Montadoras têm 300 mil veículos ou R$ 12 bi parados nos pátios 04/12/2008
- Karen Camacho - Folha de S.Paulo
As fabricantes de automóveis no país vivem, neste final de ano, uma das maiores quedas nas vendas, prejudicadas pela falta de crédito e aumento dos juros. Apesar da produção reduzida, para acompanhar a demanda desaquecida, as montadoras têm 305 mil veículos parados em seus pátios, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Considerando cálculo do mercado de que os veículos representam R$ 40 mil de capital de giro, em média, os pátios cheios representam ao menos R$ 12 bilhões parados. Isso sem contar com os custos de manutenção e as perdas com ausência de financiamentos.
Também em uma conta aproximada, um estoque como esse representa algo em torno de R$ 4 bilhões em impostos.
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De acordo com o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, o estoque ao final de novembro representava 56 dias, sendo 25 na indústria e outros 31 nas concessionárias.
A última vez que o setor registrou estoque tão alto foi em setembro de 2001, quando bateu 57 dias. Em outubro deste ano, o estoque estava em 38 dias, sendo 13 na indústria e 25 nas concessionárias.
Além da queda de venda e produção, de 25% e 28,6%, respectivamente, o mês de novembro também registrou outros dados negativos: houve queda nas exportações de 7,8% e as indústrias registraram a primeira redução de postos de trabalho desde dezembro de 2006, com demissão de 480 funcionários.
¨Ninguém levantou investimento de forma irresponsável. A freada foi muito forte e surpreendente¨, afirmou Schneider.
Embora o setor esperasse uma desaceleração neste segundo semestre, depois de fortes altas registradas desde meados de 2007, a crise no crédito acabou por impactar a indústria.
As férias coletivas e folgas anunciadas pelas montadoras para novembro e dezembro atingem pelo menos 47 mil funcionários em todo o Brasil.
O consultor André Beer, ex-presidente da Anfavea e especializado no setor automotivo, afirmou que não é possível traçar uma expectativa para o setor em menos de 30 a 60 dias. ele disse, no entanto, que 2009 ¨pode não ser tão sombrio¨ quando alguns analistas esperam.
Beer também disse que as quedas de produção e as férias coletivas anunciadas pelas empresas refletem mais um ajuste do que uma desaceleração. Ele disse acreditar que a indústria tem condições de se estabilizar se as vendas no mercado interno ficarem entre 180 e 200 mil unidades por mês.
Crédito
A queda na venda de veículos, que vinha puxando o crédito e a geração de empregos há mais de um ano, é uma dos principais preocupações do governo. A indústria automotiva sofre em todo o mundo com a crise financeira internacional.
Em outubro, a Anfavea (associação das montadoras) atribuiu a queda de veículos à falta de crédito e afirmou que em novembro já deveria ter início uma normalização.
O governo anunciou no início de novembro a liberação de R$ 4 bilhões do Banco do Brasil para os bancos das montadoras, para irrigar o crédito do setor.
Na mesma seguinte, a Nossa Caixa, por determinação do governo do Estado de São Paulo, também liberou R$ 4 bilhões com o mesmo objetivo.
Ano
Com as quedas consecutivas de outubro e novembro, a Anfavea revisou suas projeções de venda, produção e exportação para o ano.
As vendas internas devem encerrar o ano em 2,815 milhões de unidades, e não 3,060 milhões como previsto. Mesmo com a revisão, os licenciamentos ficarão 14,3% acima do registrado em 2007.
No caso da produção, a estimativa caiu de 3,425 milhões de veículos para 3,240 milhões, que ficará 8,8% acima de 2007.
As exportações, antes previstas para somarem US$ 14,5 bilhões, devem terminar 2008 em US$ 13,7 bilhões, alta de 1,5% sobre 2007.