Em dia de estresse, dólar dispara 5% e atinge R$ 2,30 10/10/2008
- Folha Online
O dólar comercial dispara 5% e atinge a cotação de R$ 2,308 logo nas primeiras operações desta sexta-feira. Os mercados enfrentam um novo dia de pânico, com a percepção de que crise contaminou a ¨economia real¨ (o consumo e o setor produtivo) não apenas nos EUA, mas também na Europa e no Japão.
Ontem, a notícia do possível rebaixamento do ¨rating¨ (nota de risco de crédito) da americana General Motors fez as ações desabarem na Bolsa de Nova York, que fechou com forte baixa de 7,33%, arrastando a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), que se manteve em ritmo de recuperação dos preços em boa parte do dia.
Hoje, as notícias de Wall Street já fizeram as Bolsas asiáticas desabarem, a exemplo de Tóquio, onde a Bolsa local fechou com perdas de 9,62%, o pior dia desde o ¨crash¨ de 1987. As Bolsas européias seguem pelo mesmo caminho: em Londres, o índice FTSE retrai 7,80%, enquanto o Dax, índice do mercado de Frankfurt, recua 7,89%.
PUBLICIDADE
O nervosismo dos investidores é ainda mais grave porque sucede após uma série de medidas dos governos americanos e europeus para deter os desdobramentos da crise dos créditos ¨subprime¨, sem que consiga acalmar os mercados financeiros.
Nas últimas semanas, o Congresso americano já aprovou um pacote bilionário (US$ 700 bilhões) para resgatar créditos problemáticos, ainda em fase de implantação; uma medida que já foi replicada na Inglaterra e na Rússia; uma série de instituições financeiras já foram ¨salvas¨ da falência por intervenções diretas dos governos locais, a exemplo de gigante americana dos seguros, a AIG, ou do banco alemão Hypo Real Estate; e outros muitos bancos já foram engolidos por rivais de longa data.
Sem esquecer das injeções de bilhões de dólares quase diárias por parte dos bancos centrais para animar a circulação de recursos entre os bancos. No dia 29 de setembro, dez BCs anunciaram uma oferta de US$ 620 bilhões em liquidez [oferta de dinheiro]; em outra ação conjunta posterior, outros seis BCs anunciaram leilões de US$ 450 bilhões até o fim do ano para garantir que não ocorra falta de dinheiro.
E nesta semana, seis bancos centrais --Federal Reserve (Fed, o BC americano), Banco do Canadá, Banco da Inglaterra (BC britânico), BCE (Banco Central Europeu), Sveriges Riksbank (da Suécia) e SNB (Banco Nacional da Suíça, na sigla em inglês)-- cortaram suas taxas de juros, esperando que um barateamento do crédito aliviasse também a pressão sobre a taxa Libor (juro interbancário no mercado internacional), facilitando as trocas de capitais entre as instituições bancárias. Além disso, o governo britânico anunciou um pacote bilionário para evitar quebras de bancos.
Um indicativo eloquente da piora da crise é a frequência cada vez maior com que o termo ¨recessão¨ surge nos discursos de algumas das autoridades de influência mundial. Ontem, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que o mundo está ¨à beira de uma recessão¨ e pediu uma ação de ¨forma rápida, vigorosa e coordenada¨.
No mesmo dia, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou para possíveis ¨emergências bancárias¨ no mundo em desenvolvimento e crise nas balanças de pagamentos na medida em que a atual crise financeira avance.