Axé de Cristo é coqueluche de verão 26/01/2009
- Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo
O carnaval da Bahia nem começou ainda, mas o hit mais pegajoso do verão até agora, com 600 mil acessos no YouTube, e que tende a ser onipresente nos trios elétricos de Salvador, vem de muito longe, vem de Santo Amaro. Não, não é de Santo Amaro da Purificação. É daqui mesmo, daquele bairro nas imediações do aeroporto, lá onde Madonna encontrou Jesus.
Apesar da cara de baiana, da voz de baiana, da saia de baiana e do fôlego de baiana, é paulistana a autora e intérprete de Pó Pará cum Pó, música que Ivete Sangalo já cantou e bombou em cima de trio elétrico - foi no CarNatal, no final do ano, na capital do Rio Grande do Norte. O nome da moça é Jacqueline Michelly Santos Trevisan, a Jake (não Djeike: é Jáqui mesmo).
"Minha mãe foi um pouco enjoada na hora de me dar o nome", brinca Jake, de 29 anos, formada em Publicidade e que turbina os programas de auditório de programas católicos com gritos de "Tem axé para quem tem fé!".
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Pó Pará cum Pó (tradução: Pode Parar com o Pó) é uma exortação contra a cocaína. Segue fórmula de canções de Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Daniela Mercury, com componente insólito: é escancaradamente católica.
"Pó pará com pó/Pó pará com pó aê/Estraga tua vida/Não faz isso não/Tua juventude vai pro beleléu/Tem outra saída para diversão/Eu quero mais, eu quero mais/Meu lugar é o céu/Você tem que tomar/Uma overdose de Jesus/Injetar na veia o sangue/Que correu na cruz/Você tem que tomar/Uma overdose de alegria/Shekinah doidão, doidão/Se liga, se liga!"
Em seu blog, o cantor baiano Caetano Veloso defendeu ardorosamente a canção. "Quero Pó Pará com o Pó cantado por Ivete, Daniela, Chiclete, Asa, Jamil e quem mais", conclamou. "É uma pessoa forte na MPB, não deixa de ser uma referência forte tudo que ele fala", disse a cantora.
Recém-casada, garota que vai todo domingo à missa, Jake lançou seu disco há dois anos pela gravadora independente Codimuc. Nada aconteceu. Em novembro, ela cantou Pó Pará cum Pó na TV Aparecida, e a gravação foi parar na internet. Virou uma febre. Jake teve de deixar o emprego na gráfica do pai para cumprir a agenda de shows, que aumentou consideravelmente. Na semana passada, gravou para o Multishow.
"A música leva uma mensagem boa para a galera, baseada nos valores cristãos", diz Jake, que se julga mais próxima do movimento de Renovação Carismática da Igreja católica. "O que me inspirou foi ter perdido alguns amigos que se envolveram com drogas e álcool. Se tem bandas que fazem apologia das drogas, por que não pode ter alguém que faça o contrário? Pouca gente tem coragem, mas eu tenho: não entre nessa vida porque é um caminho sem volta."
Jake só dá respostas ensaboadas quando é instada a responder a questões "espinhosas", como sexo antes do casamento e aborto. "Não gosto desse tipo de polêmica. Eu acredito na Igreja, mas faço axé para levar alegria a todos. Se der minha opinião, isso vai cobrir o objetivo maior que é levar alegria a todos. Não quero dar lição de moral em ninguém."
Mas, provocada, ela dá opinião. "Como pode alguém se dizer prostituta não-praticante? Isso não existe. Ou se é católico ou não é. Eu sou católica, então acredito na Igreja." Mãozinhas para o alto: a bordo de Jake, Deus vai percorrer este ano o circuito Barra-Ondina.