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Anvisa aprova uso de botox para tratar incontinência urinária
30/03/2009 - Fernanda Bassette - Folha de S.Paulo

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou, há pouco mais de um mês, o uso de toxina botulínica (botox) para tratar pessoas que sofrem com incontinência urinária -- problema que atinge cerca de 3 milhões de brasileiros.

A utilização da substância é eficiente apenas em pacientes que sofrem de incontinência urinária de urgência (aqueles que perdem urina antes mesmo de chegar ao banheiro) e não serve para homens que operaram a próstata e nem para pessoas que sofrem de incontinência urinária por esforço (que perdem urina ao tossir ou carregar peso, por exemplo).

A aplicação do botox na urologia é realizada no exterior há pelo menos sete anos, mas, no Brasil, era usada apenas em pesquisas ou "off label" pelos médicos, já que ainda não tinha reconhecimento oficial. A partir de agora, é possível pedir cobertura do tratamento pelos planos de saúde.


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Segundo Fernando Almeida, urologista responsável pelo Setor de Disfunções Miccionais e Urologia Feminina da Universidade Federal de São Paulo, apesar de atingir pessoas em qualquer faixa etária, a idade é um fator de risco para a incontinência, que costuma atingir duas mulheres para cada homem. Em muitos casos, o paciente precisa usar regularmente fraldas descartáveis.

"É uma situação muito desagradável e constrangedora. A pessoa que sofre de incontinência urinária evita sair de casa, evita relacionar-se com outras pessoas. Ela sofre de um câncer social", avalia o urologista Flávio Trigo Rocha, coordenador do Departamento de Uroneurologia da Sociedade Brasileira de Urologia.

A aplicação do botox é indicada para aqueles pacientes que tentaram o tratamento medicamentoso, mas não obtiveram bons resultados.

Como funciona

O paciente é internado e o medicamento é aplicado em 30 pontos da bexiga por meio de uma endoscopia realizada no canal da uretra. "Funciona como no tratamento antirrugas. O botox paralisa o músculo da bexiga, que não vai mais contrair involuntariamente e impedirá que a pessoa sinta uma vontade incontrolável de urinar", explica Almeida.

Assim como na aplicação estética, os efeitos do remédio não duram para sempre. Em média, os resultados permanecem entre nove meses e um ano --depois desse período, é preciso reaplicá-lo. A aplicação custa cerca de R$ 1.500.

"O preço é similar aos custos que o paciente teria para comprar fraldas no período, com a vantagem de ele melhorar completamente sua qualidade de vida", diz Rocha.

Contraindicação

Existe contraindicação da utilização de botox em pacientes com insuficiência respiratória. Além disso, o uso inadequado da substância também pode provocar um efeito colateral importante: se a dose for aplicada em excesso, o paciente fica sem conseguir urinar depois da aplicação e precisará de uma sonda para liberar a urina.

"O médico tem que saber aplicar a quantidade suficiente de botox para eliminar a contração indesejada da bexiga e não abolir a micção", afirma Rocha.

O urologista Fernando Dias, chefe do Setor de Urologia do HUB (Hospital Universitário de Brasília), que não usa o método em seus pacientes, diz que vai esperar mais um pouco para avaliar os resultados. "Parece interessante, mas acho que precisam existir novos estudos. Além disso, o custo da aplicação é muito alto".

Estresse

Pessoas que sofrem de incontinência urinária apresentam índices mais altos de estresse, ansiedade e depressão, se comparadas àquelas que realizam diálise três vezes por semana, concluiu pesquisa realizada pelo Setor de Urologia Feminina e Disfunções Miccionais da Universidade Federal de São Paulo.

Foram avaliados 120 voluntários (60 em tratamento contra incontinência, 60 que estavam em diálise e 60 pessoas saudáveis). O estresse estava presente em 78% das pessoas que têm incontinência, contra 42% daqueles que estavam em diálise. Entre os saudáveis, a taxa de estresse foi de 24%.

"A gente sabia que a incontinência tinha um impacto psicológico grande, mas não imaginávamos que esse impacto seria maior do que entre aquelas pessoas que fazem diálise semanalmente", diz o urologista Fernando Almeida.

  

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