Brasil crescerá apenas 0,8%, preveem bancos 28/01/2009
- Fernando Canzian - Folha de S.Paulo
Pivôs da pior crise desde os anos 1930, os maiores bancos do mundo divulgaram ontem a mais pessimista previsão para a economia global em 2009. Pior: esperam também um estrangulamento sem precedentes no fluxo de dólares aos emergentes, com pressões sobre câmbio e contas externas.
Ao contrário de todas as estimativas feitas até aqui, que previam o mundo crescendo muito pouco, mas ainda assim crescendo, o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne 380 bancos, projeta uma retração mundial de 1,1% para este ano.
No conjunto, as economias avançadas (EUA, zona do euro e Japão) recuariam 2,1%, e os mercados emergentes cresceriam só 2,7% -- menos da metade do ano passado. Para o Brasil, a previsão é de um PIB aumentando apenas 0,8% no ano.
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Como a economia brasileira deve ter crescido perto de 5,5% em 2008, e, por isso, entrou em 2009 com algum impulso, os números do IIF indicam que o Brasil deve entrar em recessão para crescer abaixo de 1%.
"No último trimestre de 2008, a economia brasileira foi de "encontro às rochas", e essa contração deve se repetir nos primeiros três meses de 2009", afirmou à Folha Philip Suttle, diretor de Pesquisas Econômicas do instituto.
Convencionalmente, diz-se que uma economia está em recessão após dois trimestre consecutivos de retração do PIB.
"A recessão sincronizada tende a atingir todas as regiões do globo, algo inédito no pós-Segunda Guerra", diz o IIF.
Fluxo de capitais
A queda na atividade, segundo os bancos, virá acompanhada por um corte recorde no fluxo de investimentos financeiros e produtivos para os mercados emergentes, reforçando o quadro já negativo.
O triênio 2007-2009 deve marcar a retração mais acentuada de fluxos de capital para os emergentes da história. A queda será de US$ 929 bilhões em 2007 para US$ 165,3 bilhões neste ano, valores que incluem tanto investimentos produtivos quanto especulativos e linhas de crédito privadas e oficiais aos países.
Se confirmada, será uma retração imensa, equivalente a quase seis pontos percentuais do valor total do Produto Interno Bruto dos emergentes.
Para comparar, nos últimos 30 anos só ocorreram duas retrações significativas, nos períodos de 1981-1983 e 1996-1998. E elas foram bem menores: equivalentes a 1,6 ponto percentual e 3,2 pontos do PIB conjunto dos emergentes.
Essa retração inédita tende a estrangular os governos sem muitas reservas em dólares e as empresas que se endividaram muito nos últimos anos.
Segundo o IIF, os países do leste da Europa serão afetados "de forma mais severa", com os fluxos de capital despencando de US$ 254 bilhões em 2008 para US$ 43 bilhões neste ano.
A América Latina também deverá ser fortemente afetada, com os fluxos caindo à metade (US$ 89 bilhões para US$ 43 bilhões). Mas o Brasil deve se sair relativamente bem, com uma redução de apenas um terço (de US$ 37 bilhões em 2008 para US$ 25 bilhões neste ano).
Suttle lembra que, como a taxa de juros no Brasil segue "bastante elevada" (com a Selic em 12,75% ao ano), é natural que o país continue atraindo capitais especulativos. Já o investimento direto na produção no país, segundo o IIF, deve cair de US$ 12 bilhões no ano passado para US$ 10 bilhões neste. A redução, diz o instituto, pode ser ainda maior.