Bovespa pára e volta a cair 11,27%. Dólar avança para R$ 2,19 15/10/2008
- Folha Online
A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) reiniciou os negócios desta quarta-feira, após a suspensão dos negócios, em baixa de 11%. As ações líderes da Bolsa brasileira, Petrobras e Vale, caem a uma taxa de dois dígitos, com a forte queda das commodities (matérias-primas), sob a perspectiva de uma recessão nas economias centrais. As Bolsas européias desabaram no encerramento, enquanto Wall Street amarga perdas de 5%.
O mecanismo do ¨circuit breaker¨ foi acionado às 14h24, o que interrompeu o pregão por meia hora. Como já foi acionado uma vez hoje, esse mecanismo somente será ¨ligado¨ novamente quando a Bolsa alcançar uma queda de 15%, quando o intervalo será de uma hora. Trata-se da quarta vez, em menos de um mês, que o pregão da Bolsa é interrompido. A última vez que esse mecanismo havia sido acionado, antes do dia 29 de setembro deste ano, foi em 1999.
O Ibovespa, termômetro dos negócios da Bolsa, desvaloriza 11,27% e marca os 36.883 pontos. O giro financeiro é de R$ 4,30 bilhões.
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O dólar comercial é negociado a R$ 2,194 na venda, com forte avanço de 4,82%. A taxa de risco-país marca 462 pontos, número 4,76% acima da pontuação anterior.
A Bolsa de Londres foi o destaque entre os mercados europeus, com uma retração de 7,15% no fechamento. Em Paris, as ações caíram 6,81% enquanto o índice Dax, de Frankfurt, cedeu 6,49% na conclusão dos negócios de hoje. No Reino Unido, a taxa de desemprego cresceu 0,50 ponto percentual em agosto, para 5,7%, o maior crescimento desde julho de 1991.
Bancos e varejo nos EUA
As notícias do setor financeiro azedam o humor dos investidores nesta quarta-feira: dois grandes bancos americanos revelaram os efeitos da crise em seus balanços. O lucro do Wells Fargo caiu 24% (mas superou as estimativas), enquanto o JP Morgan registrou um resultado 84% abaixo dos números de 2007 por causa de problemas com empréstimos.
Para piorar o cenário, a macroeconomia também não fornece melhores números. As vendas no varejo dos Estados Unidos caíram com a maior intensidade em três anos: uma retração de 1,2%, ante a expectativa de um declínio de 0,7%, estimado por analistas do setor financeiro.
Os dados confirmam a tendência atual dos norte-americanos de reduzir seus gastos ante a crise financeira e a dificuldade de ter acesso ao crédito. O resultado apresenta um aumento significativo do risco de recessão nos Estados Unidos, uma vez que o consumo responde por dois terços da atividade econômica do país.
Analistas têm elogiado as iniciativas dos governos europeus e dos EUA para capitalizar os bancos às voltas com os problemáticos créditos ¨subprimes¨. O montante superior a US$ 2 trilhões realmente funcionou para acalmar os mercados quanto a uma possível derrocada do sistema financeiro global.
Os economistas, no entanto, apostam que o ¨lado real¨ da economia não se mantenha a salvo dos efeitos da crise financeira e já trabalham com a perspectiva de que as economias centrais (EUA e Europa) caiam em recessão ou, no mínimo, tenham uma forte desaceleração do crescimento.
Hoje, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, disse que a compra, por parte do governo, de ações de instituições bancárias estabilizará o sistema financeiro, mas advertiu que continuarão as dificuldades econômicas.
O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, por sua vez, afirmou que a economia norte-americana vai se recuperar, porém lentamente. ¨os problemas na economia e nos mercados são grandes e complexos. Mas a meu ver, nosso governo conta agora com as ferramentas necessárias para enfrentá-los e resolvê-los.¨
Na terça-feira, o governo do presidente americano, George W. Bush, anunciou que usará até US$ 250 bilhões (do pacote de US$ 700 bilhões) para a aquisição temporária de ações nos bancos privados, com a maior parte desses fundos concentrada em nove das maiores instituições do país.