Vacina purificada chega ao rebanho 26/11/2008
- Niza Souza - O Estado de S.Paulo
Sindan estima que pelo menos 50% das doses vendidas na campanha deste mês já sejam de vacinas de nova geração
A segunda etapa de vacinação contra febre aftosa, que se encerra esta semana em 18 Estados e no Distrito Federal, teve uma novidade: a utilização das vacinas purificadas, que não induzem o falso-positivo em testes sorológicos - ou seja, quando o teste dá positivo para febre aftosa por causa da vacina, e não pela real presença do vírus no animal.
O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, estima que 50% dos 180 milhões de doses de vacinas vendidas na etapa de novembro devem ser diferenciados, livres de proteínas não-estruturais - são justamente essas proteínas que provocam o ¨falso-positivo¨.
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¨As indústrias estão trabalhando há mais de cinco anos para desenvolver tecnologias e investindo na purificação, para produzir a vacina mais limpa possível¨, diz. ¨Já em 2009 poderemos cobrir 100% da imunização com as novas vacinas.¨
A primeira vacina diferenciada contra a febre aftosa fabricada em escala industrial no Brasil foi disponibilizada para o pecuarista brasileiro em abril. ¨É uma tecnologia inovadora que mantém o rebanho protegido contra a febre aftosa, facilita o trabalho das autoridades sanitárias para comprovar que não existe circulação de vírus da febre aftosa na região, permite verificar se o animal vacinado teve contato com o vírus da aftosa e valoriza os produtos de origem animal nas regiões onde é aplicada de forma sistemática.¨
Em termos de mercado externo, é mais um argumento contra países que se negam a importar carne brasileira porque o rebanho é vacinado. O Japão, por exemplo, só compra o produto de países cujo rebanho seja livre de aftosa, sem vacinação.
Apesar de a vacina ainda não ser obrigatória, Salani diz que a partir do ano que vem os pecuaristas brasileiros precisam ficar atentos na hora da compra. Em setembro o Ministério da Agricultura publicou a Instrução Normativa (IN) nº 50, que determina que as vacinas sejam livres de proteínas não-estruturais. No ano que vem, todo o rebanho deve receber a nova vacina. ¨Isso é resultado de uma parceria entre o Mapa, a indústria e o Centro Panamericano de Febre Aftosa.¨
AVANÇO
Para o setor, a nova geração de vacinas é um avanço no controle sanitário do País. ¨Se houver um foco de aftosa em outra fazenda, isso vai dar mais segurança para os pecuaristas que mantêm o rebanho vacinado na hora de fazer os testes sorológicos¨, diz o gerente de Pecuária da Agropecuária Jacarezinho, Fernando Boveda. As fazendas do grupo, que juntas somam um rebanho de 32 mil animais, entre corte e elite, usam a nova vacina desde o lançamento. Por enquanto, além de vantajosa, a nova vacina não afetou os custos de produção. ¨Com relação ao preço da dose não vimos nenhuma diferença. A vacina não é mais cara porque é purificada¨, afirma. ¨Esperamos que continue assim.¨
COMO FUNCIONA
O vírus da aftosa é formado por ácido nucléico, proteínas estruturais e proteínas não-estruturais. Quando ele se multiplica no organismo do bovino, o animal produz anticorpos contra proteínas estruturais e proteínas não-estruturais do vírus. O mesmo ocorre quando um bovino é vacinado com uma vacina convencional: a vacina induz anticorpos contra os dois tipos de proteínas. Por isso é difícil saber se os anticorpos contra as proteínas não-estruturais vêm da vacinação ou da infecção com o vírus.
Já vacina purificada só induz a formação de anticorpos contra as proteínas estruturais. Pode-se distinguir os anticorpos formados por causa da vacinação (contra as proteínas estruturais) dos que se formaram por uma infecção real (contra ambas as proteínas).