Empresas terão 70% dos ganhos ¨engolidos¨ por câmbio e juros 26/10/2008
- Folha Online
As empresas brasileiras com ações em Bolsa deverão destinar cerca de 70% de seus ganhos para cobrir despesas financeiras com juros e variação cambial no terceiro trimestre de 2008, segundo estudo da consultoria Economática, informa o repórter Toni Sciarretta, em matéria publicada na edição deste domingo do jornal Folha de S.Paulo.
Esse cenário poderá acarretar corte de custos e menos investimentos, o que comprometerá o crescimento econômico. Estima-se que as dívidas das empresas em moeda estrangeira estejam hoje na casa dos US$ 60 bilhões.
Com a alta de 20% da moeda americana no terceiro trimestre, a expectativa é que as despesas com juros e câmbio batam facilmente em R$ 17,067 bilhões, montante que deve consumir 71% do lucro operacional das empresas abertas.
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A Economática analisou dados de 241 empresas, excluindo Vale e Petrobras, nos últimos nove trimestres.
BNDES
Na última sexta-feira, durante uma palestra no Rio de Janeiro, o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, disse que a instituição pretende ajudar empresas exportadoras que tiveram perdas com derivativos cambiais. Ele explicou que o processo está em discussão e será feito em conjunto com outros bancos.
¨É uma parte de empresas exportadoras, que tinham gestão financeira mais sofisticada que entraram nesse tipo de derivativo. É um conjunto limitado e é um processo que está em curso. A grande maioria está renegociando com a própria rede bancária condições para solucionar isso¨, afirmou.
Coutinho explicou que o BNDES vai avaliar caso a caso e acrescentou que o setor bancário privado está disposto a refinanciar as perdas dessas empresas e ¨diluir isso na frente¨. ¨Uma vez que isso seja solucionado vai desaparecer um elemento de incerteza que tem travado um pouco o processo de concessão de crédito dentro do sistema bancário¨, completou.
Empresas como Sadia, Aracruz e Votorantim anunciaram perdas na casa dos R$ 5 bilhões com as chamadas operações de ¨hedge¨ (proteção) cambial. O governo, porém, já estimou em torno de 200 as empresas que podem estar expostas a este tipo de ativo.
Açúcar e álcool
Neste sábado, o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, João Sampaio, afirmou que metade das usinas de álcool e açúcar que estavam previstas para entrar em funcionamento nesta safra no centro-sul do país teve seus projetos adiados ou o ritmo das obras desacelerado em razão da crise de crédito que atinge a economia.
O secretário acredita que a onda de fusões e aquisições entre usinas em São Paulo deve ser ampliada nos próximos anos, como forma de sobrevivência das empresas.
¨Há uma tendência de as usinas pequenas serem incorporadas. Era um processo de consolidação que iria ocorrer nos próximos anos. Isso vai ser acelerado. Provavelmente, se a crise continuar por um período mais longo, algumas usinas farão a safra de maneira diferente, vão se buscar, se juntar¨, disse.