Bovespa acumula perdas superiores a 30% em 7 dias 10/10/2008
- Folha Online
Apesar de a Bolsa já acumular perdas superiores a 30% somente nestes últimos sete dias, os investidores não encontram ânimo para voltar às compras em um dos piores pregões de uma semana já turbulento. A sessão já foi interrompida uma vez, às 10:35, quando a Bolsa chegou a desabar 10,19%. No início da temporada de balanços das empresas, o mercado teme os efeitos da crise financeira sobre a ¨economia real¨ (setor produtivo e consumo).
O Ibovespa, termômetro dos negócios da Bolsa, retrai 9,01% e marca 33.741 pontos, em seu nível mais baixo desde junho de 2006. O giro financeiro é de R$ 3,15 bilhões. O dólar comercial dispara 5% e atinge R$ 2,308 na venda.
As empresas brasileiras já sentem os efeitos da crise global. Empresas como Sadia, Aracruz e Votorantim já admitiram perdas milionárias com as bruscas oscilações do câmbio.
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O Banco Central já realizou um leilão de venda de dólares, com queima de reservas. Também promoveu um leilão de ¨swap¨ cambial, equivalente a uma venda de dólares no mercado futuro, colocando US$ 589,3 milhões desses contratos.
Na Europa, as principais Bolsas de Valores despencaram no fechamento de hoje. O mercado londrino, que chegou a despencar 10% logo na abertura, cedeu 8,84%. Em Frankfurt, o índice Dax caiu 7,01%. E nos EUA, a referência mundial Bolsa de Nova York, que já despencou 12%, sofre queda 5,52%.
Bush
Analistas afirmam que o mercado financeiro ainda aguarda uma atitude drástica do governo americano para deter a crise. Hoje, o presidente dos EUA, George W. Bush voltou a falar em cadeia nacional, destacando as reuniões que ocorrerão a partir de hoje entre o governo americano e representantes do G7 (grupo dos sete países mais ricos) e do G20 (grupo de países emergentes liderado pelo Brasil).
Segundo analistas, o mercado aguardava que o presidente Bush sinalizasse algum tipo de medida para garantir os depósitos bancários, o que não aconteceu. O maior temor dos investidores é que a crise precipite uma corrida aos bancos, nos moldes do desastre de 1929.
O pânico de hoje é provocado principalmente pela percepção dos investidores de que a crise financeira já atingiu em cheio a economia real. Ontem, a Bolsa de Nova York desabou 7,33% na última hora de operações, com as más notícias sobre as gigantes do setor automobilístico General Motors e Ford Motors, sob ameaça de rebaixamento de seus ¨ratings¨ (notas de risco de crédito).
Hoje, a seguradora japonesa Yamato, à beira da quebra sob dívidas bilionárias, ampliou o alcance geográfico da crise financeira e contribuiu para elevar ainda mais o nervosismo dos investidores.
O mercado brasileiro já tem um canal de contaminação claro, já que um terço dos investidores que operam na Bolsa são ´estrangeiros´ ou ´não-residentes´. Outro canal de contaminação vem pelo preço das commodities (matérias-primas). As principais ações da Bovespa são de empresas como Petrobras, Vale do Rio Doce e CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), fortemente influenciadas pelas cotações do petróleo e das matérias-primas metálicas.
E com a perspectiva de uma recessão global, esses preços desabaram pesadamente. O barril de petróleo, que há alguns meses ameaçava bater a cotação histórica de US$ 200, como chegaram a supor algumas consultorias internacionais, é cotado nesta sexta-feira a US$ 85, em forte declínio de quase 6%.
¨Estamos trabalhando com o mundo inteiro¨, disse o presidente. Segundo ele, isso é um ¨sinal inequívoco de que vamos superar os problemas juntos¨.
Sem efeito
O nervosismo dos investidores é ainda mais grave porque sucede após uma série de medidas dos governos americanos e europeus para deter os desdobramentos da crise dos créditos ¨subprime¨ (empréstimos hipotecários de alto risco), sem que consiga acalmar os mercados financeiros.
Nas últimas semanas, o Congresso americano já aprovou um pacote bilionário (US$ 700 bilhões) para resgatar créditos problemáticos, ainda em fase de implantação; a medida que já foi replicada na Inglaterra e na Rússia; uma série de instituições financeiras já foram ´salvas´ da falência por intervenções diretas dos governos locais, a exemplo de gigante americana dos seguros, a AIG, ou do banco alemão Hypo Real Estate; e outros muitos bancos já foram engolidos por rivais de longa data, caso da Merrill Lynch, comprada pelo Bank of America.
Sem esquecer das injeções de bilhões de dólares quase diárias por parte dos bancos centrais para aquecer a circulação de recursos entre os bancos. No dia 29 de setembro, dez BCs anunciaram uma oferta de US$ 620 bilhões em liquidez (dinheiro); em outra ação conjunta posterior, outros seis BCs anunciaram leilões de US$ 450 bilhões até o fim do ano para garantir que não ocorra falta de dinheiro.
E nesta semana, seis bancos centrais -- Federal Reserve (Fed, o BC americano), Banco do Canadá, Banco da Inglaterra (BC britânico), BCE (Banco Central Europeu), Sveriges Riksbank (da Suécia) e SNB (Banco Nacional da Suíça, na sigla em inglês) -- cortaram suas taxas de juros ao mesmo tempo, esperando que um barateamento do crédito aliviasse também a pressão sobre a taxa Libor (juro interbancário no mercado internacional), facilitando as trocas de capitais entre as instituições bancárias. Além disso, o governo britânico anunciou um pacote bilionário para evitar quebras de bancos.
Brasil
O governo brasileiro também já tomou uma série de medidas para prevenir o contágio do país. Desde a segunda quinzena de setembro, o Banco Central aumentou suas intervenções sobre o mercado de câmbio, promovendo leilões de venda de dólares, com queima de reservas, e de ¨swap¨ cambial.
O governo também mexeu no recolhimento de depósitos compulsórios, o dinheiro obrigatoriamente retido pelos bancos no BC. Em três medidas diferente, já foram liberados R$ 60 bilhões para o sistema bancário, com alvo nos bancos pequenos e médios, os mais afetados pela crise.