Sadia admite que pode ter 1º prejuízo em 64 anos 17/10/2008
- Cristiane Barbieri - Folha de S.Paulo
Pela primeira vez, em seus 64 anos de história, a Sadia deverá fechar o ano com prejuízo. ¨Há uma po´ssibilidade [de prejuízo], mas sou corintiano e, até os 48 minutos do segundo tempo, ainda há jogo¨, disse Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho da Sadia. ¨De repente, se não der para ganhar porque afundamos R$ 760 milhões [valor que se refere a perdas anunciadas no fim do mês passado em razão de operações financeiras com câmbio], pelo menos poderemos empatar.¨
Isso porque, além de as vendas do último trimestre serem geralmente mais fortes, a Sadia está tentando reverter pelo menos parte do prejuízo. Segundo Furlan, a auditoria em andamento irá responder se houve ¨conivência ou indução a essa falha por parte dos bancos internacionais¨.
¨Estamos tomando todas as providências no sentido de preservar o interesse dos acionistas e dos funcionários, que foram prejudicados¨, diz ele. Incluem-se nas iniciativas negociações com os bancos estrangeiros -- além de medidas judiciais cabíveis, que poderão ser impetradas caso não se chegue a um acordo, tão logo o levantamento da consultoria KPMG seja concluído.
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A Sadia pretende apresentar o relatório na próxima assembléia de acionistas, prevista para o dia 3. O fundo de previdência Previ, um dos maiores investidores da Sadia, pediu esclarecimentos à empresa depois do prejuízo.
Furlan, que esteve com o presidente Lula na sexta-feira passada, afirmou ter lembrado a ele que a afirmação de que empresas exportadoras, como a Sadia, estariam especulando contra o real ¨foi infeliz¨. ¨Os bancos internacionais que colocaram 200 empresas brasileiras numa situação de aperto especularam contra o real¨, disse Furlan.
¨Quem especulava a favor acreditava na estabilidade da economia, na taxa de câmbio histórica e no que o próprio presidente falou, que a crise não chegaria ao país. Essas empresas é que levaram ferro.¨
Para depois
A Sadia deverá postergar os investimentos em novas fábricas, previstos para o próximo ano. ¨Vamos ter de reestudar investimentos, e não somos só nós¨, afirmou Furlan, durante a inauguração de fábrica de alimentos industrializados em Toledo (PR). ¨Falei com uma dúzia de presidentes [de empresas] e todos estão olhando para a frente de uma forma mais cautelosa.¨
Nos novos projetos há duas fábricas no Brasil e a segunda unidade da empresa no exterior. No país, as fábricas cujos investimentos poderão ser postergados são um abatedouro de frangos em Campo Verde (MT) e um de suínos em Mafra (SC). Os investimentos previstos são da ordem de R$ 630 milhões e R$ 650 milhões, respectivamente. Já a fábrica de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, um dos principais mercados da Sadia, exigiria gastos de R$ 150 milhões. No Brasil, seriam geradas 8.000 vagas e, nos Emirados, 700.
¨É possível que [o investimento em Abu Dhabi] seja adiado¨, disse Furlan. ¨A prioridade é colocar em funcionamento os investimentos que já estão em andamento. Não faz sentido começar um projeto que vai desabrochar daqui a dois anos e faltar recursos para uma fábrica que daqui a dois ou três meses estará operando.¨
Retração
Além da fábrica de Toledo, cuja produção passará de 17 mil toneladas para 81 mil toneladas por ano, a Sadia irá inaugurar outras cinco unidades até março de 2009. Juntas, elas representarão receita adicional de R$ 4 bilhões por ano para a empresa, que deverá faturar R$ 12 bilhões em 2008. A Sadia deixou de exportar US$ 300 milhões, em 2008, por falta de capacidade produtiva. Os novos investimentos atenderiam a essa demanda, mas a possível retração e a turbulência na economia obrigaram a empresa a rever os planos.