Dólar fecha a R$ 2,31 e Bovespa retrocede 8,47% 10/10/2008
- Folha Online
O Banco Central interferiu mais uma vez no mercado de câmbio para tentar conter a escalada das taxas nesta sexta-feira, em um novo dia de pânico. Nas últimas operações de hoje, o dólar comercial foi cotado a R$ 2,316 na venda, em alta de 5,36%. Trata-se do preço mais alto para a moeda americana desde maio de 2006. Nas casas de câmbio paulistas, o dólar turismo foi negociado a R$ 2,420, com avanço de 4,31% sobre a cotação de ontem.
Os agentes financeiros entraram em pânico com a perspectiva de uma recessão global, reforçada desde ontem pelas notícias de prejuízos para empresas não-financeiras, a exemplo das gigantes americanas do setor automobilístico General Motors e Ford.
¨O mercado ficou muito nervoso porque está vendo as empresas da ´Rua Principal´ [a ¨Main Street¨, apelido em Wall Street para as empresas da economia real] também sendo afetadas pela crise financeira¨, comenta Maurício Lima, diretor da corretora de câmbio Confidence. Lima observa que o mercado está ¨sem parâmetros¨ e que as cotações têm subido também sobre a especulação de alguns agentes financeiros num momento de incerteza extrema.
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¨Nós nos perguntamos muitas vezes porque as pessoas correm para o dólar, se está o epicentro da crise está justamente nos EUA. A única resposta que nós temos que, nesse momento, o mercado prefere correr para os títulos do Tesouro americano, que são os poucos ativos que são considerados de liquidez garantida¨, acrescenta.
Em um cenário tão turbulento como este, profissionais do mercado de câmbio não se arriscam a projetar alguma taxa de câmbio. No curto prazo, a aversão ao risco deve manter as cotações pressionadas. E no médio prazo, a queda nos preços das commodities (matérias-primas) também deve contribuir para enfraquecer a moeda brasileira frente ao dólar.
As empresas brasileiras também não se mostram imunes à crise. Hoje, o grupo Votorantim admitiu que vai arcar com um custo de R$ 2,2 bilhões para eliminar a exposição financeira da empresa às oscilações do câmbio. Anteriormente, Sadia e Aracruz já admitiram prejuízos milionários (de R$ 750 milhões e R$ 1,95 bilhão, respectivamente) com sua exposição à moeda americana devido a operações no mercado futuro.
No mercado de ações, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) deve emendar o seu sétimo dia de fortes perdas. O Ibovespa, principal índice de ações, recua 8,47% e marca 33.941 pontos. O giro financeiro é de R$ 4,10 bilhões. Nos EUA, o epicentro da crise financeira, a Bolsa de Nova York despenca 4,16%.
A autoridade monetária já entrou no mercado pela manhã, às 10h40, quando realizou um leilão de venda de dólares. Pouco depois, o BC colocou no mercado US$ 589,3 milhões em contratos de ¨swap¨ cambial¨, em um segundo leilão realizado à 12h45. E perto do encerramento das operações, o banco voltou mais uma vez à carga, com um novo leilão para venda de moeda, às 15h31.
As turbulências do mercado financeiro têm obrigado o BC a intervir pesadamente no câmbio. Ontem, a autoridade monetária já havia realizado dois leilões de venda de dólares, além de um leilão de ¨swap¨. E anteontem, foram outros três leilões com queima de reservas, sem esquecer de um leilão de ¨swap¨ cambial.
Entre o final de agosto e de setembro, a cotação da moeda americana oscilou de R$ 1,63 para R$ 1,90, afetando as operações financeiras de muitas empresas brasileiras. E somente nos primeiros dias de outubro, o preço do dólar já bateu R$ 2,48, no pior momento da crise. Hoje, as taxas oscilam entre a mínima de R$ 2,240 e a máxima de R$ 2,316.