Algodão: adensar plantio reduz custos 25/02/2009
- Niza Souza - O Estado de S.Paulo
Para tentar reduzir custos, que já começam a afetar a produção de algodão no País, cotonicultores brasileiros adotaram este ano, em escala comercial, o sistema de manejo adensado. A técnica, já utilizada com sucesso no Paraguai, Argentina e Estados Unidos, reduz a entrelinha das fileiras de plantio de 90 para 45 centímetros e encurta em média 30 dias o ciclo de produção, o que também torna viável o cultivo da fibra na safrinha.
Este ano, a área plantada com algodão adensado deve chegar a 12 mil hectares, em todas as regiões produtoras, conforme estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
A tecnologia vem em boa hora, a hora de reduzir custos. O mais recente levantamento da safra 2008/2009 da Conab indica que a área plantada de algodão será de 856 mil hectares, 20,5% menor em comparação ao mais de 1 milhão de hectares da safra anterior. No Centro-Sul, responsável por quase 60% da produção nacional, a queda será maior, de quase 30%.
PUBLICIDADE
SEM CRÉDITO
Além dos altos custos da produção, o relatório da Conab aponta a crise de financiamento e os baixos preços de comercialização da pluma, que atingiram recentemente os menores níveis dos últimos anos, como motivos pela queda.
"É uma tentativa de continuar plantando. Hoje, com o alto custo da lavoura e o baixo preço no exterior, está cada vez mais difícil continuar", diz o produtor mato-grossense Nelson Vígolo. "Ou buscamos alternativas ou reduzimos drasticamente a área."
Dos 23 mil hectares plantados com a fibra, Vígolo vai experimentar o novo sistema em 400 hectares. "Estamos testando cinco cultivares, dois transgênicos e três convencionais, no novo manejo."
Assim como a maioria dos produtores no Centro-Oeste que testam a técnica, Vígolo optou pelo plantio de algodão adensado na safrinha. "Plantei soja precoce, colhi em janeiro e já entrei com o algodão. Terminei o plantio na semana passada." A colheita ocorrerá entre junho e julho. "Estou otimista. Mesmo que a produtividade seja menor, ainda sim é vantagem, porque teremos duas rendas na mesma área, no mesmo ano-safra", diz. "E se o resultado no fim da safra for mesmo satisfatório vamos adensar aos poucos toda a lavoura de algodão."
EM TESTE
Em Rondonópolis (MT), o produtor Sérgio De Marco vai adotar o novo sistema em 5% da área de algodão. "Estou testando sete variedades, as mesmas usadas no plantio convencional, com plena convicção dos riscos", diz, destacando que ainda não se sabe qual será a produtividade e a qualidade final desse algodão. "Como as plantas estão muito juntas, colhe-se muita sujeira e isso pode afetar a qualidade", diz.
"Hoje, o custo do algodão chega a US$ 2.400 o hectare. Estou tentando produzir na faixa de US$ 1.300 o hectare", calcula. "A demanda mundial caiu e os preços estão baixos. Ninguém sobrevive com esse custo. Se essa técnica não der certo, tenho certeza de que haverá grande redução na área de algodão em Mato Grosso."
O presidente da Abrapa, Haroldo Rodrigues da Cunha, diz que o que levou ao incremento de área adensada nesta safra, além da necessidade de baixar custos, é o acompanhamento do sistema em outros países onde houve sucesso, como no Paraguai. Mas ainda há desafios. Conforme Cunha, é preciso por exemplo ficar atento ao crescimento da planta. "Ela deve crescer até, no máximo, 80 centímetros. Se não segurar o crescimento, o produtor perde as maçãs que ficam embaixo, próximas do solo."