Crise financeira desembarcou no Brasil, diz ¨ The Economist¨ 08/11/2008
- BBC
A revista britânica The Economist afirma que a crise financeira internacional desembarcou no Brasil apesar da confiança inicial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a chamar a turbulência global de ¨crise do (presidente dos Estados Unidos) Bush¨.
Só que desta vez o problema é o setor privado, e não as finanças públicas, afirma a publicação na edição que chegou às bancas nesta sexta-feira.
¨O crédito está ficando cada vez mais escasso e os bancos cada vez mais desconfiados entre si¨, diz o artigo, intitulado ¨A crise de crédito chega ao Brasil privado¨.
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A revista cita a fusão dos bancos Itaú e Unibanco, anunciada no último dia 3 de novembro - que deve criar a maior instituição financeira da América Latina e uma das 20 maiores do mundo - reproduzindo uma frase de Roberto Setúbal, do Itaú, em que ele afirma que a crise acelerou este processo.
¨Apesar de as notícias terem agradado os sócios do novo banco, elas não tiraram a atenção de ninguém do nervosismo generalizado¨, diz a revista, que relata que várias companhias da Zona Franca de Manaus deram férias não remuneradas a seus empregados, o que acontece pela primeira vez em três décadas.
Para a revista, o negócio entre os dois bancos deve alavancar uma nova onda de fusões no sistema bancário no país.
Efeitos repentinos
A publicação britânica afirma que os efeitos da crise no Brasil começaram repentinamente, depois de um período em que ¨a economia brasileira estava crescendo no passo mais rápido desde meados dos anos 1990, ajudada pelo preço recorde das commodities e pelo crescimento de crédito¨.
¨Os problemas começaram de repente, no mês passado, com a venda em massa de ações brasileiras e investidores estrangeiros fugindo para tentar cobrir perdas em outros lugares ou apenas voltando para casa¨.
Segundo a revista, junto com a desvalorização do real, este fenômeno provocou perdas inesperadas nos contratos de derivativos em moeda estrangeira que eram usados para tentar limitar a exposição de companhias brasileiras dos altos e baixos do preço do dólar.
¨Enquanto o real estava se valorizando, estes contratos pareciam uma boa aposta, mas as companhias ficaram com uma falsa sensação de segurança¨, disse Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, à publicação.
A Economist afirma que 200 empresas firmaram este tipo de contrato, sendo que algumas registraram grandes perdas. ¨O temor sobre quantas outras podem apresentar prejuízos espalharam mais medo e fez com que os banco diminuíssem seus empréstimos¨.
O crédito também ficou mais escasso no país no último mês. A publicação cita dados do Banco Central que apontam que o crédito para o comércio caiu pela metade em relação a meados de setembro, além de notícias sobre dificuldades de crédito para a agricultura (¨o que pode prejudicar a safra do próximo ano¨) e para o consumidor.
Medidas do governo
A Economist afirma que membros do governo não estão mais dizendo que o Brasil não será afetado pela recessão global e cita o fato de o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ter confirmado, no final de outubro, que o governo vai reduzir a meta de superávit fiscal para 2009 de 4,3% para 3,8%.
Outra medida citada é a injeção de dólares pelo Banco Central para tentar estabilizar o valor da moeda.
Os movimentos do governo brasileiro no sentido de permitir que bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, possam comprar ações de bancos em crise também são citados.
A revista aponta que, no entanto, por causa de crise financeiras anteriores, a maior parte dos bancos do país tem gestões bastante conservadoras, o que torna improváveis falências de grandes instituições financeiras no momento.
Culpa do setor privado
Elogiando o governo brasileiro, a publicação afirma que o país usou as condições favoráveis dos últimos anos para melhorar suas finanças, diminuindo a dívida pública e finalizando grande parte de sua dívida em dólar, o que pode fazer com que a desvalorização do real não traga grandes problemas fiscais.
¨Mas, com a estabilidade financeira, muitas empresas fizeram dívidas em dólar e contratos de derivativos. O resultado é uma novidade para o Brasil: um problema financeiro causado pelo setor privado e não pelo público. É um progresso, de alguma forma, mas significa que os investimentos vão ter uma queda brusca. Analistas reduziram as previsões de crescimento para 2009 para entre 2% e 3%. Mesmo assim, muitas economias maiores irão cair ainda mais¨, diz a publicação.