As aves estão na rotina diária da família Rekowsky, do distrito de Novo Sobradinho, em Toledo, no oeste do Paraná, a 552 km de Curitiba. A atividade de Edemar, 48, da mulher, Maria Marlene, 49, e dos filhos Jeferson, 26, e Gustavo, 19, é cuidar de pintinhos de um dia até eles completarem 45 dias e se tornarem os frangos que o brasileiro está acostumado comprar, já embalados, nos supermercados.
E os cuidados não são poucos. Cabe aos Rekowsky manterem a temperatura dos barracões de sua granja, onde são alojadas as aves no chamado conforto térmico (em torno de 21C), observar possíveis incidências de doenças, acompanhar a conversão alimentar (relação entre ração gasta e engorda das aves).
Essas são as principais atividades de um produtor integrado, o elo mais frágil da cadeia produtiva de aves no país. Integrados à Sadia, os Rekowsky possuem quatro barracões com capacidade para alojar 60 mil aves no total. Há um ano, no auge das exportações de frango, a atividade era rentável.
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Neste ano, atingidos pela crise mundial, a família se mantém na atividade devido aos investimentos feitos. Possui R$ 600 mil em barracões e equipamentos na granja. Mas teme diminuir seu poder de barganha com a Brasil Foods, da incorporação da Sadia pela Perdigão, o que pode piorar ainda mais a rentabilidade da família.
"Hoje, para ficar ruim, tem de melhorar muito. As empresas, na crise, enxugam para sobreviver, mas o produtor paga a conta", diz Edemar.
O produtor afirma que, com a crise, a Sadia diminuiu o número de aves entregues em cada lote (de 15 mil para 13,5 mil nos seus barracões) e ainda alargou o espaço do vazio sanitário, que é um período de tempo em que os barracões ficam vazios --após um lote ser entregue à indústria-- e são preparados para receber nova leva de aves.
O espaço sanitário na granja dos Rekowsky era de 12 dias há um ano. Hoje, chega a 28 dias. No final do ano, em vez de entregar seis lotes à Sadia, serão entregues apenas quatro. Isso reflete na perda de renda e dificuldades para o produtor.
Vazio sanitário
Outro pequeno integrado, Eloi Stertz, 48, também de Toledo, engordava 15 mil frangos para a Sadia em 2008. Neste ano, está alojando 13,5 mil.
A maior reclamação de Stertz não é com a diminuição do número de aves, mas com o vazio sanitário que durou 32 dias em vez dos tradicionais 12 dias. "Se com a Sadia já está difícil, imagina com essa nova empresa, que é muito maior. Será muito mais difícil negociar com ela."
Ainda no distrito de Novo Sobradinho, um outro produtor colocou, há duas semanas, sua propriedade à venda. Ele investiu em barracões e perdeu um lote com salmonela (doença grave em aves), atrasou os financiamentos e se inviabilizou na atividade.
Para combater situações como essa, em 2007, produtores de aves criaram a Aaviopar (Associação dos Avicultores do Oeste do Paraná). O presidente da entidade, Luiz Ari Bernartt, 60, se diz preocupado com o futuro dos integrados.
Segundo ele, o preço médio pago pela indústria por ave pronta para o abate é de R$ 0,38, para um custo médio de produção de R$ 0,36 para o integrado. "É uma situação de risco muito grande. Qualquer problema no ciclo da ave se transforma em prejuízo para o produtor", afirma.