McCain usa até etanol brasileiro para atacar Obama 16/10/2008
- Bruno Garcez - BBC
O republicano John McCain lançou os mais duros ataques contra o democrata Barack Obama no último dos três debates presidenciais realizado ontem à noite na Universidade Hofstra, em Hempstead, no Estado de Nova York.
O senador republicano procurou caracterizar o rival como um extremista em diferentes tópicos e usou até os impostos de US$ 0,54 por barril que o etanol brasileiro enfrenta para entrar no mercado americano como exemplo do suposto protecionismo de Obama.
¨Eu me oponho aos subsídios para o etanol porque acho que eles distorceram o mercado e criaram inflação. O senador Obama apóia esses subsídios. Eu eliminaria as tarifas sobre o etanol de cana importado do Brasil¨, disse McCain.
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McCain também afirmou que o rival é favorável à cobrança de mais impostos, acusou-o de ter se aliado às ¨mais extremas¨ posições pró-aborto, chegou a dizer que ¨a premissa por trás dos planos de Obama é a guerra de classes¨ e lembrou da suposta associação do democrata com o ex-ativista radical dos anos 60 William Ayers.
Joe, o encanador
O republicano também transformou um americano médio em protagonista do debate, o encanador Joe Wurzelbacher, que cruzou com Obama em um evento de campanha e abordou o candidato.
¨Joe quer comprar o negócio no qual ele trabalha por todos esses anos, por 10,12 horas por dia. Mas ele olhou para seu plano e viu que ele iria pagar impostos bem mais altos.¨
Obama respondeu dizendo que ¨na conversa que tive com Joe, o encanador, o que eu disse a ele foi que ´há cinco anos, quando você tinha condições de comprar o seu negócio, você precisava de uma isenção fiscal´. E o que eu quero fazer é garantir que o encanador, a enfermeira, o bombeiro, o professor, o jovem empreendedor que ainda não tem dinheiro, que tenham um corte de impostos agora.¨
O encanador ainda foi mencionado em diversas ocasiões por McCain ao longo do debate. E Obama chegou a afirmar em um trecho: ¨Se Joe, estiver assistindo...¨
Conteúdo negativo
O democrata voltou, assim como já tinha feito no embate anterior, a afirmar que o republicano pretende oferecer isenções fiscais para grandes corporações e afirmou que o rival tem divulgado comerciais cujo conteúdo é ¨100% negativo¨.
Na terça-feira, uma pesquisa realizada pelo jornal New York Times e a rede CBS mostrou que 60% dos americanos acreditam que McCain tem passado mais tempo atacando o rival do que apresentando suas propostas.
McCain criticou Obama por este não ter repudiado as declarações do congressista democrata John Lewis, que associou o conteúdo supostamente inflamatório de alguns comícios de McCain e da candidata a vice, a governadora Sarah Palin, com os pronunciamentos racistas do ex-governador segregacionista do Alabama George Wallace.
O democrata disse não endossar a comparação feita por Lewis, mas acrescentou que o tom de alguns correligionários de McCain foi extremado e a governadora Sarah Palin nada fez para contê-los.
¨Todos os relatos deram conta de que republicanos estavam gritando, quando o meu nome era mencionado, coisas como ´terrorista´ e ´matem-no´ e que sua companheira de chapa não parou e disse ´espere um segundo, isso é completamente inapropriado´.¨
William Ayers
Como muitos na mídia americana já haviam antecipado, McCain também levantou a suposta associação de Obama com William Ayers, um ex-militante do grupo radical dos anos 60 Weather Underground, que lançou atentados à bomba contra o Congresso e o Pentágono.
Anos mais tarde, Ayers pertenceu à diretoria de uma organização não-governamental da qual o democrata participou.
O republicano afirmou que os eleitores precisavam o saber o quão longe vai a relação entre Obama e Ayers.
Obama retrucou dizendo que Ayers ¨não está envolvido com essa campanha, nunca esteve envolvido em minha campanha e não me dará conselhos na Casa Branca¨.
Petróleo venezuelano
McCain comentou que os Estados Unidos podem e devem eliminar a sua dependência em petróleo do Oriente Médio e da Venezuela.
Para o republicano, uma das formas de fazer isso é ¨construindo 45 novas usinas nucleares, o quanto antes (...) O senador Obama dirá a você, como fazem os ambientalistas extremados, que é preciso ser seguro. Olhe, nós navegamos navios da Marinha com usinas nucleares dentro deles há 60 anos, senador Obama, não há problema.¨
Obama disse trabalhar com um prazo de dez anos, um período que ele qualificou como ¨realista¨, para que os Estados Unidos reduzam sua dependência em petróleo estrangeiro, de modo a não precisar mais importar combustível do Oriente Médio ou da Venezuela.