Pequenos e grandes ganham espaço com gestão sustentável 03/12/2008
- Andrea Vialli - O Estado de S.Paulo
Ao longo de três anos, um grupo de 108 pequenas e médias empresas (PMEs) que fazem parte da cadeia de fornecimento de grandes companhias receberam treinamento para pôr em prática uma nova demanda no mundo dos negócios: a gestão com foco em sustentabilidade. A fórmula foi posta em prática pelo programa Tear, iniciativa do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), orçada em US$ 2,6 milhões e que acaba de ser concluída.
Foram escolhidas nove companhias, as ¨empresas-âncora¨ - Santelisa Vale, Camargo Corrêa, Y. Takaoka e Gafisa, CPFL Energia, Vale , Petrobrás, ArcelorMittal e Pão de Açúcar -, de setores-chave da economia, para realizar o treinamento com clientes e fornecedores de pequeno porte, cujo faturamento não poderia passar de US$ 5 milhões/ano.
De acordo com Carla Stoicov, coordenadora do programa Tear, os objetivos do programa - melhorar a gestão das PMEs e possibilitar o acesso delas a novos mercados, além de aumentar sua produtividade e competitividade - foram cumpridos.
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¨Essas 108 companhias conseguiram conquistar 130 novos clientes e também 57 fornecedores. Além disso, 66% delas fortaleceram suas relações comerciais com grandes empresas¨, diz Carla.
A arquiteta Luciana Tomás, sócia do escritório de arquitetura e design de interiores que leva seu nome, conseguiu duplicar o tamanho da empresa. ¨No início do programa, tínhamos 12 funcionários, e hoje são 24. Estamos construindo uma nova sede e até tivemos de recusar novos projetos¨, conta.
Fornecedora das incorporadoras Gafisa e Y. Takaoka, a empresa foi convidada a participar do programa e acabou descobrindo um novo nicho para atuar: o da arquitetura ¨verde¨, uma tendência forte na atualidade e que usa materiais com baixo impacto ambiental, como madeiras certificadas. ¨Hoje, buscamos aplicar o conceito em cada novo projeto que realizamos¨, diz Luciana.
Para as grandes, o programa de treinamento acabou servindo como uma garantia de bons fornecedores. O grupo varejista Pão de Açúcar atuou como ¨empresa-âncora¨ no treinamento de nove fazendas que fornecem carne de novilhos e terneiros para a rede, um investimento de R$ 126 mil.
¨Além da base tecnológica, as fazendas puderam ter acesso a conhecimentos em gestão sustentável. Muitas passaram a ter programas de alfabetização de seus empregados e passaram a investir na recuperação ambiental das propriedades¨, diz Vagner Giomo, gerente de desenvolvimento do Pão de Açúcar.
O grupo, que colocou, como teste, duas toneladas de ¨carne sustentável¨ nas gôndolas no ano passado, espera fechar 2008 com uma produção de 90 toneladas mensais. ¨O produto vende bem, tanto que vamos seguir com o projeto, que terá um orçamento maior e incluirá 42 novas fazendas de Mato Grosso e Goiás, a partir de janeiro.¨
De acordo com Carla, do Ethos, os resultados ajudam a derrubar o mito de que sustentabilidade é assunto só para grandes companhias. A entidade decidiu continuar com o projeto, mesmo sem o financiamento do BID. A segunda edição terá início em 2009, e os setores e empresas participantes já estão sendo definidos.