Criador ganha até 20% mais por arroba 05/11/2008
- Niza Souza - O Estado de S.Paulo
Propriedades habilitadas a exportar para a Europa recebem até 20% a mais em relação ao valor de mercado do boi gordo
O primeiro passo para ingressar na tão cobiçada lista de exportadores de carne bovina da União Européia é contratar uma certificadora credenciada pelo Ministério da Agricultura, que orientará o pecuarista sobre como adequar a fazenda de acordo com os quesitos da Instrução Normativa 17. Depois a fazenda será cadastrada como Estabelecimento Rural Aprovado no Sisbov (Eras) e só então o produtor poderá solicitar a auditoria. Se estiver de acordo com todos os itens do check-list, será habilitada.
A auditoria é ampla. São conferidos desde os dados de identificação da propriedade até se o número de elementos de identificação (brincos, bottons) comprados confere com o estoque e os elementos usados. Em fazendas com até 300 animais, os auditores precisam checar individualmente os animais,ver se estão com o brinco de identificação e anotar os números para conferência. Em propriedades com mais de 300 animais, deve-se anotar no mínimo 300 números e verificar a presença de elementos de identificação em 600 animais.
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¨VALE A PENA¨
O caminho é longo e burocrático, mas quem chegou lá garante que vale a pena. ¨Fui habilitado este mês e já consegui vender quase todo o rebanho para um frigorífico. Recebi R$ 12 a mais por arroba¨, diz o pecuarista Paulo Ferola, da Fazenda Cruzeiro do Sul, em Uberaba (MG), que abate em torno de 600 cabeças por ano.
Segundo Ferola, o mais difícil não é manter o rebanho saudável e bem tratado, mas a burocracia. ¨O que interessa para a UE é a documentação de que todos os animais atendem às exigências em termos de sanidade¨, ensina. ¨Precisamos registrar a compra do gado, a ?brincagem?, os medicamentos, a alimentação. É preciso mostrar notas fiscais de tudo.¨
Para manter a papelada organizada, Ferola - que faz questão de ressaltar que foi muito bem orientado pela certificadora - teve de montar um pequeno escritório, contratar um funcionário e capacitar outro. ¨Tenho dois funcionários só para cuidar da rastreabilidade¨, diz.
Organizar bem a fazenda também foi a lição que o pecuarista José Ribeiro de Carvalho, de Lagoa Grande, na região de Patos de Minas, teve de aprender para habilitar a fazenda. ¨Temos que envolver todos os funcionários no processo. Se um animal morrer, na hora tem de pegar o brinco e dar baixa¨, ensina.
Ele conta que não conseguiu habilitar a fazenda na primeira auditoria. ¨Os técnicos ficaram dois dias aqui e não me credenciaram imediatamente porque estava faltando um animal no estoque.¨ Resolvido o problema, em agosto a fazenda foi habilitada e entrou para a lista da UE. Hoje, ele recebe em torno de 10% a mais pela arroba.
DEMANDA AQUECIDA
Em Goiás, o prêmio é ainda melhor. ¨Estou recebendo cerca de 20% a mais no preço da arroba¨, diz o pecuarista Fábio Porto Rodrigues da Cunha, que há três meses conseguiu habilitar suas duas fazendas, em São Luiz de Montes Belos e Juçara. Como o número de fazendas habilitadas ainda é pequeno, diz Cunha, a demanda é maior que a oferta e os frigoríficos, com dificuldade de comprar, pagam mais.
¨É um trabalho de vários anos, desde que foi lançada a idéia do Sisbov¨, diz ele, que, mesmo na época em que a indústria deixou de bonificar animais rastreados, continou acreditando na importância da rastreabilidade. ¨Investimos na identificação física de cada animal e no treinamento dos funcionários. Montamos um sistema de informática, com um software próprio.¨
Para Cunha, não há segredo para se manter na lista. ¨Basta adotar um bom sistema de gestão. Mesmo porque não basta estar em conformidade na primeira visita dos auditores oficiais. É preciso manter tudo certo, porque as auditorias são feitas a cada 60 dias.¨