Carro pequeno volta a ganhar mercado 10/05/2009
- Felipe Nóbrega - Folha de S.Paulo
Parado, o smart fortwo espera o sinal verde para seguir numa avenida movimentada de São Paulo. Como se não bastassem olhares curiosos a sua volta, o motorista do automóvel ao lado, talvez incrédulo com as suas dimensões diminutas, indaga: "É de brinquedo, moço?"
Apesar de a maioria o reconhecer, o smart também foi confundido com o Nano, o carrinho indiano de US$ 2.000.
É mesmo difícil imaginar que o fortwo de dois lugares e comprimento de Harley-Davidson possa custar R$ 57,9 mil.
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Mesmo assim, as vendas em abril superaram a expectativa de cem unidades, e o modelo tem fila de espera de um mês.
A Mercedes-Benz, dona da marca, tenta justificar o preço alto com sofisticação, como o controle de estabilidade.
Mas não está aí o encanto desse pequerrucho francês. Tampouco no motor 1.0 turbo de 84 cv (cavalos), que, aliás, acelera como o do Punto 1.8 e consome menos que o do Mille.
A graça do smart é ocupar menos espaço no trânsito e -- claro -- chamar a atenção. Dentro dele, até anônimo vira celebridade e esquece que a suspensão é bem dura.
Para Dimitris Psillakis, diretor de vendas da marca, não existe público específico. "Compra quem quer ser diferente."
A ideia de encolher um automóvel surgiu antes, no pós-Segunda Guerra, quando o mercado exigia carros simples e baratos. Foi a venda de 162.728 Isetta que salvou a BMW da falência.
Uma porta
No Brasil, como era produzido por outra empresa, ganhou o nome de Romi-Isetta. E, apesar de ter inaugurado a indústria automobilística em 1956, não levou o título de pioneiro por ter só uma porta (na dianteira).
Do Isetta ao smart fortwo, lá se vão mais de 50 anos, mas a promessa de os microcarros indicarem o futuro perdura. Agora, porém, carregam a bandeira das causas ambientais.
"Uma forma de minimizar engarrafamentos é substituir carros maiores por menores, mas precisam custar menos", argumenta o designer Anísio Campos, criador de citadinos nacionais como o Mini-Dacon (1982) e o Nick (1988).
Mesmo eficientes, os minicarros para dois nunca decolaram no país.
"Veículos com ao menos quatro lugares têm melhor custo/ benefício", diz Sérgio Casa Nova, coordenador do curso de design da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).
De olho nos menores de 3 m, a Toyota lançou o iQ. Serão 100 mil unidades anuais do modelo japonês. É pouco, considerando que a Ford produz o mesmo com o Ka nacional (3,83 m). Já da fábrica da smart saem 135 mil fortwo por ano.
A BMW planeja lançar uma versão moderna do Isetta em 2012, segundo a revista francesa "L'Auto Journal". Sua projeção indica que o modelo terá, enfim, duas portas laterais.
Medindo apenas 2,3 m, era fácil colocar o Isetta antigo numa vaga apertada. O duro era sair do veículo com a porta dianteira bloqueada pelo carro da frente. A solução era apelar para um truque. Sabe qual?