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DIA A DIA

Embate com militares no interior gaúcho foi o embrião do MST
11/01/2009 - Leonencio Nossa - O Estado de S.Paulo

Uma pequena placa afixada em uma pedra na beira da rodovia RS-324, entre as cidades gaúchas Ronda Alta e Passo Fundo, é um dos poucos indícios de que nessa região tranquila do norte do Rio Grande do Sul começou a trajetória do Movimento dos Sem-Terra (MST), que no dia 19 completará 25 anos. Às margens da estrada foi montado o acampamento da Encruzilhada Natalino, onde, segundo a placa, houve a ¨derrota do Curió¨ e ¨vitória da luta da terra¨.

Em julho de 1981, o então presidente João Figueiredo deslocou da Amazônia para ali o coronel Sebastião Curió, especialista em conflitos fundiários. A chegada a Natalino, porém, deu publicidade ao movimento, que seria fundado oficialmente três anos depois, em Cascavel.

Integrantes da igreja católica derrotados por Curió no Pará foram brigar com ele no Rio Grande do Sul. Queriam a revanche após uma série de prisões de religiosos no Norte, como a do padre Florentino Maboni, em 1977, e do desmantelamento de grupos camponeses. Em maio de 1980, fora morto Raimundo Ferreira de Lima, o Gringo, sindicalista formado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), aposta do clero ¨progressista¨.


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Os bispos d. Pedro Casaldáliga, de São Félix do Xingu, e d. Tomás Balduíno, fundador da CPT, foram os primeiros a chegar para a missa em Natalino, com 463 famílias. Enfrentavam a resistência do Exército para reconstituir no Bico do Papagaio - região que abrangia o norte de Goiás e parte de Pará, Mato Grosso e Maranhão - a rede de sindicatos e organizações arrasada nos combates que liquidaram a Guerrilha do Araguaia. Os religiosos levaram para Natalino um dossiê da ação de Curió contra a guerrilha do PC do B, confronto que resultou na morte de 63 guerrilheiros e 16 militares.

O clero do sul do Pará não perdoava Curió pelos combates à guerrilha. À época do Araguaia, o grupo ¨progressista¨ de bispos como d. Luiz Estevão, de Marabá, não tinha poder na estrutura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para apoiar os guerrilheiros e dar proteção aos torturados.

O jogo viraria em Natalino. A presença de Curió e seus adversários no Rio Grande do Sul despertou a atenção de jornais e revistas do Rio e de São Paulo, que não enfrentavam mais a censura, e de sindicatos de todo País. Os sem-terra receberam apoio de entidades internacionais e de outras religiões.

Em pouco tempo, uma rede contrária ao governo estava no acampamento. ¨Todos fomos para lá¨, lembra o atual ministro da Previdência, José Pimentel. Ele esteve na Encruzilhada durante dois dias na companhia de d. Aloísio Lorscheider, bispo de Fortaleza. ¨O clima era de medo¨, completa. Pimentel integrava a Pastoral Operária.

SIMBOLISMO

A Encruzilhada Natalino havia abrigado o último grande acampamento de camponeses antes do golpe militar. Ali haviam sido instalados em 1962, pelo então governador Leonel Brizola, 450 pessoas, em 22 mil hectares da antiga Fazenda Sarandi. Após a tomada do poder, os militares desmontaram o acampamento brizolista.

O casal Olmino Ferreira, de 67 anos, e Lúcia Loreci de Lima, de 47, foi uma das famílias que estiveram no acampamento de Natalino. Hoje vivem a 15 quilômetros dali. ¨Curió montou barracas do Exército na margem direita da estrada¨, relata Ferreira. Lúcia lembra que Curió era rígido e tentou convencer as famílias a se mudarem para Mato Grosso. ¨Mas a maioria resolveu ficar.¨

Um dos novos líderes do MST, Adelfo Zamarqui, de 45 anos, de Trindade do Sul, lembra que começou a militar no movimento a partir do acampamento de Natalino. ¨A resistência das famílias que ficaram na Encruzilhada deu origem à fundação do MST¨, recorda.

¨NAPOLEÃO¨

O Exército permaneceu 30 dias no acampamento da Encruzilhada Natalino. Embora o coordenador da operação militar, coronel Sebastião Curió Rodrigues de Moura, tenha conseguido levar parte das famílias para um assentamento em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, os sem-terra comemoraram vitória contra o regime.

“A cúpula do MST tem os ideais do antigo PC do B, o partido que implantou a guerrilha, só que mais inteligente e aprimorado”, diz ele. “Na Encruzilhada só encontrei barra pesada: (d. Pedro) Casaldáliga, (d. Aloísio) Lorscheider e (d. Tomás) Balduíno. Não acho que eles venceram, pois cumpri a missão de meter uma cunha no meio do movimento e diminuí-lo, como Napoleão fazia para abater o inimigo.”

O “Napoleão” de Natalino teve um d. João à altura para enganá-lo. João Pedro Stedile aproveitava o cargo de técnico da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul para organizar o movimento. “O João Pedro contribuiu muito com a gente”, lembra a professora Maria Salete Campigotto, em Ronda Alta (RS), que dava aulas na escolinha do acampamento. “A Encruzilhada Natalino contribuiu para avançar mais rapidamente a resistência ao regime militar.”

Antônio Campigotto, marido de Maria Salete, afirma que o grupo de Natalino deu origem “de fato” ao MST. Um dos militantes mais respeitados entre os sem-terra, Campigotto diz que os acampados fizeram festa quando Curió deixou o Rio Grande do Sul. “A despedida dele foi péssima”, conta. “Só não soltamos foguetes porque não tínhamos dinheiro para comprar, mas teve muito grito e muita palma.”

À época os sem-terra não tinham ideia de que o acampamento iria contribuir para a constituição de um novo movimento no campo, segundo Stedile. O líder sem-terra avalia que os principais fatores de criação do MST foram a crise do modelo de industrialização, que não oferecia mais emprego a quem migrava para a cidade, o fracasso do processo de colonização da Amazônia e a perda do medo de lutar por parte dos camponeses. Ressalta ainda o esforço das pastorais e a rearticulação dos movimentos sociais. “Um belo dia, um acampado, procurando estação de rádio argentina, pelas ondas curtas, captou sem querer a onda usada por Curió para mandar informes ao SNI (Serviço Nacional de Informações)”, conta. “A partir daí, desmontamos o planejamento do coronel, pois sempre sabíamos o que ele informava.”

SEM CRUZ

Stedile e outras lideranças oficializaram o MST em 1984, com a constituição de uma diretoria, num congresso em Cascavel. Os sem-terra rejeitaram a mística cruz de Natalino, deixando claro a independência em relação à igreja, mas não perderam apoio dos “progressistas”.

A partir de Natalino, a ala “progressista” da igreja escancarou seu apoio a grupos sociais armados no Pará. Poucas semanas depois da saída de Curió, os padres Aristides Camiou e Francisco Gouriou foram presos, em agosto de 1981, sob acusação de incitar um grupo de camponeses que enfrentavam com espingardas grileiros de terra na localidade de Cajueiro, no sul do Pará. Até meados dos anos 1990, as ocupações de terra no Bico do Papagaio foram organizadas por sindicatos ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT). Só depois de 1997 o MST assumiu o comando das ocupações no Estado. Foi naquele ano que a Polícia Militar do Pará matou 19 sem-terra em Eldorado do Carajás. O movimento passava pelo seu maior teste de fogo numa curva de asfalto a mais de 3 mil quilômetros do berço onde havia nascido. Era, definitivamente, um movimento nacional.

  

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