Bovespa fecha em queda de 3,9%. Mercado perde 25% em seis dias 09/10/2008
- Epaminondas Neto - Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) já perdeu mais de 25% nos últimos seis dias, sem que o mercado encontre o ¨fundo do poço¨ em preços das ações. Nesta quinta-feira, o mercado não conseguiu sustentar a recuperação vista em boa parte do dia e desabou na última hora de fechamento. O câmbio, após duas intervenções do Banco Central, cedeu para R$ 2,19.
O termômetro da Bolsa, o índice Ibovespa, desabou 3,92% e desceu para os 37.080 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,53 bilhões. E a Bolsa de Nova York, principal referência global dos mercados de ações, despencou 7,33%.
Operadores citaram o pessimismo com o início da temporada de divulgação dos balanços de grandes bancos americanos. Entre os rumores que circularam na mesas de operações, as instituições financeiras devem revelar novos rombos com os créditos ¨subprimes¨. Em Nova York, foram justamente os papéis deste setor que arrastaram a Bolsa, com perdas acima de 20%.
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A notícia que provocou o desabamento dos mercados, no entanto, veio da economia real: a Standard & Poor´s rebaixou o ¨rating¨ (nota de risco de crédito) da General Motors e colocou a ¨nota¨ da Ford em perspectiva negativa (uma sinalização que pode fazer o ¨downgrade¨ num futuro próximo).
¨O mercado ainda está muito incerto e ninguém quer virar o dia comprado [com ações em carteira]¨, comentou Rodrigo Silveira, gerente de operações da corretora e.um, a ¨extensão eletrônica¨ da corretora Umuarama.
O dólar comercial foi cotado a R$ 2,198 na venda, em declínio de 3,59%. A taxa de risco-país marca 444 pontos, número 5,46% acima da pontuação anterior.
Para conter uma nova alta das taxas, o Banco Central voltou a intervir agressivamente. Pela manhã, às 10h35, o BC promoveu um leilão de venda de dólares, o quarto em dois dias, e poucas horas depois, às 12h45, realizou o leilão de ¨swap¨ cambial programado desde ontem.
¨O mercado realmente caiu bastante hoje. O fato do Banco Central ter liberado mais compulsório dos bancos foi importante para isso. E esses leilões têm favorecido bastante o mercado¨, comenta Gilberto Martins, operador da corretora Guitta. ¨O que nós estamos vendo é que à medida que as coisas vêm acontecendo, eles [o governo] agem. Tudo isso é importante para tranqüilizar [o mercado]¨, acrescenta.
As Bolsas européias encerraram os negócios de hoje em terreno negativo, com investidores ainda bastante preocupados com a possibilidade de uma recessão global. Em Londres, o índice FTSE cedeu 1,21%; o índice alemão Dax caiu 2,53%. Nos EUA, a Bolsa de Nova York recua 1,56%.
Recessão
Analistas e investidores ainda tentam avaliar a extensão das perdas, e dos efeitos sobre a economia real, da crise dos créditos ¨subprime¨. Hoje, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que o sistema financeiro global somente deve se recuperar do ´baque´ no segundo semestre de 2009.
E o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou para novas quebras no sistema bancário mundial, num tom muito semelhante à advertência feita ontem à noite pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson.
Ontem, em uma ação coordenada inédita, o Federal Reserve (banco central dos EUA), o BCE (Banco Central Europeu), entre outros bancos centrais, decidiram um corte extraordinário e conjunto de juros, para animar as respectivas economias. A decisão, embora tenha recebido elogios de analistas que pediam um ação global para deter a crise financeira, teve efeitos restritos sobre o dia dos mercados financeiros.
No Brasil, o Banco Central voltou a mexer no recolhimento compulsório, promovendo sua terceira liberação de recursos retidos desde o início do agravamento da crise. Com as duas alterações anteriores, o total liberado na economia já chega a R$ 60 bilhões.
Hoje, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) revelou que a inflação medida pelo IGP-M, em sua primeira prévia mostrou aceleração: subiu 0,55%, ante variação nula no mesmo período em agosto.