Dólar e Bolsa fecham em alta 11/11/2008
- Agência Estado
Dólar encerra em alta de 1,41%, cotado a R$ 2,222
O mercado de câmbio doméstico operou com fraco giro financeiro e com o dólar em alta durante toda a sessão. As cotações persistiram em terreno positivo por causa de ajustes à valorização externa do dólar em relação ao euro, num ambiente de fortes quedas dos preços de commodities (matérias-primas) e das bolsas de valores pelo mundo todo. O dólar comercial avançou 1,41% e fechou cotado a R$ 2,222. Na BM&F, o dólar negociado à vista subiu 1,55%, para a R$ 2,224. Às 17h09, o euro perdia 1,52%, a US$ 1,2545.
¨A percepção de que a crise financeira global já atinge a economia real, através da retração dos consumidores para gastos e dos resultados abaixo do esperado de empresas e redes varejistas no terceiro trimestre nos EUA e Europa, induziu ainda mais investidores a saírem de aplicações em ações e matérias-primas e a rumarem para o dólar¨, afirmou o operador José Carlos Amado, da Renascença Corretora. Por isso, a moeda norte-americana ganhou força hoje em relação ao euro. Ainda assim, afirmou Amado, o mercado doméstico não está tomador de moeda. ¨O que ocorreu ontem e hoje foi muito mais ajustes das cotações à vista ao avanço externo da moeda do que uma correção causada por demanda¨.
A retração do tomador se refletiu no giro financeiro à vista de hoje, o menor desde 15 de setembro último, que foi a segunda-feira em que o banco de investimentos Lehman Brothers, o quarto maior dos Estados Unidos, anunciou que iria declarar concordata. Hoje, o giro total à vista somou apenas cerca de US$ 927 milhões.
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Outro sinal da menor demanda por dólar no mercado interno é a realização pelo BC hoje, novamente, de apenas um leilão de contratos de swap cambial. A exemplo de ontem, o Banco Central vendeu apenas parcialmente a oferta desses contratos. De um total de 10.000 contratos ofertados (equivalentes a cerca de US$ 500 milhões) com vencimento em 2 de fevereiro de 2009, foram vendidos apenas 2.900 contratos, equivalentes a US$ 143,7 milhões. Neste tipo de operação, o BC assume posição vendedora em câmbio e compradora em taxa de juros.
¨O mercado dá sinais de que parece estar saturado de contratos de swap cambial. Também não houve demanda pontual de investidor para remessas ou importação, uma vez que, nesses casos, o BC costuma atender a eventual demanda específica por meio de leilão de venda direta de moeda¨, observou um experiente operador de um banco nacional. Para ele, o prazo curto dos contratos, que exige rolagem no vencimento, além da postura seletiva do BC na definição de taxas podem estar desmotivando o mercado.
No exterior, os investidores reduziram posições em ações e em commodities, temerosos com a menor inclinação dos consumidores aos gastos por causa do contágio da crise financeira global sobre a economia real. Hoje, o pessimismo foi realimentado por notícias sobre empresas norte-americanas, como a de construção de imóveis de luxo Toll Brothers, a cafeteria Starbucks e, mais uma vez, a General Motors. As ações da GM foram cotadas a US$ 2,75 no pior momento do dia, o menor valor desde 1943. Os investidores seguem preocupados com a viabilidade da companhia e de outras montadoras.
Bolsa sobe 1,32% e apaga perdas do mês
A uma hora do fechamento do pregão, a Bovespa apagou as perdas registradas até então e passou a subir, graças à redução das quedas nas bolsas norte-americanas. Os investidores aproveitaram a trégua dada por Wall Street para ir às compras, principalmente de ações ligadas às commodities (matérias-primas), ainda na esteira do pacotão econômico chinês, anunciado domingo. Vale virou para cima e as siderúrgicas, que já vinham exibindo altas, ampliaram os ganhos.
O Ibovespa terminou a terça-feira em alta de 1,32%, aos 37.261,90 pontos. Oscilou entre a mínima de 35.499 pontos (-3,47%) e a máxima de 37.629 pontos (+2,32%). No mês, voltou a subir, apenas 0,02%, mas continua tendo queda no ano, de 41,67%. Por causa do feriado do Dia do Veterano nos EUA, o giro financeiro foi um pouco menor e totalizou R$ 3,354 bilhões.
Às 18h18, em Nova York o índice Dow Jones perdia 1,48%, o S&P, 1,75%, e o Nasdaq, 1,54%. As perdas mais cedo eram muito maiores, diante das notícias ruins que continuam pipocando nos Estados Unidos.
Hoje, a construtora Toll Brothers e a rede de cafeterias Starbucks divulgaram queda nos resultados trimestrais, enquanto a American Express ganhou rápida aprovação do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para se tornar uma holding bancária e, assim, poder ter acesso ao fundo de resgate do governo americano de US$ 700 bilhões. Já a Alcoa anunciou um corte maior da produção de aço. Tais informações reforçam a percepção de que a inclinação dos consumidores aos gastos está piorando. ¨Não parece que vai melhorar, não importa quanto dinheiro vão jogar nas financeiras¨, disse um operador, segundo a Dow Jones.
O setor automotivo ilustra bem os efeitos da crise na economia real. As montadoras norte-americanas estão enfrentando problemas severos que terão que contar com a mão estatal para serem solucionados. O ícone desta safra ruim é a General Motors e sua saúde financeira debilitada. Seus papéis foram cotados hoje no menor valor desde 1943, a US$ 2,76, na mínima do dia. Além dela, os investidores também estão preocupados com as fabricantes de autopeças, que podem sofrer com a falta de caixa das montadoras e deixarem de receber em caso de concordatas.
O fato de as concordatas estarem se replicando também é um viés que contribui para manter esse clima de incerteza no ar. Ontem, a Circuit City pediu concordata e há uma grande chance de a GM fazer isso em breve. ¨Esse movimento tem que cessar para o dinheiro voltar ao mercado acionário¨, prognosticou o gestor da corretora Umuarama Rafael Moysés.
Por trás desse quadro nebuloso, no entanto, estão as injeções de recursos por parte dos governos para tentar impedir uma recessão e trazer de volta a normalidade às economias. E na brecha que houve hoje, a notícia do pacote bilionário do governo chinês encontrou espaço para ecoar na Bovespa, especialmente nas ações ligadas às commodities. A Vale, que vinha caindo desde a abertura, virou para cima e fechou com ganhos de mais de 1%. As ON avançaram 1,25% e as PNA, 1,23%. Gerdau PN subiu 6,3%, Metalúrgica Gerdau PN, 3,78%, CSN ON, 3,54%, Usiminas PNA, 0,08%.
Petrobras chegou a subir, mas não sustentou os ganhos. Caiu 1,84% a ON e 0,17% a PN. Depois do fechamento do mercado, a estatal divulga seu balanço trimestral, para o qual o mercado espera um lucro de R$ 9,5 bilhões, na média. Em Nova York, o petróleo recuou 4,94% e fechou a US$ 59,33 por barril, o menor preço em 19 meses.
O setor elétrico também esteve na ponta de ganhos. Eletrobrás ON subiu 10,51% e PNB, 9,91%, respectivamente segunda e terceira maiores altas do Ibovespa. A empresa vai divulgar hoje seu balanço trimestral.