Sinais de recessão global derrubam Bolsas na Europa e na Ásia; Tóquio cai 11% 16/10/2008
- Folha Online
As Bolsas européias registram quedas nesta quinta-feira, um dia depois de o índice Dow Jones, em Nova York, ter registrado sua queda de 7,87%, a maior em termos percentuais em 21 anos, segundo a consultoria Economática. Na Ásia, a Bolsa de Tóquio caiu 11,4%, fechando com 8.458,45 pontos, a maior perda em um único dia desde 1987. As iniciativas de governos de diversos países para tentar conter a crise foram vistas como insuficientes pelos investidores, e os sinais de que uma recessão global seja iminente ocuparam o centro das atenções dos mercados.
Às 8h (em Brasília), a Bolsa de Londres estava em baixa de 2,06% no índice FTSE 100, indo para 3.995,65 pontos; a Bolsa de Paris caía 2,56% no índice CAC 40, indo para 3.294,49 pontos; a Bolsa de Frankfurt tinha baixa de 1,36% no índice DAX, operando com 4.795,48 pontos; a Bolsa de Amsterdã tinha queda de 3,89% no índice AEX General, que estava com 252,76 pontos; a Bolsa de Milão tinha baixa de 2,38% no índice MIBTel, que ia para 16.439 pontos; e a Bolsa de Zurique estava em baixa de 1,20%, com 5.840,17 pontos no índice Swiss Market.
As quedas na Bolsa de Tóquio nos últimos dias, por sua vez, praticamente zeraram o ganho de quase 14%, registrado na terça-feira (14). A Bolsa de Seul (Coréia do Sul)caiu 9,44%; em Hong Kong, as perdas eram de 8,49% perto do fim do pregão; na Austrália, a perda foi de 6,66%; na Bolsa de Xangai (China) os negócios caíram 4,25%. No geral, as quedas variaram de 4% a 11%.
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Na Europa, os governos da Alemanha, França, Espanha, de Portugal, do Reino Unido e outros países já anunciaram ajudas para evitar um colapso do setor financeiro; o governo americano, por sua vez, anunciou nesta semana o uso de US$ 250 bilhões dos US$ 700 bilhões aprovados pelo Congresso no início deste mês, com o mesmo fim. Juntas, as medidas de todos os governos que já se mobilizaram superam os US$ 2 trilhões. Mesmo assim, a impressão de que a economia mundial caminha para uma recessão ganhou força entre os investidores e o pessimismo se tornou a força dominante.
¨Há um certo grau de pânico sobre as vendas em Tóquio, mas o sentimento é diferente do da semana passada¨, afirmou Takashi Ushio, da Marusan Securities. ¨Na última semana o medo era sobre o sistema financeiro, pois ninguém sabia o que poderia acontecer. Agora é a economia real.¨
Nos EUA, uma série de declarações e indicadores negativos afetaram a confiança nos mercados. O Departamento do Comércio informou ontem que as vendas no varejo nos EUA em setembro caíram 1,2%, maior perda desde 2005. O dado foi visto como sinal de que, além dos problemas no setor financeiro, há os da economia real. O consumo responde por cerca de 70% de toda a atividade econômica dos EUA.
O Federal Reserve (Fed, o BC americano) divulgou ontem o ¨Livro Bege¨ (documento com dados econômicos coletados nas 12 divisões regionais do Fed) no qual informou que a atividade econômica nos Estados Unidos ¨se debilitou em setembro¨ na maioria dos distritos. ¨A atividade fabril se tornou mais lenta na maioria dos distritos; os mercados de bens imobiliários residenciais seguiram fracos e a atividade imobiliária comercial diminuiu em muitos distritos¨, diz o texto.
Pouco antes, o presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que a economia norte-americana vai se recuperar, porém lentamente. ¨Os problemas na economia e nos mercados são grandes e complexos (...) Mas a meu ver, nosso governo conta agora com as ferramentas necessárias para enfrentá-los e resolvê-los¨, afirmou.
O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, em um programa de TV, disse que a compra de ações de instituições bancárias por parte do governo estabilizará o sistema financeiro, mas advertiu que continuarão as dificuldades econômicas.
Pesquisas
Duas pesquisas divulgadas ontem mostram a situação de preocupação nos EUA quanto aos riscos à economia. Uma, do banco Merrill Lynch, mostrou que a expectativa de que a economia global já esteja mergulhada em uma recessão teve um crescimento expressivo neste mês. A outra, do instituto Reuters/Zogby, mostrou que a crise financeira fez a confiança dos americanos nas instituições do país cair a um dos níveis mais baixos.
A pesquisa do Merrill Lynch, realizada entre os dias 3 e 9 deste mês mostrou que 70% dos entrevistados considera que a economia global já está em recessão, um aumento expressivo em relação ao dado visto na pesquisa feita em setembro, 44%. A pesquisa ouviu 172 gerentes financeiros no mundo todo, responsáveis pela administração de um total US$ 531 bilhões em fundos.
A pesquisa Reuters/Zogby por sua vez, caiu para 89,7 pontos, contra 96,3 em setembro, em uma escala de 100 pontos criada em julho de 2007. Acima desse patamar, o indicador representa aumento de confiança no país; abaixo dele, a confiança está em queda. O recorde de baixa na escala foi atingido em março deste ano, quando chegou a 87,7 pontos. O levantamento da Zogby foi realizado entre os dias 9 e 12 e ouviu 1.207 pessoas em entrevistas por telefone.
No Reino Unido, a taxa de desemprego cresceu em 0,5 ponto percentual e alcançou 5,7% no trimestre até agosto deste ano; o número de desempregados no país aumentou em 164 mil pessoas no período e atingiu a marca de 1,79 milhão de pessoas. Foram os piores números do mercado britânico de trabalho desde 1991, segundo o ONS (Escritório Nacional de Estatísticas).
O membro do Banco da Inglaterra David Blanchflower, disse ao diário britânico ¨Guardian¨ que o número de desempregados no país pode chegar a dois milhões de pessoas até o fim deste ano. Além disso, o mercado de trabalho perdeu 122 mil vagas entre junho e agosto, maior recuo trimestral desde o trimestre até fevereiro de 1993.
No início deste mês, a BCC (Câmara Britânica do Comércio, em inglês) informou que Reino Unido já está em uma recessão, que se agrava e pode elevar o número de desempregados em 350 mil até o ano que vem.
Brasil
No Brasil, o cenário não foi muito diferente nesta quarta-feira. Um mês após a quebra do banco Lehman Brothers, evento que precipitou a piora da crise financeira, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) estendeu seu pregão por meia hora e amargou perdas de 11,39%, a maior queda desde 10 de setembro de 1998. O câmbio disparou, e após uma pesada ação do Banco Central, fechou a R$ 2,16.
Em reportagem de hoje, a Folha informou que, com a desaceleração na economia brasileira devido à crise no mercado financeiro nos EUA, o governo brasileiro prevê que o país deve crescer entre 3,8% a 4% em 2009, contra uma estimativa inicial de 4,5%.
Hoje também, o jornal francês ¨Le Monde¨ informa em uma reportagem que apesar do otimismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil não ficará imune à crise. Segundo o texto, apesar do ¨otimismo de fachada de Lula¨, o país não escapará ileso da tormenta financeira.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que a crise econômica não irá desgastar a imagem do presidente Lula. ¨Se tem gente dizendo tomara que crise continue para ver se cai um pouco a popularidade do presidente Lula, está enganado, porque o presidente pode se consagrar como uma pessoa talhada para enfrentar turbulências¨, disse o ministro.