Sadia e Perdigão fazem campanha na mídia antes de anunciar fusão 16/05/2009
- Marili Ribeiro - o Estado de S.Paulo
A protagonista do anúncio da união entre Sadia e Perdigão, que ontem permanecia emperrada em alguns pontos que os acionistas da Sadia resolveram rediscutir, será a atriz Marieta Severo, que interpreta uma dona de casa de classe média, dona Nenê, na série "A Grande Família", transmitida pela TV Globo.
A contratação da atriz indica que a operação está na reta final, mas os detalhes de última hora atrasaram a assinatura dos contratos, aguardada para ontem pelos próprios negociadores.
Segundo fontes que acompanham a negociação, membros das famílias Fontana e Furlan, da Sadia, resolveram rediscutir a estrutura de venda de seus ativos para a Perdigão, algo que já parecia resolvido.
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"O preço e o que entra na operação já está fechado, mas são detalhes que é preciso resolver. Nada sério, mas toma tempo e não deu para assinar os contratos na sexta", disse ontem uma dessas fontes.
Outra informação que já circula desde quinta-feira, e também é dada como certa por quem participa dos preparativos, é o nome da nova empresa - Brasil Foods. Um nome que não privilegia nenhuma uma das duas assinaturas, Perdigão e Sadia, que devem seguir como marcas independentes no portfólio da nova empresa.
Fora da televisão aberta, Marieta Severo é uma premiada profissional de teatro e cinema, o que lhe confere credibilidade para a tarefa de ser a garota-propaganda do anúncio.
A escolha de Marieta é vista como positiva por ter essa capacidade de falar com diferentes públicos, na opinião de um consultor de marketing que prefere não se identificar.
A estratégia a ser usada para a notícia da fusão não é novidade no meio empresarial. A compra da cervejaria brasileira AmBev pela cervejaria belga Interbrew, que resultou na megacervejaria InBev, em 2004, teve ação semelhante, tendo como garoto-propaganda o também ator global Antonio Fagundes, na época protagonista da série Carga Pesada.
RESULTADOS
O presidente da Perdigão, José Antônio Fay, e o diretor financeiro e de Relações com Investidores, Leonardo Saboya, não quiseram comentar a operação de incorporação da Sadia, ontem, durante teleconferência com analistas para comentar o balanço do primeiro trimestre.
Os executivos disseram que, depois de um primeiro trimestre difícil no mercado externo, com quedas nos preços médios, a Perdigão prevê uma retomada das exportações no segundo semestre.
Segundo Saboya, os preços e volumes começaram a reagir em fevereiro e março. "Não é uma retomada linear em todos os mercados, mas o fundo do poço já foi atingido". O diretor explicou que, do final de 2008 ao início de 2009, a Perdigão foi forçada a conceder descontos para vendas já embarcadas para manter o fluxo de exportações. "Atualmente, o mercado global de proteínas está mais equilibrado", disse.
Ele destacou que os estoques dos mercados consumidores diminuiu, assim como os estoques dos principais exportadores de carnes. "A lição de casa foi feita e os principais países produtores, como Brasil e Estados Unidos, cortaram produção", afirmou. O abate de aves da companhia no primeiro trimestre caiu 15%, para 181,5 milhões de cabeças.
A região mais problemática para a Perdigão atualmente é a Europa, especialmente no segmento de perus. No Oriente Médio, Japão, Hong Kong e Cingapura, a companhia registra recuperação. Na Eurásia, a demanda por carne suína deve ser normalizada em três meses. Saboya ressaltou que a doença influenza A, a gripe suína, teve um efeito "praticamente neutro" nas exportações da empresa até o momento.
AFINADOS
Ao menos nas previsões para a economia, os executivos de Sadia e Perdigão já estão afinados. O diretor de Relações com Investidores da Sadia, Welson Teixeira Junior, afirmou ontem que a companhia também já vê recuperação da demanda externa neste segundo trimestre.
"Identificamos recuperação em diversos mercados, como no Oriente Médio e na Europa, que vive um momento sazonal positivo, em razão do período de férias", disse o diretor da Sadia. No primeiro trimestre, as exportações da Sadia caíram 10,5% em volume e 3,3% em receita. Parte desse comportamento pode ser atribuído a um problema de crédito isolado envolvendo um distribuidor na Arábia Saudita.
Quanto ao mercado doméstico, o diretor comentou que a demanda continua firme no segundo trimestre.