Crise desacelera aumento de preços de terras no Brasil 25/11/2008
- Venilson Ferreira - Agência Estado
Valorização em 12 meses foi de 12,5% em termos nominais; descontada a inflação, porém, houve leve deflação
A crise financeira global, que provocou restrição no crédito e queda dos preços das commodities agrícolas, começa a afetar o mercado de terras no Brasil. Nos últimos doze meses, a valorização média dos preços das terras foi de 12,5% em termos nominais. ¨Descontando-se a inflação no período, houve ligeira queda de 0,1% em doze meses, o que significa que já começa a haver perda de patrimônio¨, diz Jacqueline Bierhals, analista de mercado da consultoria Agra FNP.
Segundo o levantamento da Agra FNP, no bimestre setembro-outubro o preço das terras na média foi de R$ 4.341/hectare, praticamente estável em relação ao bimestre anterior (julho-agosto), quando a média foi de R$ 4.334/hectare. O levantamento mostra que na média de 36 meses atrás (R$ 3.082/hectare), verifica-se que a valorização foi de 40,9%. Diante de uma inflação acumulada de 23,6% no período, chega-se a um ganho real de 5,4%.
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Jacqueline Bierhals comenta que ¨o momento é de espera, de suspensão dos negócios até que a verdadeira extensão dessa crise seja conhecida¨. O impacto maior da crise é nas áreas localizadas nas novas fronteiras agrícolas, principalmente na região conhecida por Mapito (Maranhão-Piauí-Tocantis) e o no oeste baiano, onde se concentra os investimentos de grupos estrangeiros na compra de terras. ¨A maioria dos negócios engatilhados foi adiada para o início de 2009, mas nada garante que esse prazo não venha a ser estendido. Vale ressaltar, contudo, que não houve queda nos preços na região¨, diz Jacqueline.
Apesar de o agronegócio do Centro-Oeste ser o mais atingido pela crise financeira, por causa da queda dos preços que acentua o alto custo da logística, a região foi a que apresentou a maior valorização em 36 meses nos preços das terras. Na comparação com doze meses, o aumento mais expressivo foi na região Sul, com alta de 23,8%.
A analista observa que o mercado de terras sempre deve ser analisado em longo prazo. ¨Aparentemente, os investidores tanto estrangeiros quanto nacionais continuam enxergando nas terras agrícolas do Brasil uma boa oportunidade de investimento. Particularmente as terras voltadas à agroenergia são muito promissoras no que tange à perspectiva de valorização¨, diz Jacqueline.
No caso das terras de cana-de-açúcar, enquanto os preços caem em São Paulo pressionados pelas vendas de canaviais pelas usinas e redução das margens no setor, na região Nordeste houve valorização. O estado de Pernambuco teve uma representativa correção no preço de suas terras em um ano, e as valorizações chegaram a atingir mais de 150%.
Jacqueline Bierhals afirmou que os produtores de grãos, os que mais negociam terras no Brasil, devem continuar com uma atuação bastante limitada, ¨devido ao peso de dívida e à forte restrição de crédito¨. Segundo ela, a liberação de R$ 1 bilhão pelo BNDES para recuperação de áreas degradadas pode vir a trazer algum ganho patrimonial aos donos de terras. ¨Ainda assim, essa medida não deve impedir que alguns produtores venham a se desfazer de seus imóveis para liquidação de suas dívidas, o que abre uma boa perspectiva de negócios para aqueles que estejam capitalizados e programados a expandirem suas áreas de cultivo.¨
Jacqueline Bierhals diz que nos próximos meses pode haver problemas graves no Mato Grosso, em função do endividamento, que pode incluir o confisco de fazendas, a exemplo o que está ocorrendo atualmente com a retomada de máquinas agrícolas pelos agentes financeiros.