Meia Amazônia, não 29/11/2008
- Hugo Marques - ISTOÉ
O Greenpeace mobilizou seus escritórios em 30 países, nesta semana, para abrir uma campanha mundial contra a aprovação do projeto de lei conhecido como Floresta Zero.
A tradicional ONG denuncia uma proposta que tramita no Congresso prevendo a redução de 80% para 50% nas reservas legais de propriedades privadas.
Além da redução das reservas, o relator do projeto, deputado Jorge Khoury, do DEM baiano, quer compensar o desmatamento da Amazônia com a possibilidade de se fazer reflorestamento em outras áreas.
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Para o Greenpeace trata-se simplesmente de um incentivo ao desmatamento da Floresta Amazônica.
A Comissão de Meio Ambiente da Câmara quer votar o projeto ainda neste ano.
“Estamos acionando ambientalistas no planeta inteiro contra esta proposta e recolhendo assinaturas nos países”, diz Joanna Guinle, coordenadora da campanha ¨Meia Amazônia Não¨, do Greenpeace. “Vamos fazer um protesto agressivo.”
O Greenpeace tem muitos aliados, entre eles o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que é contra o projeto do jeito que está.
“Não podemos eliminar mecanismos de defesa das florestas e das áreas de preservação, como matas nas margens dos rios e reservas legais”, diz Minc. “É a ameaça que está embutida neste projeto.”
Mas a proposta também tem defensores de peso, como o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Ele acha que o projeto deveria separar a Amazônia do resto do Brasil, já que seria impossível restituir reservas em muitas áreas das regiões Sul e Sudeste.
“Não podemos tratar tudo da mesma forma”, diz Stephanes. “Eu diria que hoje 50% dos pequenos e médios agricultores não agem de acordo com a lei ambiental.”
O ministro disse à ISTOÉ que uma das saídas em estudo é a indenização dos agricultores da Amazônia para que não desmatem. Isso seria feito através de fundo pago por Estados em que a recomposição da vegetação é inviável.
Na terça-feira 18, Stephanes bateu boca com o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista e líder do PV na Câmara, deputado Sarney Filho.
“Vocês vão acabar com a agricultura familiar”, disse Stephanes, durante a reunião, ao ver na lista de sugestões a proposta de prisão de agricultores que desmatam.
Sarney Filho admitiu que os ânimos ficaram exaltados. “Houve frustração do segmento ruralista e o ministro demonstrou isso na reunião”, diz o deputado. “O ministro estava bravo, sem disposição para o diálogo.”
Os ânimos estão exaltados também na Câmara. O deputado paraense Nilson Pinto (PSDB), membro da Comissão de Meio Ambiente, defende plantas exóticas para reflorestar áreas desmatadas na Amazônia, mas se irrita quando perguntado se isso inclui cana-de-açúcar e dendezeiro.
“Meu amigo, o que atrapalha a tramitação do projeto são essas perguntas absolutistas, como a possibilidade de plantar dendê na Amazônia.”
Coordenador da Campanha da Amazônia do Greenpeace, Márcio Astrini lamenta o rumo das discussões: “O meio ambiente não tem maioria na Comissão do Meio Ambiente da Câmara, quem tem é a bancada ruralista.”