Ex-diretor da Sadia nega responsabilidade por prejuízo bilionário 08/04/2009
- Folha Online
Ex-diretor da Sadia nega responsabilidade por prejuízo bilionário
O ex-diretor da Sadia, Adriano Lima Ferreira divulgou nota sobre a decisão dos acionistas da empresa, após assembleia realizada ontem (6), em processá-lo por perdas em operações com derivativos ao longo do ano passado.
Ferreira afirma que recebeu a notícia com surpresa e que nos seis anos na empresa, a Sadia "triplicou de tamanho e o seu valor de mercado, inclusive já levando em consideração as perdas".
A decisão dos acionistas da Sadia foi aprovada por unanimidade e prevê uma ação de responsabilidade contra Ferreira. No mês passado, a Sadia informou prejuízo recorde de R$ 2,5 bilhões em 2008, sob impacto das operações cambiais, os chamados derivativos. Segundo a empresa, os gastos com derivativos cambiais representaram 65,52% das despesas financeiras no ano -- R$ 2,550 bilhões de R$ 3,892 bilhões.
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"Os instrumentos financeiros de derivativos sempre fizeram parte e tiveram papel essencial nas práticas comerciais e financeiras da Sadia e nos últimos seis anos, foram responsáveis por aproximadamente 60% do lucro da companhia", informou.
Para Ferreira, o prejuízo de R$ 2,5 bilhões da companhia em 2008 deve-se, principalmente, à crise econômica mundial e à cultura da empresa nessas operações financeiras (derivativos).
"Diante da crise financeira mundial e da tomada de conhecimento das possíveis perdas que a Sadia poderia sofrer, tomei as providências corretas e cabíveis, avisando imediatamente o Conselho e trabalhando rápida e eficazmente para zerar as operações em questão", afirmou.
Veja a íntegra da nota assinada por Adriano Ferreira:
"Diante das notícias publicadas nesta terça-feira, dia 7 de abril, sobre a decisão dos acionistas controladores da Sadia de autorizar o ingresso de ação de responsabilidade civil contra mim, adotada em assembleia geral extraordinária, tenho a esclarecer que:
1. Recebi a notícia com surpresa após ter dedicado seis anos de minha vida profissional à Sadia, de forma fiel e responsável, período em que a companhia triplicou de tamanho e o seu valor de mercado, inclusive já levando em consideração as perdas. Orgulho-me de ter participado desta história de sucesso.
2. Ingressei na Sadia em 2002, com a missão de coordenar a gestão da liquidez e de proteger o patrimônio da Sadia por meio de operações de hedge, função que cumpri com excelência, adaptando-me às atipicidades da cultura financeira da organização e otimizando-a de forma significativa ao aprimorar controles e processos, sendo responsável inclusive pela criação da área de gestão de riscos.
3. Ressalto que a Sadia, além da vocação agroindustrial, possui também uma vocação financeira com atividades equivalentes e até mesmo superiores, as quais são conduzidas na própria Sadia, na Concórdia Corretora de Valores, há 21 anos em operação, e, mais recentemente em 2007, na criação da holding financeira e do banco múltiplo, com rentabilidades de extrema relevância nos lucros da organização.
4. Os instrumentos financeiros de derivativos sempre fizeram parte e tiveram papel essencial nas práticas comerciais e financeiras da Sadia e nos últimos seis anos, foram responsáveis por aproximadamente 60% do lucro da companhia.
5. A decisão comum a dezenas de outras companhias brasileiras de trabalhar com o "produto 2 por 1", como foram apelidados, deu-se pelo fato deste ser, à época, mais vantajoso, ou seja a empresa sempre esteve familiarizada com operações de derivativos.
6. Os mesmos derivativos 2x1 renderam à companhia no primeiro semestre de 2008 o correspondente a 80% dos resultados, ou seja, dos lucros da Sadia. Ressalte-se ainda que estas mesmas operações foram realizadas também em 2007, ano em que a Sadia apurou um resultado excepcional e que todas estas operações constavam do seus demonstrativos financeiros.
7. O fator que levou a Sadia a ter perdas financeiras na ordem de R$ 2,5 bilhões, conforme divulgado em seu último balanço, deve-se principalmente à crise econômica mundial sem precedentes, que aconteceu de forma abrupta e avassaladora, e à cultura da empresa nessas operações financeiras, a qual já era característica quando da minha entrada na companhia.
8. Após solicitação por escrito, me foi negado verbalmente o acesso ao relatório de auditoria especial preparado pela BDO Trevisan, o qual aparentemente embasou a decisão tomada na assembleia geral.
9. Dessa forma, surpreende-me também o relatório da BDO Trevisan, conforme o que li publicado na grande imprensa, considerar apenas o ano de 2008, ou seja, a história muito recente da companhia..
10. Além disso, é possível perceber, por meio das notícias, que provavelmente foram cometidos erros conceituais no relatório da BTO Trevisan, já que me apontam como culpado pelas perdas da Sadia. Durante toda minha permanência na empresa eu trabalhei enquadrado nos parâmetros de riscos aceitos por ela. É importante lembrar que para eventuais cálculos do relatório serem legítimos deve ser levado em consideração o cenário macroeconômico e os melhores prognósticos disponíveis na data em que as operações foram fechadas e não seu valor final.
11. Sobre as perdas, informo ainda que no momento de minha saída o montante era bem inferior ao divulgado. Desconheço as medidas e decisões tomadas, bem como seus impactos financeiros, subsequente à minha demissão da Sadia.
12. Quanto à minha atuação na companhia, cumpri com rigor a prestação de contas com a Sadia, me reportando diretamente ao presidente do Conselho de Administração, apresentando relatórios mensais e praticando todos os atos que me eram atribuídos.
13. Todas as operações financeiras coordenadas por mim sempre foram registradas, contabilizadas e auditadas por mais de uma vez, conforme era de praxe na Sadia.
14. Diante da crise financeira mundial e da tomada de conhecimento das possíveis perdas que a Sadia poderia sofrer, tomei as providências corretas e cabíveis, avisando imediatamente o Conselho e trabalhando rápida e eficazmente para zerar as operações em questão.
15. Quanto à política de governança corporativa da Sadia, a qual sempre respeitei, parece-me que realmente há problemas de controle interno, já que, meses após minha saída, a companhia decidiu modificar as estruturas de reporte.
16. A meu ver, a decisão de me processar é uma clara tentativa de isentar os demais Administradores da Sadia, que geriram a companhia junto comigo e que compartilharam as mesmas decisões e as consequências positivas delas.
17. Apesar de abatido, estou tranquilo e confiante de que a Justiça será feita e eu serei inocentado das acusações a mim proferidas.