Barateamento de usado não se reflete em seguro 21/12/2008
- Agora
De um lado, o mercado de usados está à beira de um ataque de nervos, com falta de crédito, pátios abarrotados e preços em queda. De outro, as seguradoras continuam fechando as apólices com base nos valores aferidos pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), de 30 a 40 dias atrás -- portanto, não tão contaminados pela crise econômica.
Entre os dois, encontra-se o consumidor que precisa renovar o seguro de seu carro ainda em 2008. Resultado: ao mesmo tempo em que o segurado vê seu bem ser desvalorizado em cerca de 20%, ele é obrigado a arcar com o custo da apólice baseada nos valores da já extinta época das vacas gordas.
Basta pesquisar o valor dos veículos em lojas de usados para observar a discrepância. Um Ford Ka GL 1.0 2004, cujo valor na apólice é fixado em R$ 18.153, tem preço máximo em uma avaliação, mas sem qualquer chance de resultar em venda no momento, de R$ 13 mil. Ou seja, uma diferença de R$ 5.153, 28,4% entre o valor previsto pelo seguro e o que o mercado realmente está oferecendo pelo veículo.
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O descompasso também acontece para o Chevrolet Astra Advantage 2008, cujo valor de tabela é de R$ 40.608. Na prática, contudo, ele não vai além dos R$ 32 mil. O veículo é o menos desvalorizado entre os modelos pesquisados, com 21,2% de depreciação.
Na vez do Renault Clio 1.0 RT 2002, com todos os opcionais, o valor dado pela Fipe é de R$ 20.762. Nas lojas, não foi oferecido mais do que R$ 13 mil -- uma depreciação de 37,4%.
Os modelos mais vendidos vivem o mesmo. Um Volkswagen Gol 1.0 Power 2003 consta na tabela da Fipe por R$ 21,9 mil, porém a oferta foi limitada a R$ 14 mil, uma depreciação de 36,1%. Já o Fiat Palio 1.0 Fire foi o que apresentou a maior desvalorização, com 39%: pela Fipe, ele custaria R$ 24.593, mas, no mercado, não seria vendido por mais de R$ 15 mil.
Ressarcimento
Segundo Luiz Pomarole, vice-presidente de produto da Porto Seguro, a atual crise fez com que o volume de novos contratos retraísse. No caso da Porto Seguro, a queda real ficou em torno dos 15%; para a Azul, voltada às classes de menor renda, a diminuição é de 25%.
¨Nesse segmento, o consumidor depende totalmente da oferta de crédito para adquirir um carro. Como os financiamentos ficaram mais difíceis, é natural que o número de novas apólices tenha diminuído.¨
Para Paulo Umeki, membro da comissão técnica de automóveis da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais), quem está renovando o seguro não precisa se preocupar. Caso o mercado se reaqueça e os preços subam, o consumidor será ressarcido por conta de um eventual sinistro pelos valores da Fipe no dia da ocorrência.
Resta ao consumidor duas conclusões. Primeiro: se está com a intenção de comprar um carro e tem dinheiro para pagar à vista ou financiar o mínimo possível, este é o momento. Por outro lado, se está querendo vender o veículo, mas não tem urgência, o melhor é esperar até o final de fevereiro, quando, espera-se, o mercado deverá estar reaquecido, sobretudo após as isenções de impostos autorizadas pelo governo.
CHEVROLET ASTRA ADVANTAGE 2.0 2008
Fipe: R$ 40.608 Avaliação: R$ 32 mil Desvalorização: 21,2%
RENAULT CLIO 1.0 RT 2002
Fipe: R$ 20.762
Avaliação: R$ 13 mil
Desvalorização: 37,4%
FORD KA 1.0 GL 2004
Fipe: R$ 18.153
Avaliação: R$ 13 mil
Desvalorização: 28,4%