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DIA A DIA

Crise reduz total de empresas na Bovespa
09/02/2009 - Fabrício Vieira - Folha de S.Paulo

Se, até o começo de 2008, o mercado comemorava a ampliação da oferta de ações na Bovespa, decorrente do boom de IPOs (aberturas de capital, na sigla em inglês), o cenário agora é inverso. Além de os IPOs estarem congelados, o número de empresas listadas na Bolsa tem encolhido. Em março do ano passado, havia 451 companhias presentes na Bolsa paulista. Agora, há 438.

Os tempos de crise têm estimulado fusões, aquisições e mesmo feito companhias menos tradicionais reverem seu interesse em manter o capital aberto. Mais do que uma fuga da Bolsa, analistas têm falado em uma consolidação do mercado acionário brasileiro, reflexo de dias mais ariscos e incertos que marcam a economia em todo o mundo.

No decorrer do ano, a conclusão de operações já anunciadas deve colaborar para o prosseguimento da diminuição do número de empresas listadas na Bolsa. Os principais casos são as operações entre Itaú e Unibanco, Banco do Brasil e Nossa Caixa e VCP e Aracruz.


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Mais fechamentos

"O preço das ações caiu muito, o que pode levar alguns controladores capitalizados a pensar em fazer uma oferta para recomprar seus papéis que estão em Bolsa", diz Ricardo José de Almeida, professor de finanças do Ibmec/SP. "Não é difícil vermos uma aceleração no fechamento de empresas." No atual cenário, Almeida afirma que "é natural que diminua ainda mais o número de empresas listadas".

Algumas companhias que estavam havia tempos na Bolsa saíram do pregão em 2008. Uma delas foi a Indústrias Micheletto, que estava registrada desde 1972. Outro caso foi o da Eleva Alimentos, que tinha registro de companhia aberta desde 1985 e foi comprada pela Perdigão em 2007.

Após a Bovespa bater o recorde de companhias registradas, com quase 600 empresas negociadas em pregão, em 1998, o mercado atravessou um longo período de enxugamento, que se arrastou até 2005 -quando sobraram 381 empresas.

Os IPOs ganharam fôlego novamente a partir de 2006, quando 26 novas ações estrearam no mercado. Em 2007, 64 novas companhias ofertaram seus papéis em pregão.

O cenário de expansão foi abortado em 2008: o agravamento da crise econômica mundial espantou investidores estrangeiros do mercado acionário, o que inibiu ou mesmo inviabilizou os IPOs. No ano passado, apenas quatro empresas estrearam no pregão.

Os investidores estrangeiros responderam, em 2007, pela compra de mais de 70% das novas ações ofertadas na Bovespa. Dessa forma, a retração da categoria no ano passado representou a diminuição no potencial de sucesso dos IPOs.

"Há dúvidas demais em relação ao futuro e ninguém quer, neste momento, virar acionista de uma nova empresa", afirma Almeida, do Ibmec/SP. "Não dá para esperar por novos IPOs nesse contexto."

Futuro incerto

A retomada dos IPOs é algo descartado pelos analistas para 2009. Mesmo que talvez o pior tenha passado, a recuperação da economia mundial ainda levará tempo. Somente condições muito mais favoráveis que as atuais permitirão que novas companhias se aventurem com sucesso no mercado acionário.

O mercado de capitais é uma das fontes que as empresas procuram para levantar recursos, necessários à expansão de sua produção. Emitir ações é uma das modalidades disponíveis nesse mercado. As empresas costumam também lançar títulos como debêntures e notas promissórias, que pagam juros e vencem após determinado período. Fora do mercado de capitais, as empresas podem recorrer ao mais tradicional empréstimo bancário.

Uma das diferenças do lançamento de ações, e que afasta muitos empresários desse segmento, é que, ao emitir esses papéis, a empresa na realidade está vendendo uma parte dela. Todo acionista, mesmo o minoritário, é dono de uma fração da companhia. Para manter seu capital aberto e ações em Bolsa, a companhia terá de encarar certos custos, como a produção de balanços diferenciados, a realização de assembleias com acionistas e a manutenção de uma equipe de relações com investidores.

"Os IPOs vão ficar congelados até a dinâmica do mercado ser restabelecida", afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. "Talvez no segundo semestre de 2010 tenhamos um retorno um pouco mais significativo dos IPOs."

Segundo ele, faltarão investidores. "Se uma companhia desejar abrir seu capital neste momento e tiver as ações avaliadas em, digamos, R$ 10, é bem possível que só encontre no mercado investidores dispostos a pagar R$ 5 pelo papel. Ou seja, o objetivo traçado ao planejar abrir o capital não seria atingido", diz Agostini.

  

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