Frigorífico Independência pode desistir de recuperação judicial 02/04/2009
- Patrícia Cançado - O Estado de S.Paulo
O Frigorífico Independência cogita desistir da recuperação judicial para tentar um acordo por fora com os bancos credores. A dívida da companhia é superior a US$ 1 bilhão. Embora o pedido tenha sido feito no dia 27 de fevereiro, ainda não foi homologado por falta de documentação. Nesta semana, a companhia vai pedir à Justiça um novo prazo para apresentar a papelada. Enquanto isso, quer ganhar tempo para fechar um acordo extrajudicial com os bancos.
"Há uma janela de oportunidades em razão da peculiaridade do processo. Mas o acordo tem de sair rápido", explica o advogado Luiz Fernando Paiva, do Pinheiro Neto, escritório que assessora o Independência. "A empresa pode desistir sem precisar convocar assembleia de credores. E, se não houver acordo com os bancos, pode acelerar os prazos do processo de recuperação judicial."
Na sexta-feira, o frigorífico pretende apresentar aos bancos uma lista com a relação completa de credores, a posição financeira atual e uma reconstituição do que ocorreu na empresa desde setembro do ano passado, quando tinha R$ 600 milhões em caixa. Segundo uma fonte que acompanha o processo, o Independência está na fase de restabelecer a confiança com os bancos. "Todo mundo precisa entender o que aconteceu", diz.
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A decisão de entrar em recuperação judicial foi tomada para a companhia se proteger dos credores não financeiros - os pecuaristas teriam menos paciência para renegociar as dívidas, segundo pessoas próximas ao frigorífico. O problema é que os bancos ficaram inconformados quando foram avisados do pedido de recuperação judicial. Logo após o carnaval, procuraram os executivos e questionaram a postura. Para eles, houve quebra de confiança.
A empresa busca agora demonstrar ao mercado empenho em estancar a sangria financeira. Em nove dias, já fechou sete frigoríficos, um centro de distribuição e demitiu 6,2 mil empregados, ou cerca de metade do seu quadro. Na semana passada, fez dois cortes - o primeiro, de 2 mil pessoas, e o segundo, de 2,8 mil. Ontem, dispensou 1,4 mil empregados e fechou uma unidade de abate e desossa em Nova Xavantina (MT), outra em Presidente Venceslau (SP) e um centro de distribuição em Itupeva (SP).
A empresa informou que as medidas são parte de um programa de ajuste das operações, diante da nova realidade do mercado. Segundo o Independência, os preços estão em queda por causa da retração na demanda internacional e do excesso de oferta de carne, tanto no mercado doméstico quanto nas exportações.
"O Independência se mantém fortemente compromissado em continuar suas atividades e manter suas relações comerciais com seus clientes e fornecedores, à medida em que procura adequar suas operações ao ambiente econômico atual", diz nota divulgada pela empresa.
Na última sexta-feira, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) havia liberado uma carta de crédito de R$ 200 milhões para que o Banco do Brasil realize empréstimos ao Independência.
Na ocasião, a senadora afirmou que os recursos serão destinados exclusivamente ao pagamento dos pecuaristas fornecedores de animais para a empresa. "A condição é essa. O dinheiro é carimbado", disse.