De pedreiro a fabricante de casas 04/01/2009
- Marianna Aragão - O Estado de S.Paulo
Trabalho pesado sempre foi com ele. O empreendedor catarinense Sidnei Borges ainda tem nas mãos cicatrizes da época em que ajudava a família na colheita de trigo, em Xaxim (SC). Aos 16 anos, deixou a roça em busca de uma vaga de servente de pedreiro na cidade grande. ¨Virava as noites rebocando¨, conta. Em seis meses, foi promovido e, trabalhando por tarefa, chegou a ganhar mais que o dobro dos colegas.
A dedicação aos canteiros de obras levou o catarinenses a ocupar, aos 33 anos, o topo da hierarquia da construção civil. Em 1995, ele fundou em Sorriso (MT) a BS Engenharia. A empresa começou como uma pequena empreiteira e deu uma guinada há dois anos, quando Sidnei diz ter inventado um método inovador de construção de casas em série. Hoje, o negócio comandado pelo ex-servente de pedreiro, ao lado da esposa Eliane, fatura R$ 80 milhões. Em 2009, deve chegar a R$ 250 milhões.
Antes de virar empresário, Sidnei quase desistiu da área. Chegou ao interior de Mato Grosso com 19 anos, atrás de uma tentadora proposta feita por um primo - salário fixo, carro e a função de mestre-de-obras -, que não se cumpriu. ¨Não tinha dinheiro para voltar para casa¨, conta. Sem opção, ficou na cidade e assumiu uma das obras abandonadas pelo parente.
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A empreiteira começou a ganhar ares de grande empresa com o boom do agronegócio. Sidnei se especializou em erguer galpões para armazenagem de grãos e em pouco tempo tornou-se líder nesse tipo de obra na cidade. A opção por construir as estruturas dos armazéns no sistema de módulos - o que poucos faziam à época - impulsionou a expansão do negócio. ¨Sempre soube que, para ganhar dinheiro na construção, tinha de fazer rápido.¨
A obsessão pela velocidade esteve por trás da grande virada em 2006. O empreendedor foi procurado por um cliente que precisava construir, em seis meses, 300 casas para funcionários na região. Sidnei teve então a ideia de construir cômodos inteiros usando uma ¨fôrma¨ gigante de aço, que receberia o concreto. As peças sairiam da fábrica com janelas, encanamento e instalações elétricas, e iriam para o canteiro de obras apenas para montagem.
O negócio acabou não vingando, mas a fábrica de casas idealizada por Sidnei foi ¨descoberta¨ pela Sadia meses depois. A gigante de alimentos queria construir 3 mil casas para os empregados da sua unidade em Lucas do Rio Verde (MT). Um de seus diretores viu o protótipo e fechou contrato com a BS.
Neste ano, a empresa começa a levar as moradias para o norte do País, em uma grande obra de infraestrutura tocada por uma multinacional. Entre os diversos convites para reuniões recebidos nos últimos meses, um foi especial para o empreendedor. Em novembro, a Defesa Civil de Santa Catarina procurou Sidnei, interessada em utilizar a técnica na reconstrução das cidades atingidas pelas enchentes no Vale do Itajaí.
A BS já entrou com o pedido de patente do sistema, conta Sidnei. ¨Essa inovação mudou a empresa de patamar¨, afirma. O novo mercado, além de triplicar a companhia de tamanho, também trouxe mudanças no dia-a-dia do casal de empreendedores. ¨Toda semana estamos viajando. E, hoje, infelizmente, já não conhecemos todos os funcionários pelo nome¨, diz a esposa Eliane, responsável pelas finanças da construtora. ¨Percebi que a ideia tinha lógica, mas não imaginei a grandiosidade dela.¨
EFICIÊNCIA
Na construção civil, são raros os exemplos como o da BS. ¨É difícil inovar no setor, onde as empresas ainda são muito conservadoras¨, afirma Cláudio Garcia, presidente da consultoria DBM Brasil, especializada em gestão e recolocação de executivos. Além disso, o baixo custo da mão-de-obra na construção não estimula o uso de processos eficientes. ¨O sistema desenvolvido por Sidnei alia a velocidade à eficiência. Os moldes são feitos sob medida e por isso não há desperdício nenhum¨, diz Garcia.
Para o diretor-geral do instituto de apoio ao empreendedorismo Endeavor, Paulo Veras, o conhecimento acumulado na trajetória de Sidnei - de servente de pedreiro a dono de construtora - é um diferencial da BS. ¨Esse contato do dono da empresa com o chão de fábrica é incomum na construção. Como Sidnei veio de lá, sabe falar a língua do pessoal¨, diz Veras, que acredita que essa aproximação reduz a rotatividade na empresa, reduzindo custos.