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DIA A DIA

Alta do dólar já pressiona indústria
20/11/2008 - Alessandra Saraiva, Leandro Modé e Silvana Rocha - O Estado de S.Paulo

Quatro leilões do Banco Central (BC) foram insuficientes para impedir uma nova alta do dólar ontem. Na véspera do feriado no Rio e em São Paulo, entre outras cidades, a moeda americana subiu 2,58% e fechou cotada a R$ 2,385, maior valor desde maio de 2006. De meados de setembro - quando a crise financeira global se aprofundou - até ontem, o dólar avançou 34%.

Profissionais do mercado financeiro explicaram que pesaram sobre o mercado de câmbio as informações negativas a respeito da economia americana, os ganhos do dólar ante outras moedas, a preocupação cada vez maior com a saúde dos países emergentes (em especial, Rússia e Turquia) e as compras de empresas brasileiras para cobrir perdas com os derivativos tóxicos.

“Com essa trajetória de alta, empresas que estavam mais tranqüilas com o dólar a R$ 2,10, R$ 2,20, voltam a ficar preocupadas”, disse o vice-presidente da mesa de operações do banco WestLB, Alexandre Ferreira. Apesar de todos esses fatores, ele vê um certo exagero na desvalorização do real.


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Segundo ele, do fim de agosto para cá, o dólar ganhou 46% ante o real, 32% ante o dólar australiano, 28% ante o peso chileno, 45% diante da lira turca e 27% em relação ao dólar da Nova Zelândia. São todos países emergentes, a maioria de exportadores de commodities, como o Brasil. Com a crise, os preços desses produtos despencaram, o que reduzirá suas receitas de exportação e, por tabela, derruba as moedas nacionais.

Houve, também, quem atribuísse as perdas do real ontem a um movimento especulativo, que estaria sendo alimentado involuntariamente pelo BC com os leilões de swap reverso - operação na qual o BC vende às instituições financeiras um papel que lhes dá direito a receber um determinado valor, em reais, corrigido pelo dólar dentro de um período de tempo. O BC, em contrapartida, adquire o direito de receber determinado valor corrigido pela taxa de juros.

Segundo um operador, a ampliação dos ganhos do dólar não resultou de um fluxo financeiro negativo ou demanda de investidores para hedge (proteção). Refletiu um aumento de posição comprada no mercado futuro de dólar na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que seria estimulada pelos leilões do BC. “Será que há necessidade de venda de tanto swap cambial? Aparentemente, não há no mercado necessidade de hedge. O BC está dando lucro para os bancos”, observou.

A alta da moeda americana já se reflete nos preços. A inflação do setor industrial atingiu em novembro sua taxa acumulada mais alta em mais de três anos por causa do aquecimento da demanda no início do ano e pela disparada da cotação do dólar nos últimos dois meses.

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do Estado mostra que, até a primeira prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de novembro, os preços no setor subiram 16,36% em 12 meses, a maior variação desde fevereiro de 2005 (17,51%) - ano que marcou a mudança de nível das commodities metálicas, com reajuste de 71,5% do minério de ferro.

A inflação industrial até novembro está acima dos resultados consolidados, no mesmo período, dos três segmentos que compõem o IGP-M: atacado (14,75%), varejo (5,84%) e construção civil (12,29%). Foi superior à média do IGP-M (12,34%).

Responsável pelo levantamento, o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, comentou que as razões que levaram a inflação do setor a subir de forma tão expressiva no primeiro semestre não são as mesmas que catapultaram os preços industriais nos últimos dois meses.

Ele lembrou que, no início do ano, o mercado interno apresentava sinais de forte aquecimento. No primeiro semestre, o câmbio permanecia “comportado”, situação completamente diferente da verificada nos últimos dois meses. “Há muito tempo isso não acontecia”, disse, referindo-se à intensidade da desvalorização cambial.

O analista do Modal Asset Tomás Goulart afirmou que o comportamento desses preços daqui para a frente dependerá muito do que vai ocorrer com o câmbio. “Creio que voltar a um nível de dólar abaixo de R$ 2 é quase impossível.” Para ele, a elevada cotação pode continuar justificando reajustes de preços de insumos industriais relacionados à moeda americana.

  

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