Brasil quer exportar carnes para reduzir déficit com a China 27/11/2008
- BBC
O Brasil planeja concluir acordos sanitários com a China na área de carnes bovina, suína e de aves para aumentar exportações e reverter a forte tendência de déficit observada na balança comercial entre os dois países.
A estratégia que dá prioridade a alimentos foi traçada a partir de um levantamento que revela que o déficit é, na pratica, superior ao que mostram as estatísticas.
Uma missão do Ministério da Agricultura está na China, e acordos sanitários deverão ser assinados para permitir a entrada de carne suína e bovina e a retomada das exportações de aves.
PUBLICIDADE
Atualmente, a China já consome esses produtos brasileiros, mas eles são primeiramente exportados a Hong Kong e então redirecionados ao continente.
Commodities
Um levantamento do governo brasileiro apurou que o déficit comercial com a China no primeiro semestre de 2008 foi superior a US$ 1 bilhão, apesar do alto preço das commodities observado entre janeiro e junho. As commodities são o principal tipo de produto que o Brasil exporta para a China.
Levando a alta dos preços em consideração, o Ministério da Agricultura fez uma simulação da balança recalculando as trocas do primeiro semestre com preços de commodities de 2006 e concluiu que o déficit real seria superior a US$ 4,5 bilhões.
¨A tendência do déficit é explodir se os preços agrícolas continuarem a cair rapidamente como estão caindo agora com a crise¨, afirmou o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Célio Porto, à BBC Brasil.
¨Onde é que o Brasil pode equilibrar, ou diminuir o déficit, no comércio com a China? É na área agrícola¨, acrescentou o secretário.
¨E em que produtos nós temos maiores chances de reduzir esse déficit mais rapidamente? Nas carnes, que são produtos dos quais somos grandes exportadores mundiais e, na China, nós não estamos ainda entrando.¨
Hong Kong
Estatisticamente, as exportações de carnes do Brasil para a China são próximas de zero, porém, as vendas a Hong Kong são um indício de que o produto é repassado ao continente.
¨Na parte de aves, há muita venda para a China a partir de Hong Kong sem problemas¨, disse Ricardo de Gouvêa, diretor-executivo do sindicato de carnes e derivados do Estado de Santa Catarina.
Em 2007, as vendas de produtos do agronegócio brasileiro para Hong Kong corresponderam a US$ 1,2 bilhão, 90% do total de exportações à ilha.
Carnes de frango, suínos e bovinos estão na lista dos três produtos mais comercializados.
Suínos
Um acordo sanitário deverá ser assinado durante a visita do secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, a Pequim na semana que vem para dar início às trocas bilaterais no comércio de carne suína.
Segundo o documento, frigoríficos brasileiros aprovados poderão exportar diretamente à China e vice-versa. Apesar de ser uma grande produtora de carne de porco, a China passou a ter interesse em importar esse tipo de carne depois de sofrer uma epidemia de síndrome respiratória e reprodutiva suína, que chegou a elevar os preços desse alimento em mais de 70% no final de 2007.
Embora ainda não compre oficialmente suínos do Brasil, a China consome o produto via Hong Kong, que é o segundo maior destino dessas exportações, atrás apenas da Rússia.
Aves e carnes
A missão também espera conseguir engrenar a retomada das exportações de aves diretamente à China. O Brasil já obteve licença de exportação à China para 24 frigoríficos de aves, dos quais dois chegaram a comercializar com Pequim no passado, mas tiveram a autorização revogada após casos de contaminação por bactérias.
Desde então, a China não liberou a entrada de aves brasileiras porque quer renegociar os termos do acordo para que passe a ser bidirecional, o que daria oportunidade aos frigoríficos chineses de também vender aves ao Brasil.
O Ministério da Agricultura está disposto a negociar com Pequim novos termos e trará na delegação técnicos para inspecionar os frigoríficos chineses produtores de processados, como um sinal de que o Brasil aceita comprar da China.
A expectativa é de que, uma vez solucionado o impasse sobre as aves, a China abra seu mercado também à carne de gado brasileira.