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DIA A DIA

Braquiária retém carbono no solo
22/10/2008 - O Estado de S.Paulo

O desafio para a atividade pecuária diminuir as emisssões de gases do efeito estufa ganhou um aliado importante, com a comprovação de que a Brachiaria decumbens tem potencial para seqüestrar CO2 da atmosfera.

¨Considerando que esse capim ocupa 80 milhões de hectares no País, ou 40% da área total de pasto, é um alento saber desse potencial, porque, para muitos criadores, a emissão de metano na pecuária é inexorável¨, diz o pesquisador Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação Agropecuária.

Martin Neto foi o orientador da tese de doutorado Estrutura e Estabilidade da Matéria Orgânica em Áreas com Potencial de Seqüestro de Carbono no Solo, defendida em 2007 por Aline Segnini, do Instituto de Química de São Carlos/USP. ¨O Brasil tem muitas áreas de pastagens degradadas que podem ser recuperadas e que têm potencial para seqüestrar carbono. O potencial dessas áreas é surpreendente.¨


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O estudo quantificou o estoque de carbono no solo de quatro áreas com diferentes manejos, utilizando uma área de ¨cerradão¨ como referência. A primeira área tinha histórico de 27 anos de pastagens com B. decumbens sem adubação; a segunda não recebeu calcário na superfície, apenas adubação mineral; o terceiro experimento recebeu calcário, adubo e reforço de calcário; e o quarto experimento recebeu apenas calcário, sem adubação. Comparadas as áreas, constatou-se estoque de carbono no solo de 174 toneladas/hectare na área 1; 212 toneladas/hectare na área 2; 215 toneladas/hectare na área 4 e 223 toneladas/hectare na área 3, ante 129 toneladas/hectare na área de cerradão. ¨Onde o manejo foi mais intensivo, o seqüestro de carbono foi maior¨, diz Martin Neto.

Na prática, a contribuição do pecuarista no processo de mitigação do efeito estufa está no manejo do pasto como se fosse uma cultura, fazendo correção de solo e adubação, e adotando pastejo rotacionado e ajustando a lotação animal.

Para o pesquisador Odo Primavesi, da Embrapa Pecuária Sudeste, o seqüestro de carbono no solo será uma realidade quando o manejo evitar a superlotação (maior número de animais/hectare em relação à oferta de forragem) e as queimadas. ¨A partir daí, o sistema radicular da forrageira será fortalecido; conseqüentemente, a decomposição biológica das raízes mortas e resíduos vegetais não queimados acumulará carbono no solo.¨

Segundo Primavesi, o teor de matéria orgânica de uma área de pastagem bem manejada chega a 4%, ante 1,5% em área de lavoura convencional e 2% em plantio direto. Em pastagens, esse teor é maior, até mesmo em relação a áreas de florestas, cujo índice de matéria orgânica não passa de 3,5%. ¨Quando se adota pastejo rotacionado, com adubação, é grande a chance de acumular de três a dez vezes mais carbono no solo em comparação a um pastejo extensivo.¨

Pecuarista fará inventário ambiental na fazenda

De olho no potencial do mercado de carbono, o pecuarista José Luiz Niemeyer dos Santos, de Guararapes (SP), vai fazer um inventário do carbono da fazenda. ¨Não sei qual será o lucro, mas sei que a braquiária bem manejada pode seqüestrar CO2¨, diz ele, que vai contratar empresa especializada para o serviço.

Santos é adepto do manejo agroecológico - que inclui o plantio de 40 mil árvores/ano - há mais de 50 anos. Na Fazenda Terra Boa, de 1.800 hectares, onde ele confina 3 mil animais/ano, o pasto de braquiária brizanta é tratado como cultura.

¨Todos os anos faço análise de solo, que serve para fazer um manejo estratégico. Sei, por exemplo, que as áreas que recebem adubo nitrogenado sofrem acidificação. Nessas áreas, portanto, a calagem é necessária¨, diz. Outra maneira de manter o pasto bem cuidado é plantar grãos, como milho e sorgo, para recuperar áreas degradadas. ¨O manejo dispensado para a lavoura, com adubação e calagem, renova a área. O solo recuperado volta a ser pasto.¨

Segundo o pesquisador Marcelo Theoto Rocha, do Cepea/Esalq/USP, já há, para depois de 2012, propostas para o Protocolo de Kyoto de inclusão de outras atividades que possam ser revertidas em créditos de carbono, além de projetos de florestamento e reflorestamento. ¨Mas se o acúmulo de carbono no solo vai virar crédito um dia vai depender da viabilidade do monitoramento desse carbono no solo. É preciso definir como será feito esse acompanhamento para ver se o custo-benefício valerá a pena.¨

  

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