A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) já registra forte queda nas operações desta quinta-feira, mesmo após a derrocada histórica (11,39%, a pior em dez anos) na jornada de ontem. As principais Bolsas de Valores internacionais operam em terreno negativo, devido ao nervosismo dos investidores com a perspectiva de que uma recessão atinja a economia mundial.
No front doméstico, analistas notam que o mercado brasileiro sofre com a fuga de capitais externos -- pelo quinto mês, o saldo de investimentos estrangeiros está negativo (em R$ 2 bilhões) -- e pela baixa dos preços das commodities: o barril de petróleo cede para US$ 72,5 na praça de Nova York. No primeiro semestre, consultorias chegaram a projetar um preço de US$ 200 para o barril.
O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, desvaloriza 5,29% e marca os 34.885 pontos. O giro financeiro é de R$ 1,38 bilhão.
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O dólar comercial é negociado a R$ 2,229 na venda, em declínio de 2,90%. A taxa de risco-país marca 466 pontos, número 1% acima da pontuação anterior.
As Bolsas européias e americanas desabam: em Londres, o índice FTSE cai 4,72%; em Frankfurt, o Dax recua 4,24%, enquanto o índice Dow Jones, de repercussão global, recua 2,55%.
O Federal Reserve (Fed, o BC americano) divulgou uma das piores notícias do dia até o momento: a produção industrial caiu 2,8% em setembro. Trata-se da maior queda num único mês desde 1974. Analistas do setor financeiro projetavam um declínio de 1,5%. Segundo o Fed, a greve da Boeing e o impacto dos furacões Gustav e Ike influenciaram no desempenho do setor industrial.
Entre outras notícias, o banco norte-americano Citigroup anunciou revelou um prejuízo de US$ 2,8 bilhões no terceiro trimestre. Em idêntico período no ano passado, esse gigante financeiro havia apurado lucro de US$ 2,21 bilhões. O prejuízo por ação (US$ 0,60) ficou, no entanto, um pouco melhor que a previsão da maioria dos analistas do setor financeiro (US$ 0,70).
Ainda nos EUA, o Departamento de Trabalho informou que a inflação medida pelo CPI (preços ao consumidor) apontou estabilidade em setembro, ante uma variação de 0,1% em agosto. Ontem, o presidente do Federal Reserve (banco central americano), Ben Bernanke, voltou a sinalizar para uma relaxamento da política de juros, tendo em vista a crise financeira. Economistas de grandes bancos de investimentos estimam que a taxa básica americana, hoje em 2% ao ano, pode encerrar 2008 em 1,5%.
Na Europa, o governo alemão reduziu para 0,2% a projeção de crescimento econômico para 2009, contra uma estimativa anterior de 1,2%. A empresa finlandesa Nokia, maior fabricante do mundo de telefones celulares, revelou que o lucro do terceiro trimestre foi 30% menor que os ganhos apurados no mesmo trimestre do ano passado.
Ontem, os investidores receberam muito mal uma série de indicadores econômicos dos EUA, que apontavam para o contágio da chamada ¨economia real¨ (consumo e setor produtivo) pela crise financeira: as vendas no varejo tiveram declínio de 1,2%, a maior queda em três anos. Dois grandes bancos, o Wells Fargo e JP Morgan, anunciaram lucros entre 24% e 84% abaixo dos resultados de 2007. E no início da semana, as indústrias do setor automobilístico já haviam anunciado demissões em massa.
Foi, no entanto, o famoso ¨Livro Bege¨, do banco central americano (o Federal Reserve), que trouxe o panorama mais dramático. O documento é uma compilação de análises macroeconômicas das 12 divisões regionais do Fed e mostrou um quadro pessimista para a economia americana: o gasto dos consumidores caiu em setembro na maioria dos distritos; houve queda no nível de atividade no setor de serviços em ¨quase todos os distritos¨; e ´a atividade fabril se tornou mais lenta na maioria dos distritos¨.