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DIA A DIA

Demissão se torna dilema para empresa "responsável"
24/02/2009 - André Palhano - Folha de S.Paulo

O atual estágio da crise financeira global, caracterizado pelos efeitos sobre o lado real da economia, vem gerando um novo dilema para as empresas que se denominam socialmente responsáveis: lidar com as demissões coletivas.

O tema é controverso. É socialmente responsável, por exemplo, a empresa que demite seus funcionários apenas para alcançar determinada meta de crescimento nos lucros?

E aquela que demite para poder continuar sobrevivendo, garantindo dessa forma emprego e renda dos trabalhadores que ficam?


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De um lado, centrais sindicais -- e setores do governo no Brasil e no exterior -- alegam que, após tantos anos de resultados positivos e crescentes nas empresas, não parece justo que os empregados paguem a conta da crise.

Os empresários, por sua vez, argumentam que demitir é custoso sob todos os aspectos, mas que, em alguns casos, é impossível fazer os ajustes necessários sem esse tipo de medida.

Como pano de fundo, um cenário sombrio para o emprego no mundo. Na previsão mais pessimista, fala-se de até 50 milhões de novos desempregados no planeta até o fim deste ano, desde o agravamento da crise, em setembro passado. No Brasil, demissões coletivas em grandes empresas são cada vez com mais frequentes.

Some-se a isso a importância crescente do tema da responsabilidade social no mundo corporativo e o quanto isso foi alardeado ao público nos últimos anos, via marketing e propaganda. Entre os principais conceitos da responsabilidade social empresarial, está justamente o modo como uma empresa se relaciona com os seus diferentes públicos, entre os quais os seus próprios funcionários.

"Essa é uma discussão bastante delicada e repleta de nuances. De qualquer forma, parece óbvio que uma empresa que se denomine socialmente responsável não pode fazê-lo somente nos momentos de bonança. Pelo contrário: é nos momentos de crise que elas mostram o quanto realmente incorporaram alguns desses conceitos. E isso vale para o modo como elas tratam suas questões trabalhistas", afirma Flávia Moraes, diretora da FCM Consultoria em Sustentabilidade.

Segundo especialistas consultados pela Folha, a demissão coletiva deve ser encarada pelo empresário como última opção, mesmo dentro de um quadro de crise. Antes disso, existem outras alternativas -como férias coletivas, redução da jornada de trabalho e até redução dos salários em troca da garantia do emprego.

"A maior responsabilidade social do empresário é manter o emprego de seus funcionários. E, se não puder fazê-lo, a demissão tem de ser extremamente cautelosa, com uma comunicação transparente, o que infelizmente muitas vezes não acontece", afirma Eliane Belfort, diretora do Comitê de Responsabilidade Social da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "É importante que o empresário não pense na demissão apenas como uma redução de custos imediata, pois o impacto que um processo desses tem no clima organizacional e na própria produtividade da empresa é sempre muito significativo."

Programa

Se um processo de dispensa é inevitável, há maneiras responsáveis de fazê-lo. Algumas empresas, por exemplo, adotam programas de "demissão responsável", um conceito herdado da legislação europeia, no qual as empresas, em caso de demissões coletivas motivadas por motivos econômicos (crises, fusões, aquisições), apoiam e estruturam planos de recolocação dos empregados demitidos no mercado de trabalho.

"Não se trata de 'outplacement", que é um benefício estendido aos altos executivos das empresas para se recolocarem, mas sim de estruturar e incentivar células de emprego para a base da pirâmide", diz Gilberto Guimarães, diretor da BPI (Business & People Integration), consultoria especializada em recolocação de profissionais dentro desse conceito. "Tenho visto muitas empresas optando por dar treinamento, mas o fato é que o trabalhador demitido não quer treinamento, ele quer emprego. Treinamento e qualificação a empresa tem de dar para quem está empregado", afirma.

Prova do momento delicado envolvendo o assunto: nenhuma das 11 empresas procuradas pela reportagem da Folha quis detalhar seus projetos de demissão responsável, mesmo tendo publicamente assumido esse tipo de programa na sua gestão de pessoal.

Na maior parte dos casos, a alegação da empresa foi a de que, em meio a uma delicada discussão envolvendo centrais sindicais, entidades representativas das empresas e governo federal, na qual as demissões ocupam papel central, era melhor não haver manifestação pública sobre o assunto.

  

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