Crise paralisa novos projetos de usinas de açúcar e álcool 25/10/2008
- Marcelo Toledo e Lucas Reis
Metade das usinas de álcool e açúcar que estavam previstas para entrar em funcionamento nesta safra no centro-sul do país teve seus projetos adiados ou o ritmo das obras desacelerado em razão da crise de crédito que atinge a economia.
A afirmação é do secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, João Sampaio, para quem a onda de fusões e aquisições entre usinas em São Paulo deve ser ampliada nos próximos anos, como forma de sobrevivência das empresas.
Ao todo, 35 usinas deveriam entrar em operação na safra 2008/9. ¨Menos da metade vai entrar. O resto foi postergado. Esse é o número com que o Estado está trabalhando¨, afirmou o secretário, que disse seguir o que o mercado discute.
PUBLICIDADE
Parte das novas usinas tem como origem grupos sucro-alcooleiros já instalados em São Paulo que, por causa da saturação do Estado, buscam a expansão principalmente em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Na Usina São Francisco, em Sertãozinho, região de Ribeirão Preto, todos os investimentos já foram adiados. ¨Suspendemos todos os projetos até que a gente possa saber até onde vai a crise¨, disse Jairo Balbo, diretor industrial da usina.
Entre os projetos suspensos está a ampliação da Usina Uberaba, cuja previsão era ter início neste ano. ¨A terceira fase está parada. A idéia era iniciar a nova fase para ampliar a moagem da cana. Agora, estamos sem previsão para isso¨, afirmou. Em relação a novas usinas, ele diz: ¨Nem pensar¨.
Irreversíveis
O usineiro Maurilio Biagi Filho, presidente da Usina Moema, afirmou que a crise só não vai jogar para os anos seguintes os projetos cujos estágios eram considerados ¨irreversíveis¨. ¨A crise está aí. Ela demora um pouco para aparecer, mas vai empurrar uma série de investimentos para os próximos anos, vai empurrar um pouco as decisões do setor. A não ser alguns locais em que [as obras] estavam em ponto irreversível.¨
Para o secretário da Agricultura, as empresas do setor terão que se unir por causa do crédito escasso, o que implicará fusões. ¨Há uma tendência de as usinas pequenas serem incorporadas. Era um processo de consolidação que iria ocorrer nos próximos anos. Isso vai ser acelerado. Provavelmente, se a crise continuar por um período mais longo, algumas usinas farão a safra de maneira diferente, vão se buscar, se juntar¨, disse.
O grupo Santelisa Vale, um dos principais produtores de açúcar e álcool do país, viu sua dívida crescer após a alta do dólar: com dívidas de US$ 300 milhões, o total subiu cerca de R$ 200 milhões desde o início da escalada do dólar.
A dívida passou a existir a partir da fusão entre as empresas dos grupos Santa Elisa e Vale do Rosário, em 2007, de acordo com a assessoria do grupo. As de curto prazo estão sendo refinanciadas -os contratos de longo prazo serão mantidos. A expectativa da empresa é que os estoques, voltados à exportação, compensem o valor da dívida.
Para a Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), no entanto, o cenário é diferente. ¨Das 32 usinas que estavam previstas para entrar em funcionamento no centro-sul do Brasil, apenas 3 não vão entrar¨, disse Sérgio Prado, diretor da entidade em Ribeirão Preto. Para ele, não há motivos para preocupação no setor.
¨Apesar da crise, novas usinas poderão entrar em operação. Aquele projeto que estava em andamento não vai parar. O crédito está restrito, mas o dinheiro não sumiu. Uma hora vai acontecer novamente.¨