Crise econômica pode abrir caminho para crise ambiental, diz Marina Silva 30/01/2009
- Rodrigo Vargas - Agência Folha
A senadora Marina Silva (PT-AC), ministra do Meio Ambiente de 2003 a maio de 2008, diz ver risco de a crise econômica abrir caminho para uma nova crise ambiental. Para ela, setores ligados a produtores rurais "querem se aproveitar" da situação para, em nome de geração de empregos, aprovar alterações na legislação ambiental.
"A saída para a crise não pode ser em prejuízo da preservação", disse, em entrevista à Folha. Um ano após declarar moratória de desmates em 36 municípios da Amazônia -- e, com uma série de medidas restritivas, comprar briga com empresários, governadores e ministros --, a senadora diz avaliar como "positivos" os resultados do pacote que ajudou a conceber. E atribui os insucessos a falhas de ministérios como Agricultura e Transportes.
Como a senhora avalia o primeiro ano do pacote de medidas contra o desmatamento?
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- A avaliação é positiva, pois, ao ter sido detectada a possibilidade de um aumento de desmatamento em torno de 30% a 40% para 2008, a adoção daquelas medidas foi responsável pela redução da tendência. Isso sinaliza duas coisas: que havia um trabalho técnico competente, que foi capaz de identificar o momento em que o desmatamento voltou a crescer, uma articulação rápida no sentido de aumentar a fiscalização e, ao mesmo tempo, tomar medidas estruturantes. O resultado é que o desmatamento não saiu de controle.
Mas as intenções do pacote não eram mais ambiciosas do que a simples estabilização dos índices de desmatamento?
- O plano previa um conjunto de ações em três eixos: combate às práticas ilegais, apoio às atividades produtivas sustentáveis e o ordenamento territorial. O ponto que mais avançou, sem dúvida, foi o da fiscalização. Os demais não andaram satisfatoriamente, e ficaram muito longe disso.
O que acha que ocorreu?
- Lamentavelmente, os setores responsáveis por estas outras medidas não fizeram o dever de casa. Acho que não foi feito o esforço necessário por parte do Ministério da Agricultura, por exemplo, e do Ministério dos Transportes.
Há alguma frustração em acompanhar de longe a condução do plano?
- Acompanho com o interesse de quem é uma parlamentar do Brasil. E, se não fosse, acompanharia como cidadã. Mas sem nenhum apego ao cargo. O que eu quero é que façamos jus ao que nós somos. O Brasil é um país que tem uma imensa riqueza natural e, nela, a maior é a Amazônia. Infelizmente, isso não é uma visão estratégica por parte de alguns setores, quer de governo, quer da iniciativa privada. O momento atual, particularmente, está se tornando muito difícil para a preservação ambiental.
Como assim?
- Com essa questão da crise econômica, mais uma vez surgem aqueles que querem se aproveitar disso para passar por cima da legislação ambiental, em nome da geração de empregos e da necessidade de acelerar investimentos. A saída para a crise não pode ser em prejuízo da preservação ambiental, seja negligenciando o licenciamento, seja revogando artigos do Código Florestal, como pretende este movimento organizado no Congresso.
Como avalia a gestão de seu sucessor, Carlos Minc?
- O Minc tem um estilo diferente do meu. E estes primeiros seis meses foram levados muito mais dando conta das medidas que ele encontrou. Acho que, com certeza, a partir deste ano, ele vai estar começando de fato a sua gestão.
A sra. acha que foi incompreendida?
- Optei por um caminho estruturante. É como fazer saneamento básico, as pessoas não ficam vendo, mas você sabe que aquilo que foi feito é importante e estratégico. Para mim, não faria sentido ir ao ministério se não fosse para fazer isso. Mas é assim mesmo: quando chega a hora de colher frutos, ninguém quer saber quem é que plantou a árvore.