Mais três BCs cortam taxa de juros. Brasil segue na contramão 11/12/2008
- Clarissa Mangueira - Agência Estado
O Banco do Coréia do Sul (BOK, o banco central do país) anunciou nesta quinta-feira um corte de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, para 3% ao ano, prevendo profunda desaceleração da economia nos próximos meses e enfraquecimento da inflação, em meio às turbulências do mercado financeiro global. Com o último corte, os custos dos empréstimos atingiram níveis recorde de baixa.
Nove dos dez economistas ouvidos pela Down Jones Newswires tinham previsto que o BOK cortaria a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual. Eles também estimaram que mais cortes ocorrerão pelo menos até a primeira metade de 2009.
O índice de preços ao consumidor subiu 4,5% em novembro, em comparação com o mesmo período de 2007, desacelerando em relação à alta de 4,8% registrada em outubro.
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O banco central sul-coreano cortou a taxa de juros em 1,25 ponto percentual, em quatro decisões, entre outubro e novembro deste ano.
Suíça
O Banco Nacional da Suíça cortou a taxa de juro de referência da economia em 0,50 ponto percentual, citando as condições mais apertadas da economia e prometeu continuar monitorando a situação dos mercados financeiros, a qual, em sua opinião, piorou.
A nova banda de oscilação para a taxa Libor em francos suíços em três meses, taxa de referência suíça, é agora de 0% a 1%. O BC diz que mantém o centro da banda (0,5%) como meta.
O BC suíço prevê contração da economia em 2009 de entre 0,5% a 1,0%. A taxa de inflação deve cair para a média de 0,9% em 2009 e para 0,5% em 2010. Anteriormente, o BC suíço estimava a taxa de inflação em 1,9% em 2009 e em 1,3% em 2010.
Taiwan
O banco central de Taiwan anunciou corte de 0,75 ponto percentual em sua principal taxa de juro, a redução mais profunda em 26 anos. O corte é o quinto seguido desde setembro, resultado do esforço do BC para impulsionar a economia do país diante da desaceleração econômica global. O corte superou a previsão de 0,50 ponto percentual dos economistas e é o maior desde 30 de dezembro de 1982. Incluindo a ação de hoje, as taxas já foram reduzidas em 1,625 ponto percentual desde setembro.
¨Os riscos para o desempenho da economia no primeiro semestre de 2009 permanecem elevados¨, disse o Banco Central da República da China (Taiwan) em nota após encontro trimestral de política monetária. ¨Nossa política monetária de flexibilização do juro e o estímulo do governo irão ajudar a economia¨, acrescentou.
A taxa de redesconto caiu para 2% após o corte; a taxa para os empréstimos não garantidos cedeu para 4,250% e a taxa para os empréstimos garantidos recuou para 2,375%.
Decisão do Copom frustra empresários e trabalhadores
Embora esperada pelo mercado, a manutenção pelo Banco Central da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano recebeu críticas do empresariado e de sindicalistas, que ainda tinham esperanças de que a redução poderia ter início neste mês, para diminuir os impactos da crise internacional. A decisão, na visão deles, frustra as expectativas de mudança do cenário para o início de 2009.
Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a crise seria amenizada se o Copom tivesse optado por um corte na taxa de juros em vez de mantê-la inalterada. ¨ perda de intensidade da atividade econômica, em virtude dos efeitos da crise financeira internacional e das dificuldades do mercado de crédito, justificaria plenamente uma ação nesse sentido.¨
Na opinião do dirigente, um corte na taxa de juros ¨acompanharia inclusive a política monetária de diversos países nesse momento de necessidade de ações coordenadas em escala internacional¨. Para o presidente da CNI, um juro menor amenizaria os efeitos da crise global sobre o nível de atividade e emprego domésticos, sem prejuízo do controle inflacionário. Além disso, daria consistência aos esforços de preservar as condições de liquidez e de acesso das empresas ao crédito.
O presidente da Ford, Marcos de Oliveira, gostaria que os juros tivessem diminuído, mas acredita que em janeiro isso deve ocorrer. ¨Se não cair, será um erro estratégico do Banco Central que pode ter impacto no crescimento da economia em 2009. No mundo inteiro as taxas estão caindo. No Brasil, a preocupação com a inflação não existe mais, diante da retração do mercado.¨
Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) considerou a decisão como ?dissociada da realidade econômica mundial?. Em sua avaliação, mesmo parada, a Selic subiu até 2% nos últimos meses, na comparação com os juros cobrados nos EUA e na Europa. ¨Enquanto isso, o nosso BC ignora o risco do contágio pela recessão mundial e se preocupa com o perigo mais imaginário do que real da inflação.¨
¨O Brasil perdeu uma oportunidade de dar uma injeção de ânimo e de sinalizar que está preocupado com a desaceleração da economia¨, afirmou o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida. ¨O BC contempla a economia no padrão do terceiro trimestre, de um glorioso 6,8%. Mas a economia já transitou para a desaceleração e está beirando a recessão.¨
Na opinião de Almeida, com a manutenção da taxa de juros, o governo terá de tentar estimular a economia com mais gastos públicos. ¨O Brasil vai ter de fazer política fiscal e tomara que faça gastos de melhor qualidade, que é o investimento.¨
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, chamou de desastrosa a decisão do Copom. ¨Lamentamos a decisão, que só serve para impedir o acesso ao crédito, permitir que os bancos continuem alimentando-se de taxas abusivas, aumentando seus lucros, enquanto a produção segue com o freio de mão puxado diante das incertezas geradas por uma política econômica distante da realidade e das necessidades do País.¨