Luiz Jurandir Simões Araújo, consultor da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
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Os analistas do mercado financeiro já trabalhavam com uma perspectiva de crescimento um pouco menor para o PIB em 2009, devido ao ciclo de alta dos juros, que encarece o dinheiro para consumo e investimentos.
No balanço de riscos para a economia, avaliam, a desaceleração do crescimento econômico, e não eventuais pressões inflacionárias, é a maior preocupação neste momento.
¨Alguns setores da economia vão ter freadas muito bruscas: o setor de incorporações, por exemplo, já teve uma brecada muito forte. O setor de construção civil também¨, avalia o consultor Luiz Jurandir. ¨Várias empresas estão refazendo seus orçamentos, os planos de investimentos estão sendo todos refeitos. Na verdade, tanto empresas quanto pessoas vão ser obrigadas a refazer os seus gastos¨, acrescenta.
¨Nós já estamos vendo informes sobre restrição de crédito na praça, e isso com certeza vai inibir o consumo, o que certamente vai obrigar algumas empresas a reverem seus investimentos¨, reforça Lucy Souza, da Apimec-SP. ¨As empresas que prestam serviços públicos, que ganham em real e têm custos em dólar, por exemplo, devem sofrer¨.
Câmbio
Os analistas não vêem uma reversão desse cenário no curto prazo. O dólar, que saiu de uma forte depreciação no primeiro semestre, quando atingiu R$ 1,55, para o pico de R$ 2,40 neste início de outubro, não deve cair tão cedo.
¨Acho que trabalhar com o dólar entre R$ 1,85 e R$ 1,95 por um bom tempo é o cenário mais factível¨, comenta Luiz Jurandir.
Lucy Souza vê com alguma preocupação a trajetória do balanço de pagamentos. Se até alguns meses os déficits eram financiados por um fluxo financeiro significativo e bons volumes de investimento direto estrangeiro, essas circunstâncias favoráveis desapareceram com o agravamento da crise. ¨O patamar de R$ 1,60 é coisa do passado¨, afirma.
O consultor, no entanto, rejeita um cenário de recessão para o Brasil, como alguns já prevêem para os EUA e algumas economias européias. ¨O mundo precisa consumir alimentos, o mundo precisa consumir commodities. Aqui no Brasil, nós temos muitas empresas que podem fornecer muito do que o mundo necessita nesse momento¨, diz ele.