Investimentos da China na América Latina ainda não saíram do papel 18/05/2009
- Fabrícia Peixoto - BBC
Os países da América Latina e Caribe ainda aguardam os bilionários investimentos prometidos pela China nos últimos anos. Diversos compromissos firmados ainda não se concretizaram.
A expectativa é de que agora, preocupada com a crise financeira, a China volte suas atenções ao mercado latino. A região é a segunda maior consumidora de produtos chineses do mundo.
Em visita aos países latinos, em 2004, o presidente chinês Hu Jintao anunciou uma série de "compromissos", que se converteriam em investimentos na região.
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No Brasil, os projetos chegariam a US$ 10 bilhões no prazo de dois anos. Na Argentina, os acordos assinados, segundo os dois governos, tinham o potencial de gerar, em média, US$ 1 bilhão por ano.
Já em Cuba, o principal projeto previa a construção de uma nova fábrica de níquel, no valor de US$ 500 milhões.
Um exemplo de projeto que não se concretizou é o da siderúrgica Baosteel, que há oito anos negocia a construção de uma planta no Brasil, em um negócio avaliado em US$ 5 bilhões.
Nos últimos anos, a prioridade dos investimentos chineses tem sido a África. Em 2006, ano mais recente com dados oficiais, a China investiu US$ 10 milhões no Brasil e US$ 30 milhões em Cuba, enquanto países como Nigéria e Sudão receberam, respectivamente, US$ 67 milhões e US$ 50 milhões.
De acordo com o Itamaraty, o assunto estará na pauta da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo brasileiro pretende mostrar que os investimentos chineses no Brasil estão "abaixo" de seu potencial.
Custo alto
O presidente da Câmara Brasil China, Charles Tang, diz que os chineses "ainda se assustam" com as condições de investimento na região. "O custo é alto e a burocracia não ajuda", diz.
Segundo ele, a Baosteel não investiu até hoje no Brasil em função de uma série de "impedimentos ambientais". "Cada hora é um impedimento que surge. Enquanto isso o Brasil deixa de receber um investimento bilionário", diz.
A professora do departamento de Desenvolvimento da Universidade de Oxford, Xiaolam Fu, diz que os investimentos da China no exterior têm sido "tímidos" de uma forma geral, e não apenas na América Latina.
Em 2007, os chineses investiram US$ 50 bilhões em outros mercados --pouco para um país cujo PIB chega a US$ 4,3 trilhões.
"As condições e custos de produção na China são muito favoráveis. Uma empresa chinesa tem de encontrar condições parecidas para que a produção em outros países valha a pena", diz Xiaolam.
Nova fase
Segundo os analistas, a crise financeira internacional pode mudar esse cenário. Nos últimos meses, a China fechou acordos de financiamento com países da região, com o intuito de estimular o comércio entre os dois lados.
Brasil, Argentina, Venezuela e Equador estão entre os países da região que vêm sendo cortejados com financiamentos chineses.
O governo chinês prometeu colocar a disposição da Argentina um montante de 70 bilhões de yuan (o equivalente US$ 10 bilhões), uma espécie de crédito que facilitará o comércio entre os dois países.
A China já havia anunciado a ampliação de financiamentos à Venezuela e ao Equador, nos valores de US$ 6 bilhões e US$ 1 bilhão, respectivamente.
Já o Brasil estuda um empréstimo de US$ 10 bilhões junto aos chineses, para o caixa da Petrobras. O acordo deverá ser anunciado durante a visita do presidente Lula a Pequim.
"Chega um momento em que não dá mais para explorar apenas o comércio. A China parece estar aprendendo que a relação econômica deve ir além", diz Maurício Moreira, economista-sênior do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
A professora de Oxford concorda, mas segundo ela esse é um processo "gradual". "O comércio já estava consolidado. Entramos agora na fase dos empréstimos. A expectativa é de que depois venham os investimentos", diz.