Bovespa não deve se recuperar no curto prazo 05/01/2009
- Fabrício Vieira - Folha de S.Paulo
A forte valorização da Bovespa no primeiro pregão de 2009, de 7,17%, não deve ser encarada como um sinal de que as ações vão reverter seu rumo neste ano. Muito solavanco e incertezas prometem marcar ainda o mercado acionário, principalmente neste primeiro trimestre. Analistas lembram que, mesmo que haja boas oportunidades, ninguém pode garantir que a Bolsa de Valores irá ter um ano virtuoso em 2009.
Para os investidores que tomaram um susto com o mercado de ações em 2008, as aplicações atreladas aos juros -- como os fundos DI e de renda fixa, além do CDB -- tendem a repetir os bons retornos do ano passado. Isso porque, mesmo que se espere que o Banco Central reduza a taxa básica Selic -- referência para os juros praticados no mercado -- no decorrer do ano, ela não deve descer para nível muito abaixo do atual.
¨O primeiro trimestre ainda vai ser nebuloso, com as empresas apresentando seus balanços de 2008. Após isso, poderemos ter um panorama mais claro¨, afirma Mauro Calil, professor e educador financeiro. ¨O mercado acionário é uma boa opção, mas apenas se a pessoa tiver paciência e puder manter o dinheiro por mais tempo aplicado. Bolsa é investimento de longo prazo.¨
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A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou 2008 com desvalorização de 41,22%, tendo sofrido sua mais forte baixa desde 1972. Muitas empresas perderam valor de mercado, mesmo mantendo fundamentos sólidos. Por isso, tem sido comum analistas afirmarem que há muitas ações baratas.
A ação ON do Banco do Brasil, por exemplo, sofreu desvalorização de 49% no ano passado. Os papéis PN da Petrobras amargaram perdas de 46%.
Mesmo com quedas que parecem exageradas, a Bovespa pode demorar um bom tempo ainda para retornar a seus melhores momentos. Em maio de 2008, o índice Ibovespa (que agrupa as 66 ações brasileiras mais negociadas) atingiu seu pico histórico de 73.516 pontos. Na sexta-feira passada, fechou em 40.244 pontos. Ou seja, a Bolsa precisa subir 82,7% para voltar a seu topo.
Para Calil, quem vai necessitar de suas economias antes de dezembro de 2009 deve se concentrar em fundos de renda fixa e em CDB. Já os que podem deixar o dinheiro investido por cerca de três anos seria interessante dividir as aplicações em renda fixa e em Bolsa. Para quem pensa em aplicações para aproximadamente cinco anos, aumentar as apostas em ações é uma alternativa interessante, segundo o professor.
Juros elevados
Em um momento em que as principais economias do mundo têm reduzido suas taxas de juros, o BC brasileiro tem mantido a sua. A taxa básica Selic está em 13,75%, o que equivale a juro real (descontada a inflação) em torno de 8% anuais -o que faz do Brasil o país com o maior juro real do planeta.
Ao menos para quem aplica suas economias em fundos de renda fixa e em CDB, esse cenário é interessante.
¨Independentemente do cenário de redução de juros que se projeta para este ano, aplicações como renda fixa, DI e CDB vão se manter com retornos bem atrativos¨, diz Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria Econômica. Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) são emitidos pelos bancos e oferecidos a seus clientes. Ao aplicar em um CDB, o cliente está, na realidade, emprestando dinheiro para a instituição financeira. Para tanto, recebe uma taxa de juros.
No ano passado, os bancos estavam com dificuldades para captar recursos no mercado de capitais e passaram a oferecer taxas de juros mais interessantes aos clientes, o que fez com que muita gente saísse dos fundos de renda fixa para investir em CDBs.
Como os bancos não devem passar a conseguir recursos com maior facilidade, tanto no mercado local como no internacional, os juros dos CDBs devem se manter elevados por algum tempo. Na média, os CDBs pagaram 11,8% em 2008.
Os fundos de renda fixa, que são a maior categoria da indústria de fundos, renderam aproximadamente 12,8% em 2008. Essas aplicações também pagam juros aos investidores.
Uma das vantagens dos CDBs é que não cobram taxa de administração -- presente nos fundos e que custam normalmente entre 1% e 4% ao ano.
Dólar
O dólar, apesar de ter se destacado no ano passado com valorização de 31,3%, pouco tem sido buscado como forma de investimento. Nem mesmo os fundos cambiais, que acompanham a oscilação da moeda, têm atraído os investidores.
E, se depender da projeção do mercado, a apreciação da moeda americana não vai se sustentar. A última pesquisa realizada pelo Banco Central mostra que a expectativa do mercado financeiro é que o dólar esteja a R$ 2,25 no final de 2009 -- na sexta-feira, a moeda encerrou vendida a R$ 2,33.
A caderneta de poupança, que rendeu 7,9% em 2008, mantém-se como indicação aos investidores mais conservadores, que não querem correr riscos nem buscar aplicações com que não estão acostumados.